sábado, 2 de novembro de 2019

A RUA LIVRE DE SANTO ANTÔNIO

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Benedito Calixto, Marché aux Puces, Rastro, Feira da Ladra... Todas, todos começaram da mesma forma. Meia dúzia de cidadãos vendendo umas velharias, umas comidinhas, livros cansados, sofás usados até as molas, abajures, bijuteria... e aos poucos as feiras foram evoluindo, atraindo curiosos do resto da cidade, turistas... até se transformarem em verdadeiras instituições. Em Londres, anos 60, a Portobello Road era passagem obrigatória de todo profissional de antiguidades, assim como de quem quisesse se vestir a baixo custo, mas o bairro de Notting Hill não era lá muito bem visto e burguês que se respeitasse nunca moraria por aquelas bandas. Hoje o bairro é dos mais elegantes e caros da capital inglesa. E cada fim de semana, faça sol, nevoeiro, chuva ou neve, a longa rua e arredores estão abarrotados de público.
Se em Recife, Rio, São Paulo e até Belo Horizonte este tipo de feira existe e persiste, em Salvador as várias tentativas de feira de antiguidades ou afins nunca deram certo. Nem em estacionamento de shopping, nem dentro de shopping, nem no Cruzeiro de São Francisco ou Praça da Sé. Por que? Penso que porque era uma imposição de alto para baixo, sem que o terreno fosse preparado.
Ultimamente tenho notado uma iniciativa que pode suprir esta falta cultural/comercial. No segundo sábado do mês, em um trecho da rua Direita de Santo Antônio, um grupo de moradores, que deseja ficar no anonimato, organiza uma pequena feira de artesanato, plantas, livros, beijus e outras empadas desde as 14:00 até as 22:00. É bom notar que ninguém cobra ou recebe nada e que ninguém pretende se promover através deste evento.
Claro que tem sempre aquele insatisfeito que se queixa do agito, ou que deixou escapar a iniciativa, mas como negar o sucesso da empreitada, com poucos meios e pouca divulgação? A maioria dos expositores e visitantes é jovem e alegre, dando ao velho bairro, tão esquecido pelas autoridades, uma nova e muito bem-vinda dinâmica. O resultado é que nesta data vem gente de toda a cidade com filhos e netos, o que, além de assim contribuir não só para recolocar o centro histórico nos costumes soteropolitanos, bem como para o orçamento doméstico de muitos casais, mas também dinamiza o comércio local. Lojas, padaria, barzinhos e restaurantes. Eu mesmo abro das 17:00 até as 21:00 minha Sala de Fotografias, o que muito me ajuda a divulgar meu trabalho e encontrar outros fotógrafos e gente com ótimo papo.
Então, que tal pedir a prefeitura para apoiar este evento com vigilância e limpeza, assim como reservar esta parte da rua aos pedestres? Não seria prazeroso, um dia ao mês, esquecermos carros, motos e bicicletas, e devolver ao homem seu espaço natural?

Dimitri Ganzelevitch
A Tarde 9/10/2019



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