Como virou
moda atravessar a cidade inteira para vir bater perna no meu bairro, eu não
deveria mais precisar viajar para longe na hora do rango. Mas a verdade é que a
bela vista sobre a baia a partir dos estabelecimentos recém-abertos não garante
que, no meu prato, aquilo será uma festa.
Desde rabada
nouvelle cuisine – duas vértebras tamanho médio com duas colheres de pirão e
três folhas de alface por 90 paus – até a massa meia crua (al dente é outra
coisa) a preço paulista, confesso que o leque de escolha gastronômica não
consegue abanar minha gula.
Mas não
desanimemos. Esperança de gourmand é a última que morre e, se você seguir
minhas sugestões, ainda poderá passar um ótimo fim de semana no xodó do centro
histórico de Salvador, sem cair na gentrificação.
Reserve uma
suíte na Pousada do Boqueirão com vista para o jardim explodindo de flores e a
sempre mutante baía de todos os orixás. Depois, o programa é passear desde a
Casa do Benin (se estiver aberta) até o Forte da Capoeira no largo de Santo
Antônio, com várias academias. Galerias, sebos e boutiques não faltam. Na Casa
Azul, encontrará os irresistíveis trabalhos da ceramista Carol Moreno.
Chegando a
hora do almoço, uma dica. Descobri há poucas semanas o Café e Cana, frente à
entrada do plano inclinado do Pilar. Cardápio bem nordestino, discretamente
temperado e servido com generosidade a preços mais que corretos. Sem falar do
profissionalismo e gentileza do serviço. Virei fã do lugar. De tarde, após uma
boa sesta, que tal uma visita ao rico museu da igreja de Nossa-Senhora do
Carmo?
De noite,
hesito sempre entre duas propostas. O excelentíssimo pastel do Edimilson
(cardápio também sedutor) tem a vantagem de três mesas na calçada, o que torna
a experiência um tanto parisiense. Ou, mais adiante, Ziggy, o inferninho do
Gustavo, ex-jornalista, cujas pizzas rivalizam sem problema com as melhores de
outras bandas. A pizza de cogumelos é minha favorita.
Domingo
começa com a festança do café da manhã da Fernanda, na mesma pousada do
Boqueirão. Tente bater um papo com a viajada patroa, filha de diplomata. Um
poço de cultura e sensibilidade. Tem missa na igreja do largo, e no largo tem
bancos para você se espreguiçar olhando as crianças brincarem, como se
estivesse num povoado do interior.
Quando
baterem os primeiros sinais de fome, não espere. Vá correndo até o D´Venetta, o
melhor dos melhores. Mas atenção! Só abre sábado e domingo. Vá cedo porque as
poucas mesas serão ocupadas rapidinho. Prefiro o lado da encosta, com seu
jardim suspenso. A Vila d´Este que se cuide! Comece por uma batida de coco e
mergulhe nas moquecas quando até o leite de coco é extraído na hora. Aqui, tudo
é fresco e saboroso. Mereceria uma estrela do Michelin.
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