São múltiplas perspectivas que se interligam. Primeiro, é importante relacionar o que vivemos com o ataque às democracias liberais que ocorre em várias partes do mundo. No Brasil, o bolsonarismo articula-se sob essa mesma agenda extremista de direita, de apologia à violência, de enaltecimento ao militarismo, ao autoritarismo, de propagação do ódio racista, sexista e homofóbico, de discursos reacionários articulados por um moralismo de direita que reafirma e naturaliza hierarquias.
Compartilho das visões que relacionam a realidade atual à sequência de acontecimentos do período 2014-2016 que culminaram com o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff. Desde lá tem ocorrido uma brutal destruição do Estado, o que atinge diretamente mulheres, população negra, indígena e LGBT.
É o que diz Denise Mantovani – nossa entrevistada desta edição 245 –, ela é pós-doutora em estudos feministas interseccionais, é doutora em Ciência Política pela Universidade de Brasília. Como pesquisadora, participa da Rede de Pesquisas em Feminismos e Política, que reúne professoras e pesquisadoras de diversas universidades e ativistas de organizações feministas do Brasil, integra a Marcha Mundial de Mulheres e atua como pesquisadora-colaboradora do Núcleo de Pesquisa de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Para ela é fundamental a compreensão de que as raízes racistas e patriarcais ampliam as desigualdades e as violências contra as mulheres, sejam elas brancas, negras, indígenas, migrantes, mulheres com deficiência, mulheres do campo, das florestas, ricas e pobres, criando sistemas de opressão que interligam racismo, sexismo e classe social.
No meio disso, nossa reportagem trouxe à debate que, apesar das estatísticas oficiais da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP/RS) indicarem uma queda de 45% no número de feminicídios em maio no estado, a violência doméstica segue assombrando a população feminina gaúcha, especialmente na pandemia do novo coronavírus. Comparando os registros oficiais dos cinco primeiros meses de 2020 com igual período do ano passado, os assassinatos de mulheres motivados por questões de gênero tiveram um aumento de 34,4% no Rio Grande do Sul desde janeiro – 11 vidas perdidas a mais que em 2019, no mesmo período. Em outras palavras, há uma epidemia de violência doméstica dentro da pandemia. Se isso não bastasse, há uma maior sofisticação da violência no que tange à premeditação e execução.
Outra face desse sistema opressor é que, descontroladas e cada vez mais violentas, as PMs de todo o país recrudesceram seu histórico de abuso, principalmente contra populações mais vulneráveis, e bateram recordes de agressão mesmo durante a quarentena provocada pelo novo coronavírus. No Rio Grande do Sul, caso que provocou a morte da costureira Dorildes Laurindo chocou pela brutalidade extrema. Em matéria exclusiva, trazemos o debate do racismo arraigado nas corporações policiais.
E ainda: Verissimo, Marcos Rolim, Weissheimer, Santiago, Fraga, Edgar Vasques e Rafael Corrêa e muito mais.
Boa Leitura!
EXTRA CLASSE | Nº 245 | JULHO DE 2020
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