Por Camila Goretti
Acredito que a história de um material tão importante como o concreto, principalmente no que se refere a construção civil, deve ser conhecida pelos profissionais da área, mesmo que minimamente. Afinal, o concreto é o material construtivo de maior utilização em todo mundo. Estima-se que anualmente são consumidas 11 bilhões de toneladas de concreto, o que corresponde a um consumo médio de 1,9 tonelada de concreto para cada habitante por ano. Esse valor é menor apenas do que o consumo de água! Hoje em dia é difícil imaginar a realização de grandes obras sem a utilização de estruturas de concreto armado. Ele está presente em quase todo tipo de construção, como em nossas casas de alvenaria, em rodovias, em pontes, nos edifícios mais altos do mundo, em torres de resfriamento, em usinas hidrelétricas e nucleares, em obras de saneamento, até em plataformas de extração petrolífera móveis… Mas o emprego deste material é relativamente recente e sua primeira aplicação, ao contrário do que podemos pensar não foi na construção civil.
Para quem não sabe, o concreto armado é aquele que possui em seu interior armações feitas com barras de aço. Estas armações são necessárias para atender à deficiência do concreto em resistir a esforços de tração (seu forte é a resistência à compressão) e são indispensáveis na execução de peças como vigas e lajes, por exemplo.
Atribui-se a descoberta do concreto armado a Joseph- Louis Lambot, um agricultor francês, que em 1849 realizou a construção da primeira estrutura de concreto armado: um barco!
Ele testou o barco em sua propriedade agrícola e realizou sua patente 1855, o mesmo ano em que foi apresentado na Feira Mundial de Paris (o protótipo original é preservado no Museu de Brignoles, França).
Observa-se no entanto que na verdade o barco foi construído utilizando argamassa armada.
O projeto não teve grande repercussão, mas chamou a atenção de Joseph Monier, que vislumbrou a possibilidade de substituir os vasos de plantas ornamentais que até então produzia em madeira ou cerâmica, produtos que apodreciam ou quebravam com muita facilidade. Com o sucesso obtido, iniciou a produção de vários artefatos e estruturas de concreto armado, registrando várias patentes de cimento armados com ferro: de vasos de cimento para horticultura e jardinagem (1867), de tubos e tanques (1868), de painéis decorativos para fachadas de edifícios (1869), de reservatórios de água (1872), de construção de pontes e passarelas (1873 e 1875) e de vigas de concreto armado (1878).
A primeira ponte de concreto armado (que ainda existe!) foi construída por Monier em 1875, no castelo Chazelet. A grande contribuição de Monier foi, mesmo que de forma empírica e intuitiva, avaliar as características dos materiais para combiná-los de forma adequada. Monier percebeu que o concreto era facilmente obtido e moldado e tinha considerável resistência à compressão e ao esmagamento, porém apresentava deficiências em relação ao cisalhamento e à tração. Por outro lado o aço era extremamente resistente à tração e era facilmente encontrado em formas simples como barras longas.
Em 1886, o engenheiro alemão Gustav Adolf Wayss (1851-1917) comprou as patentes de Monier para desenvolvê-las. Ele conduziu suas pesquisas para o uso do concreto armado como material de construção em sua empresa, a Wayss & Freytag. A firma Wayss & Freytag realizou, durante 20 anos, muitos ensaios para eliminar algumas dúvidas a respeito do novo material como: a umidade do concreto poderia causar a corrosão das barras de aço? Haveria aderência suficiente entre aço e concreto? Como seria tratada a diferença de deformação do concreto e do aço durante uma variação de temperatura?
Desde então vários estudos foram realizados até que a desconfiança em relação ao material fosse superada. Hoje sabe-se que a alcalinidade do cimento hidratado protege o aço contra a corrosão, que a aderência do aço e do concreto é boa ( melhor ainda nas barras com nervuras) e que o concreto e o aço têm o mesmo coeficiente de dilatação (e de contração) térmica. Em 1902 foi erguido o primeiro prédio comercial de grande altura (64 metros), o Ingalls Building em Ohio, Estados Unidos. A construção gerou polêmica na época, devido aos comentários de que o edifício poderia não resistir às ações do vento e à retração do concreto.
Fontes: Ibracon, História do concreto
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