quinta-feira, 11 de setembro de 2025

FUX E OS DESODORANTES

 

Julio Benchimol Pinto

Entre desodorantes e decretos golpistas: a ópera bufa de Luiz Fux
O destino às vezes tem um senso de humor cruel.
De um lado, um homem miserável que furtou cinco desodorantes de R$ 13,99 - talvez tentando espantar não o cheiro, mas a própria humilhação da miséria. A Defensoria pediu a aplicação do princípio da insignificância. Mas Luiz Fux, guardião implacável da ordem, negou. A caneta de Fux não perdoa a axila pobre.
De outro lado, um ex-presidente que conspirou contra a democracia, insuflou quartéis, ensaiou um Reichstag tupiniquim e ainda tenta posar de vítima. E eis que o mesmo Fux surge como advogado de defesa togado, acolhendo preliminares como quem distribui abraços no salão dos golpistas.
Tragédia? Comédia? As duas. Porque o paradoxo é grotesco: o homem dos desodorantes não merece clemência, mas os conspiradores do golpe merecem complacência.
Shakespeare escreveria uma tragédia. Kafka, um processo. Nós, brasileiros, escrevemos este post: no tribunal de Fux, furtar cinco desodorantes é mais grave do que atentar contra a democracia.
E que se registre na História: enquanto o ladrão de desodorante apodrece no cárcere, o ladrão de República encontra guarida nas preliminares.

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