Lamento o que aconteceu com Bolsonaro em Juiz de Fora e desejo sua breve recuperação física. Espero que as ideias de Bolsonaro sejam derrotadas nas urnas, não na faca. (Para a sorte do candidato, o agressor não portava uma arma de fogo. O estatuto do desarmamento pode ter salvado sua vida.)
Agora algumas observações: todos os presidenciáveis (inclusive Boulos, Haddad, Ciro e Marina, do campo da esquerda e centro-esquerda) foram céleres em manifestar repúdio ao ato de violência contra o deputado e candidato à presidência pelo PSL. Em questão de poucos minutos todos manifestaram solidariedade àquele de quem são rivais na esfera política. "Repudio a violência como linguagem politica, solidarizo-me com meu opositor e exijo que as autoridades identifiquem e punam o ou os responsáveis por esta barbárie", disse Ciro. "A violência não se justifica, não pode tomar o lugar do debate político", comentou Boulos. "Desejo pronto restabelecimento a Jair Bolsonaro", comentou Haddad. "A violência contra o candidato Jair Bolsonaro é inadmissível e configura um duplo atentado: contra sua integridade física e contra a democracia", disse Marina Silva.
Isso me lembra de um outro atentado político de nossa história recente. Um muito mais traumático e tristemente simbólico. Na ocasião, uma vereadora negra de origem humilde foi brutalmente assassinada a tiros em uma covarde emboscada. No mesmo ataque, um pai de família também perdeu a vida. Houve comoção no Brasil inteiro. No mundo inteiro. Todos os pré-candidatos à presidência do país prestaram condolências com um pesar honesto diante da tragédia. Todos menos um: Jair Bolsonaro. O candidato que levanta a bandeira da segurança pública não falou nada sobre uma gravíssima execução ocorrida no Rio de Janeiro, seu celeiro eleitoral. Como escreveu o amigo Jefferson Basílio, esta é a diferença entre a defesa dos direitos humanos e a barbárie.
Aquele foi um eloquente silêncio. Foi uma demostração de falta de empatia. Foi um ato nada fraterno vindo de um candidato que usa o nome de Deus em todos os seus programas eleitorais. Somente uma semana depois
Atos violentos são repudiáveis em todas as instâncias. A retórica violenta também. No dia 1º de setembro, cinco dias antes de ser esfaqueado, Bolsonaro participou de um comício no Acre onde disse "vamos fuzilar a petralhada aqui". Uma postura nada republicana (para dizer o mínimo do mínimo) vinda de quem almeja chegar ao cargo máximo do Executivo.
Hoje há quem duvide que o ataque sofrido por Bolsonaro não passe de uma farsa. Muita coisa ainda precisa ser esclarecida, mas pessoalmente não creio que tenha se tratado de uma fraude. Entretanto, se os seguidores do ex-capitão estiverem irritados com quem duvida da natureza do atentado, lembrem-se de como o candidato do PSL reagiu quando a caravana do ex-presidente Lula foi atingida por tiros e por pouco não vimos uma tragédia ainda maior. "Foram eles que deram (os tiros)", comentou Bolsonaro na ocasião, em mais uma de suas irresponsáveis bravatas.
Mais uma vez, repito: Quero Bolsonaro recuperado e vivo. Vivo para ver o Brasil rejeitar todo o atraso que ele representa nas eleições de outubro.
Procurador e Professor de Direito da UFBA.
Concordo plenamente com as palavras do Prof. Deraldo Dias de Moraes Neto. Email:neydeamoura@hotmail.com
ResponderExcluir