sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

PAGO EM UMA ÚNICA PARCELA

 

Empresa de servidor leva contrato de R$15 milhões com ministério

O valor destinado à empresa será liquidada antecipadamente em uma única parcela, algo incomum na administração pública

A empresa de um servidor do Ministério da Fazenda fechou um contrato sem licitação no valor de R$15,75 milhões com o Ministério das Comunicações (Mcom). (Foto: Diego Campos / MCom)

A empresa de um servidor do Ministério da Fazenda fechou um contrato sem licitação no valor de R$15,75 milhões com o Ministério das Comunicações (Mcom) com o objetivo de realizar a capacitação de crianças e adolescentes de baixa renda em tecnologias inovadoras. 

O valor destinado à empresa foi empenhado no começo de dezembro e será liquidada antecipadamente em uma única parcela, algo incomum na administração pública. A empresa em questão é a Rede Brasileira de Certificações, Pesquisas e Inovação (RBCIP), uma organização sem fins lucrativos, sediada em Brasília e fundada em 2019. O diretor-presidente e associado é o auditor do Ministério da Fazenda Marcelo Fiche. 

Fama de Fich

Em 2013, Fiche era chefe de gabinete do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e foi afastado por suspeita de receber propina de uma empresa de comunicação que tinha contrato com a pasta. Uma funcionária da empresa, que repassaria as propinas aos servidores, denunciou o caso na extinta revista Época, o que gerou uma investigação policial. Mas o inquérito foi arquivado em 2016 após a Polícia Federal (PF) entender que não havia provas de corrupção.

Indicação de empresa sem licitação 

Os R$15,75 milhões destinados para a RBCIP vêm de uma emenda da Constituição do Senado do Futuro (CSF), então presidida pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF) até a mesma ser extinta em junho deste ano e ceder lugar à Comissão de Defesa da Democracia. 

Em fevereiro deste ano, Izalci enviou ofício para o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, indicando a RBCIP, que deveria ser contratada por ter “demonstrado notória capacidade na execução de programas de apoio à inovação”. 

A indicação direta da empresa a ser contratada, sem chamamento público, é possível por causa da Lei nº13/204, sancionada em 2015, que permite utilizar emendas parlamentares para entidades do terceiro setor, caso da RBCIP, sem qualquer processo seletivo, diferente do habitual. 

Apesar do ofício do senador, indicando a empresa para ser contratada, ter começado a tramitar no Ministério das Comunicações em março de 2023, a confecção do contrato teve andamento a partir de outubro.Marcelo Fiche e outros representantes da RBCIP se reuniram com o ministro Juscelino Filho na tarde do dia 24 de outubro, na sede do ministério, em Brasília. Outros chefes do órgão participaram do encontro.

Na noite do dia 24 de outubro, foi concluído um parecer técnico do Ministério das Comunicações que deu aval para a confecção do contrato sem licitação e com pagamento em parcela única adiantada.

Pagamento adiantado 

Segundo a legislação brasileira não é permitido tal forma de pagamento com o dinheiro público. No entanto, uma portaria conjunta dos ministérios da Fazenda, Gestão e Inovação, e da Controladoria-Geral da União, de agosto de 2023, passou a autorizar o pagamento antecipado apenas para “fornecimento de equipamentos e materiais especiais de fabricação específica”.

Coincidentemente, a portaria foi utilizada pelo Ministério das Comunicações como justificativa para a quitação integral e adiantada da parcela.  

O que diz Marcelo Fiche?

O empresário Marcelo Fiche, ao ser questionado pelo portal Metrópoles, disse que  a RBCIP tem experiência comprovada na área de ensino de tecnologia itinerante em escolas públicas e que apresentou o projeto para diferentes políticos, até conseguir a emenda da Comissão Senado do Futuro.

“Eu não vou dizer que nós somos os únicos que podem fazer um projeto itinerante nas escolas públicas, mas eu digo que sou o único no Brasil que fez um projeto avaliado e que sabe como gerenciar. Toda essa parte de gestão é quase uma exclusividade nossa. Chamamento é quando vai pegar pessoas que talvez nunca fizeram um projeto desses”, avaliou oempresário.

A expectativa do projeto, equivalente a R$15,75 milhões, é atender 15 mil alunos até 2026 nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Roraima e do Maranhão.

No caso do contrato com o Ministério das Comunicações, Fiche defendeu que houve um trabalho de convencimento da pasta e justificativa dos valores, o que foi aprovado pela área técnica do órgão.

Sobre o pagamento adiantado em parcela única, Fiche avaliou que a medida é importante para a empresa conseguir menores preços à vista. “Se sobrou recurso, o dinheiro é do ministério e pode ser reaplicado no projeto ou não

Já em relação ao processo por suspeita de corrupção em que foi inocentado, Fiche afirmou que foram acusações infundadas contra ele e outros servidores. “Ali foi só uma acusação e nunca teve nada. Se era verdade, por que não deu em nada? Misturar isso com o projeto de agora é uma maldade da imprensa.” 

Versão da pasta 

Em nota, o Ministério das Comunicações informou que não é responsável por indicar a empresa sem fins lucrativos que vai receber o recurso.

“Merece destacar que o MCom respeitou todos os parâmetros legais ao longo da análise das fases processuais permitindo firmar o Termo em questão, em conformidade com os preceitos fundamentais da administração pública federal”, escreveu em trecho da nota.


Sobre a investigação arquivada envolvendo Marcelo Fiche, o ministério disse que analisa apenas a situação jurídica da empresa e não a das pessoas físicas.

