Até quando a burguesia conservadora e os oportunistas da fé vão continuar negando a realidade e finalmente admitir que os costumes evoluíram?
No século
XIX alguns poetas, artistas e
aristocratas, deitados em sofás profundos, entregues a oníricos devaneios,
fumavam o ópio trazido da China pelos ingleses. Alguns produziram obras-primas.
Hoje, o
amplo leque de drogas, estimulantes ou perturbadoras, à sua disposição, é um
fenômeno vertical. Do flanelinha à influenciadora, do advogado ao ministro, são
milhões no mundo ocidental os que fumam ou cheiram. Quando não se injetam.
A obstinada
recusa em legalizar as drogas, todas elas, leva o País inteiro a enfrentar um
quotidiano de medo e perigo. Ninguém sai de casa ou do trabalho com a certeza de
que não será mais uma vítima de tiro perdido ou sequestro relâmpago.
Vivi minha
infância e adolescência em Marrocos. Corriqueira era a visão, nos jardins e nos
cafés, de estudantes, anciões ou até policiais sacarem do bolso seu pequeno
cachimbo de barro e acender calmamente uma pinçada de hashish. Quem podia então
imaginar que este tão banal hábito seria um dia proibido, perseguido e punido?
Ninguém
duvide. O uso de drogas não é uma moda passageira. Veio para ficar. E, coibido,
irá cada dia mais corroendo e gangrenando a sociedade cega, surda e muda. Quem
assiste aos noticiários da televisão cansou de ver políticos e empresários
acusados de envolvimento com o narcotráfico.
O lucro
justifica todos os riscos quando se sabe, por exemplo, que o Anderson Manzini
dito O Gordo, ex-inquilino da advogada Deolane Bezerra e competentíssimo
administrador do PCC, movimentou, desde a penitenciaria Presidente Venceslau,
em cinco anos a bagatela de R$8 bilhões! Quando foi descoberto o helicóptero
pertencendo ao deputado Gustavo Perrella abarrotado com 450 kgs de pura
cocaína... a culpa foi do piloto, e abafou-se o assunto. No avião presidencial
de Bolsonaro viajaram 39 – porque não 40? - quilos da branquinha, mas no Brasil
até hoje ninguém ouviu falar de processo nenhum. E de castigo, muito menos. Já
o juiz paulista Gerdinaldo Quichava Costa achou pouco o réu confesso
transportar 23 quilos de pó no seu carro especialmente adaptado, e liberou o
traficante. Tanta gentileza teria algum símbolo
religioso? Já nas ruelas e becos das favelas, jovens negros são mortos pelo
porte de dez gramas de maconha, e até por simples suspeita. Isso quando não é a
própria polícia, sem câmera corporal, colocando uns pacotinhos nos bolsos dos
mortos.
É de
conhecimento geral que muitos são os políticos que se drogam. Problemas deles.
Mas como se abastecem? Só com a solícita ajudinha do narcotraficante. Que um
dia cobrará o justo preço da complacência. Afinal, uma mão lava a outra.
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