Durante a
gestão do prefeito João Henrique, hoje varrido da cena política, o Porto da
Barra viveu um de seus piores momentos com a substituição das pedras
portuguesas por placas de concreto, sob o olhar indiferente do IPHAN.
A atual gestão
municipal está aqui para provar que a história se repete, sim, e a leitura
errada do patrimônio da cidade também. Com uma cegueira entusiasta, despoja as
tradicionais calçadas do Comércio e até amplos espaços em excelentes condições
estão sendo quebrados, como é o caso da Praça Marechal Deodoro, antigo Cais de
Ouro, que está sofrendo – termo bem adequado – inúteis obras de “modernização”
cujo único resultado será, além de mais impermeabilização da área, desperdiçar o
dinheiro dos contribuintes.

“Em Novembro
de 1986, a Câmara Municipal de Lisboa preocupada com a perspectiva de perder a
arte de saber calcetar, decide criar a Escola de Calceteiros de Lisboa. A arte
de calcetar “ao quadrado”, o “desdobrar da pedra” e o “malhetar” são expressões
que a Escola de Calceteiros recupera numa profissão genuinamente portuguesa e
intimamente ligada ao nosso patrimônio cultural.”.
Resisto à vontade de
continuar copiando o texto que ilustra o empenho dos portugueses em manter sua
identidade em absoluta oposição a políticos tupiniquins cuja maior ambição é
plagiar o pior do american way of life.
Eis uma das mais óbvias razões da decadência do turismo e falência de nossa
rede hoteleira: o abandono de nosso patrimônio cultural. Ninguém vem à Bahia para um medíocre
faz-de-conta da Flórida.
Quando
começaram a esburacar o calçadão cuidadosamente mantido, com pedras portuguesas
e árvores de pau Brasil, do Trapiche Barnabé, expressei meu descontentamento
nas redes sociais e ameacei entrar com processo formal no Ministério Público. Fui poupado desta empreitada por um oportuno
recuo da prefeitura que agora se compromete a recolocar a calçada original e
respeitar o trabalho de recuperação do belíssimo imóvel, cuja parte mais antiga
data do século XVIII.
Devemos evidenciar que neste caso com em tantos outros –
inclusive do escandaloso roubo na catedral – o IPHAN, cujos funcionários são
pagos por nós, brilhou, mais uma vez, por sua mais total omissão. Esta instituição já foi essencial para a
preservação do patrimônio. É hoje mais um obsoleto cabide de emprego, começando
por seus superintendentes. Um título tão pomposo quanto oco.
Dimitri Ganzelevitch
sábado 17 nov 2018
jornal A Tarde
Nenhum comentário:
Postar um comentário