terça-feira, 4 de setembro de 2018

É DE UM PRESIDENTE ASSIM...

...QUE NOS PRECISAMOS!


“É cada vez mais difícil ser-se Presidente da República”, diz Marcelo aos alunos do PSD


Em resposta aos alunos da Universidade de Verão do PSD, o Presidente da República pediu aos portugueses que votem nas legislativas de 2019 a pensar numa solução "que sirva Portugal".


A regra era simples: os alunos da Universidade de Verão do PSD faziam perguntas, Marcelo Rebelo de Sousa escolhia duas para responder. Até à hora de almoço desta terça-feira, os alunos fizeram 28. E o Presidente da República decidiu responder a todas. Assim, o que seriam duas respostas, tornou-se numa grande entrevista ao chefe de Estado feita por jovens. E, claro, com muita política. À pergunta de um aluno sobre se a solução que levou António Costa ao Governo tinha “empobrecido a democracia” por forçar a existência de uma maioria no Parlamento, o Presidente da República afirmou que “o panorama político está em mudança constante” e acrescentou que é precisamente “por isso que é cada vez mais difícil ser-se Governo e fazer-se oposição. E, porventura, ser-se Presidente da República“.
Um outro aluno também perguntou a Marcelo Rebelo de Sousa qual era a expectativa para os resultados das legislativas de 2019, depois de uma “solução governativa inédita”, ao que o Presidente respondeu que “o povo é quem mais ordena” e que espera que “a abstenção baixe e que os portugueses escolham a pensar numa solução que sirva Portugal num momento muito complexo para a Europa e para o Mundo”.
Naquilo que foi durante muito tempo a posição política do PSD de Passos após a formação da “geringonça”, uma das alunas, questionou o Presidente da República sobre o facto de “não ter sido respeitada a vontade do povo” nas últimas legislativas. Marcelo contrariou a afirmação, mas admitiu que “uma nova prática constitucional nasceu” devido a “uma nova fórmula do Governo”. Ou seja: deixou de haver prática constitucional de que quem tem mais votos, governa. Marcelo deixa saber que admite as duas na hora de dar posse a um novo Governo: “Hoje, sabe-se que há duas possíveis leituras constitucionais — uma, que privilegia o debate sobre a escolha do primeiro-ministro, outra que privilegia a existência de maioria parlamentar de apoio“. Não diz, porém, qual prefere.
Uma outra aluna questionou Marcelo sobre o facto de ter de lidar com um Governo “teoricamente” ideologicamente afastado das suas posições políticas. Marcelo não negou estar distante ideologicamente das esquerdas, respondendo que “o Presidente da República deve saber coexistir com diversas soluções governativas, sempre a pensar no melhor para Portugal, tal como o entende”.
Sobre o surgimento de novos partidos — numa altura em que tanto se fala do partido que Santana Lopes está a formar, a Aliança — Marcelo respondeu a uma questão sobre se era sustentável para a democracia aparecerem novas forças políticas. O Presidente explicou que o aparecimento de novos partidos “é um desafio complexo, para os que surgem e para os que já existiam”. No entanto, nega que isso seja um problema para o país, já que “a democracia faz-se dessa mutabilidade constante. E ninguém pode acreditar que a mudança é travável com o mero desejo de que ela não ocorra.”

“Sou como sou”

Os alunos quiseram também saber mais sobre os afetos de Marcelo Rebelo de Sousa. Um deles questionou Marcelo sobre se não tinha uma tensão permanente entre o lado popular e o lado institucional de Presidente. Marcelo foi taxativo a responder: “Não”. E explicou: “Sou como sou. Professor de Direito e institucionalista. E, ao mesmo tempo, próximo das pessoas, como sempre fui, enquanto professor, militante, em IPSS e Misericórdias, e, depois, enquanto interveniente na comunicação social. Tento conjugar as duas dimensões do exercício do cargo”.
Outro aluno foi ligeiramente mais contundente e perguntou a Marcelo se não era tempo de mais ação e de menos afetos. Marcelo contornou ligeiramente a pergunta, dizendo que “há muitas outras missões tão ou mais importantes do que a de Presidente da República” e “todas elas exigindo racionalidade e afeto. E, claro, ação”. Mas atirou: “Separar o que deve estar junto é artificial“.

Fraude em Pedrógão “é muito preocupante” e pede resposta “cabal e célere” do MP

Uma das alunas da Universidade de Verão questionou Marcelo sobre as ilegalidades denunciadas nas reportagens da TVI sobre a forma como estavam a ser gastos os fundos para a recuperação da zona de Pedrógão Grande. Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que a situação “é muito preocupante” e que “importa que Ministério Público e Inspeção-Geral das Finanças — esta quanto ao Revita, se for caso disso – cumpram a sua missão de modo cabal e célere. Tenho a certeza de que assim será, tal a relevância nacional e democrática da matéria“.
Outro aluno atentou para a discriminação que tem existido entre concelhos que foram afetados pelos incêndios, já que uns recebem apoios e outros continuam à espera. O Presidente da República disse que espera que “não haja qualquer discriminação, embora entenda que a gravidade tenha sido maior numas áreas do que noutras”. E defendeu: “Justiça absoluta e relativa é o que se deve esperar, também nesta questão”.
Sobre a questão da Venezuela, um aluno perguntou a Marcelo se a questão venezuelana não era “um caso de refugiados de que ninguém quer falar”. Marcelo rebateu dizendo que “todos os dias se fala desses nossos compatriotas. E bem. Embora sempre com o cuidado de, com as melhores das intenções, os não expormos a riscos ou represálias, que nenhum de nós quer que possam acrescer às razões das suas legítimas preocupações”. Recorde-se que o Presidente tinha pedido aos partidos para não “berrarem” sobre a questão venezuelana e para não fazerem política com a grave situação que os portugueses enfrentam naquele país.
Quanto à necessidade do Governo “levantar a voz”, Marcelo explica a um aluno que é “precisamente, por haver centenas de milhares de portugueses e luso-venezuelanos, que [o Governo] tem de agir com atenção para os preservar e defender sempre.”
No rol de perguntas que se tornou numa entrevista longa ao Presidente, o chefe de Estado pôde ainda responder a uma questão sobre a privatização da CP. Marcelo defende que “há problemas urgentes que não podem esperar por um debate eleitoral, talvez inevitável para o ano, e esses problemas não comportam, portanto, agora, acenar com soluções como imediatas, sabendo que o não podem ser.” Ou seja: Marcelo é contra a privatização. Pelo menos para já.
Além de Marcelo Rebelo de Sousa, os alunos vão fazer questões nos próximos dias ao ex-ministro socialista António Vitorino, ao antigo presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, à bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, e à jornalista Manuela Moura Guedes.
Marcelo Rebelo de Sousa é o “professor” que mais vezes participou como orador ou conferencista na Universidade de Verão do PSD, tendo participado nove vezes neste evento: em 2004, 2005, 2006, 2007, 2009, 2010, 2012, 2013 e 2014. Em 2015, começou a preparar a campanha para as Presidenciais e não voltou a participar desde que está em Belém. Em 2016, ainda apareceu num vídeo de homenagem ao reitor Carlos Coelho. Agora, voltou a participar através das perguntas à distância. Resta saber que perguntas serão feitas e a quais vai optar por responder.

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