sábado, 3 de novembro de 2018

UM ESCÂNDALO (MAL) ABAFADO


Eram diamantes, sim!

Publicado em 2000 pela Bustamante Editores, com apresentação do então arcebispo primaz do Brasil, dom Geraldo Majella Agnello, e textos assinados por alguns dos mais prestigiosos pesquisadores em história da arte do país, entre eles a museóloga Mercedes Rosa, reconhecida especialista em prataria, o livro “Bahia: Tesouros da Fé” é uma referência em matéria de patrimônio de arte sacra da Bahia. 

Na página 23 podemos ler a respeito do tabernáculo da catedral basílica, hoje vítima de vândalos: “Elaborado sacrário em prata, ouro e diamantes de primeira água. Fundido, repuxado e cinzelado em forma arquitetônica de templo de estilo neoclássico (...)”.



O dito tabernáculo exposto na catedral recém restaurada, é tema de algo que eu chamaria de “Drama em três fotos”: O original, antes de ser depenado, depois da agressão, despojado de seus ouros e diamantes, e depois da restauração feita às pressas, nas coxas, por mãos sem qualquer habilidade.
Dom Murilo Krieger, atual arcebispo de Salvador, não demorou em ser alertado da violação sacrílega. Desconhecendo os bastidores do poder espiritual baiano, não sei se o IPHAN e o Ministério Público já foram informados e se estes órgãos estão neste momento tomando alguma providência. Assim espero. 

Esta agressão a um patrimônio que não é somente da igreja, mas do povo brasileiro, vem alongar a lista de tantas outras depredações que, ano após ano, vêm empobrecendo nossa cultura e nossa identidade. O pior é, com certeza, a indiferença evidente dos órgãos envolvidos, que não parecem levar a sério o criminoso descuido. E mais, alguns até tentam minimizar o roubo. Um religioso –  mantenhamos o nome em sigilo – chegou ao cúmulo de declarar que não eram diamantes de primeira água, mas simples pedras. Talvez então não fosse prata maciça, mas zinco, e latão em vez de ouro. 

Até onde vai a falta de pudor de uma sociedade conivente com estas atitudes? 

Quem, afinal, é culpado? 

A igreja? A empresa de restauração? O sempre displicente IPHAN? 

A quem desejar posso mostrar as fotos do sacrário, como também as fotos dos dois imensos lampadários de prata da igreja do Passo que desapareceram quando o IPAC, nos anos 90, usou o espaço para escritório. 

O mesmo IPAC usou e abusou do pátio barroco do convento de São Francisco como almoxarifado. Hoje é mais um patrimônio único, tombado pela UNESCO, que está desmoronando. 

Quanto aos excepcionais azulejos, a situação catastrófica parece sem retorno.

Resta-me confessar minha estranheza, quando fui visitar a catedral, ao ser cobrado de modestos R$5,00 sem o mínimo recibo. Será que durante estes quatro anos os padres não tiveram tempo de imprimir tíquetes?

Quanta leviandade em nome de Deus!

Dimitri Ganzelevitch
Publicado n´A Tarde
do 3 nov. 2018

2 comentários:

  1. Parabéns pela coragem da denúncia...assim são depredadas as igrejas brasileiras, em nome da arte como propriedade privada...roubos praticados hapeli menos dois seculos...

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  2. O IPHAN é o órgão mais inútil desta ré-publica, uma prova ??? A Primeira Estada de Ferro do Brasil - Estrada de Ferro Petrópolis - está abandonada e invadida por ``posseiros´´ e seus puxadinhos. A Estação de Guia de Pacobaíba está caindo, o Pier do Porto Mauá está em ruínas e o que faz esse inepto órgão ??? Nada, diz não ter verbas !!!!1

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