PINACOTECA DE SÃO PAULO APRESENTA MAIOR EXPOSIÇÃO PANORÂMICA JÁ REALIZADA SOBRE MARTA MINUJÍN
A Pinacoteca de São Paulo, museu da
Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo,
apresenta Marta Minujín: Ao Vivo, primeira
mostra panorâmica no Brasil de uma das artistas latino-americanas mais
relevantes da sua geração. A exposição tem curadoria de Ana Maria Maia e ocupa
as sete salas do primeiro andar da Pinacoteca Luz, tendo como fio condutor a
contribuição da artista para uma vanguarda que pensa a América Latina em termos
micro e macropolíticos.
A mostra articula mais de cem obras de
1963 até o presente, reapresentando o icônico El batacazo, criado
no contexto do Instituto Torcuato Di Tella em 1965, além de trabalhos
como Galeria Blanda [Galeria Mole] (1973) e La caída de los mitos universales [A queda dos
mitos universais] (1978-). Um inflável recebe o público nos primeiros dias da
exposição no estacionamento da Pina Luz. A Escultura de los deseos [Escultura
dos desejos] (2022) tem 17 metros de altura e foi um grande sucesso no
Lollapalooza Argentino.
“A exposição celebra a potência com que toda essa trajetória não só
espelha mas também intensifica as formas de vida. ‘Ao vivo’ é uma expressão que
sinaliza vivacidade, presença de corpo, e de maneira ainda mais direta, denota
um recurso de comunicação urgente no vocabulário da mídia de massa, plataforma
discursiva e tecnológica que sempre atraiu a artista. Seja nas transmissões de
rádio e TV na década de 1960 ou em seu canal de Instagram hoje, Marta cria arte
como um pretexto para ela própria e para todas as pessoas poderem expressar-se
com energia e liberdade”, conta a curadora.
Marta Minujín em seu
estúdio com elementos da instalação El Batacazo, 2023 | FOTO: Sofia Ungar
DOS COLCHÕES AOS MONUMENTOS
Marta Minujín: Ao Vivo passa por
momentos cruciais da carreira da artista portenha, ainda que não siga uma linha
cronológica. A exposição começa pelo conjunto de colchões, que inaugura seu
statement criativo nos anos 1960, no âmbito do novo realismo. Retorcidos e
pintados em tons vibrantes, o trabalho com colchões é resultado do interesse de
Minujín de aproximar a arte das dinâmicas da vida, se apropriando de materiais
industriais. O público pode percorrer a galeria de tramas e colhões
multicoloridos, com documentação de La chambre d´amour [O
quarto do amor] (1963) e obras como Eróticos en technicolor [Eróticos
em technicolor] (1964) ou Freaking on fluo [Pirando
no fluorescente] (2010), além de visitar a Galeria Blanda [Galeria
Mole] – instalação de 1973, feita com 200 colchões, recriada para a mostra da
Pinacoteca. Formando um “cubo branco”, a antigaleria convida as pessoas
visitantes a descansar ou brincar.
Na terceira sala da exposição, a
instalação histórica da artista, El Batacazo, foi
também recriada especialmente para a Pinacoteca, 58 anos depois da apresentação
no Instituto Di Tella de Buenos Aires, em 1965. Em consonância com um espírito
de tempo de uma geração imersa no fenômeno de uma midiatização crescente, a
partir das leituras de Marshall McLuhan, a artista mobilizaria estratégias
participativas para se posicionar perante a indústria cultural. À época, quatro
tipos de ícones midiáticos conduziam o visitante pela instalação, que passava
por jogadores de rúgbi, subia escadas para encontrar playboys e cosmonautas, e
descia um escorregador para cair no rosto da atriz italiana Virna Lisi. Na
Pinacoteca, os jogadores são agora de futebol do Brasil e da Argentina.
A pesquisa sobre o fenômeno social da
comunicação e seu potencial disseminador resultou em diversos trabalhos, cuja
documentação se concentra na quarta sala expositiva, em obras como Simultaneidad en simultaneidad [Simultaneidade em
simultaneidade] (1966) e Leyendo las noticias en el Río
da Plata [Lendo notícias no rio da Prata] (1965). No contexto
político da década de 1970, a proliferação de ditaduras militares pela América
Latina levou a práticas artísticas voltadas para a conscientização de uma
realidade sociopolítica e para um projeto de integração entre os países da
região. O trabalho mais emblemático da artista nesse sentido foi Comunicando con tierra (1976),
remontado para esta exposição.
A quinta sala da mostra se volta para
trabalhos que usam frutas e vegetais nativos para representar recursos
definidores de uma identidade nacional, como a fotoperformance El pago de la deuda externa argentina con maíz [O
pagamento da dívida externa com milho] (1985) e Arte
agrícola en acción [Arte agrícola em ação] (1978-1979). Outro
caminho que Minujín adotou para intervir no imaginário político nacional foi a
atuação no espaço público: para a Bienal Latino-Americana de São Paulo, em
1978, a artista levou a obra El obelisco acostado [O
obelisco tombado], emulando a viagem do famoso monumento da praça da República,
em Buenos Aires, para o pavilhão da Bienal, “transferindo o mito de um país ao
outro”. Agora, o obelisco argentino, recostado e reconfigurado, ocupa a sexta
sala expositiva da Pina Luz. A instalação antecipava características do que
viria a ser a série La caída de los mitos
universales [A caída dos mitos universais], que compreende
trabalhos como El obelisco de pan Dulce [O
obelisco de pão doce] (1979) e El Partenón de libros [O paternon de livros] (1983), documentados na
galeria.
A mostra termina com uma das
videoinstalações mais recentes da artista, Implosión! [Implosão!]
(2021). A nova versão da obra promove a imersão em um cubo musical
multicolorido. O projeto parte da animação de fotografias de detalhes de um
colchão histórico e reflete a percepção da artista de que a contemporaneidade é
como uma bateria de estímulos sensoriais. A circularidade da obra permite
vislumbrar os sessenta anos de carreira de Marta Minujín, em toda a sua
persistência e repertório.
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