terça-feira, 26 de novembro de 2019

SOFÁ,SUPERMERCADO E PADARIA

"Viajante" compulsivo. Era ele. Decidia viajar assim mesmo. De supetão. De repente, assistia a um filme com a esposa no sofá quente e amassado de um domingo de pizza obrigatória. Cenas do Coliseu na telinha. E Roma logo se tornava artigo de primeira necessidade.
Por falar em primeira necessidade, esses espasmos viajantes aconteciam também no supermercado, durante as temidas compras do mês (ou da quinzena?). Seção de bebidas. Champanhe. Gôndola de alimento enlatado. Veneza? Champignon. Paris. Prateleira de artigos sofisticados para casa. Aparelho para fondue. Fondue! Sentia um aperto fisiológico. Rápido! Era prudente uma pausa para aliviar uma necessidade urgente. Placa indicativa. Toalete. 
De tanto estrangeirismo gostoso de ler ou imaginar, já sabia no que poderia dar! Tinha que ser Paris! Imprescindível! Voltava para o supermercado. A esposa, com o carrinho, na fila. Ia ao encontro dela. Um torcedor do Flamengo passava ao seu lado. Link mnemônico com dança flamenca e já surrupiava do além o desejo louco de ir a Barcelona.
Todos os dias de manhã, ia à padaria do português comprar pão francês. Registrava a quantidade de pães a serem comprados em números romanos. Daí já saia do forno da padaria uma vontade deliciosamente irresistível de ir a Portugal, França e Itália. Três em um.
"Viajante" compulsivo. Era ele. Sua esposa se divertia, mas de ansiedade - pela vontade de um dia enfim embarcar - sempre sofria. Esperava apenas que as decisões fossem, enfim, ultimadas. Contava com isso. Sonhava. Por enquanto, destinos certos? Sofá, supermercado e padaria...

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