SOL INVICTO

 Quem era o Sol Invicto, deus pagão com festa que Igreja usou para celebrar o Natal

Mosaico mostra uma figura com tiara de sol

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Os romanos já comemoravam um festival em 25 de dezembro

  • Author,Juan Franci
  • Role,Da BBC News Mundo

"Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá luz e vida.”

Estas palavras de Jesus, contidas no Evangelho de João (capítulo 8, versículo 12), desempenharam um papel crucial quando as autoridades do Império Romano e os primeiros hierarcas da Igreja procuraram esclarecer um dos enigmas da Bíblia: quando nasceu o fundador do cristianismo?

Embora os evangelhos não mencionem a data de nascimento daquele que hoje quase 2,3 bilhões de fiéis consideram ser o filho de Deus, a passagem acima deu apoio teológico à decisão sobre a data a se comemorar. Desde essa decisão, o Natal é celebrado em 25 de dezembro.

A data não foi escolhida ao acaso, mas com toda a intenção de que coincidisse com um dos grandes momentos do calendário romano: a festa do Sol Invicto.

Um culto do Oriente

A festa do Sol Invicto, cujo nome oficial era Nativitas Solis Invicti ou “nascimento do Sol Invicto”, era uma celebração dedicada a uma divindade solar que era celebrada no dia 25 de dezembro.Pule Matérias recomendadas e continue lendo



Fim do Matérias recomendadas

Mas quem era esse deus? “Não sabemos muito bem. Não era muito predominante no catálogo das divindades romanas”, explica à BBC o historiador e estudioso bíblico espanhol Javier Alonso.

Por sua vez, o professor de história antiga Santiago Castellanos, da Universidade de León, na Espanha, acrescenta que esta divindade “não era uma das mais presentes na práxis política romana, pelo menos não estava ao nível de Júpiter e Marte, que tiveram maior implementação em termos de templos e estátuas”.

Tal como aconteceu com o cristianismo, o culto a este deus chegou a Roma vindo do Oriente, particularmente do que hoje é a Síria. Ele foi trazido pelas mãos do imperador Marco Aurelius Antoninus Augustus, mais conhecido hoje como Heliogábalo.

O soberano, que reinou apenas quatro anos (218-222 d.C.), retirou Júpiter do topo do panteão romano. Em seu lugar, colocou El-Gabal, divindade solar que adorava e da qual era sumo sacerdote na sua terra natal, Emesa (atual cidade síria de Homs).

Para facilitar a mudança religiosa, o deus foi renomeado com o nome latino Sol Invicto.

“Sol assumiu todo o culto solar que no mundo greco-romano estava associado à figura de Hélios e também à sua iconografia”, acrescentou Castellanos.

Cruz em frente  às ruínas do coliseu

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

O cristianismo primeiro foi perseguido e depois adotado como religião oficial do império romano

Divindade solar

Invictus não foi a primeira divindade solar adorada pelos romanos, mas foi a que marcou o calendário. Isso porque em 312 d.C. - quase uma década depois de sua conversão para o cristianismo -o imperador Constantino decretou o sétimo dia da semana como o dia do Sol, o que hoje conhecemos como domingo.

O imperador ordenou que este dia fosse um dia de descanso para “os magistrados e os habitantes das cidades, nas quais todas as oficinas ficarão fechadas”.

Castellanos diz que o apoio imperial foi fundamental para a consolidação deste culto, mas a crença já tinha começado a popularizar-se em todo o império.

Além do domingo, o Sol Invicto também tinha um festival que fazia parte do movimentado calendário romano de feriados no final do ano, que incluía as brumálias e as saturnálias.

As primeiras, celebradas em novembro, eram as festas do solstício de inverno e foram instituídas por Rômulo em homenagem a Baco. Já as saturnálias eram dedicadas a Saturno, deus da agricultura, e duravam sete dias, começando em 17 de dezembro. Elas eram muito populares entres os romanos.

“Durante esses dias havia uma certa inversão da ordem estabelecida, por exemplo, os escravos tinham mais destaque do que normalmente tinham”, explica Castellanos.

Grandes banquetes eram organizados. Trocavam-se presentes e as casas eram decoradas com guirlandas e velas. Estas saturnálias ocorridas em dezembro têm fundamentos litúrgicos e celebrativos que o cristianismo depois incorporou à sua própria liturgia”, acrescenta,

Durante as comemorações, eram frequentes os excessos no consumo de bebidas alcoólicas e nas relações sexuais, segundo histórias da época, por isso havia a impressão de que eram uma mistura entre o que hoje conhecemos como Natal e o Carnaval.

Alonso explica que os romanos decidiram estabelecer o festival do Sol Invicto quase imediatamente após as saturnálias por uma razão astronômica: o solstício de inverno.

“O solstício de inverno é o dia do ano em que há menos luz solar. Porém, a partir daí os dias começam a ficar mais longos e no mundo antigo percebia-se que este era o momento em que o Sol se regenerava e renascia”, afirma.

Pintura em estilo neoclássico mostra romanos durante um banquete

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Os romanos tinham muitas festas no fim do ano

E por que este feriado?

Quando o imperador Teodósio declarou que o cristianismo seria a religião oficial do império romano, em 392 d.C., surgiu entre as autoridades civis e eclesiásticas o desejo de esclarecer algumas dúvidas não resolvidas nos evangelhos, a fim de facilitar a adoção da nova fé pelos romanos. E entre eles estava a data de nascimento de Cristo.

O nascimento era um assunto tabu para os judeus e os primeiros cristãos.

“A lei não nos permite celebrar festas de nascimento dos nossos filhos”, explicou o historiador judaico-romano do século 1, Flávio Josefo, em um dos seus escritos.

Por outro lado, para os romanos, comemorar os aniversários era, em alguns casos, um dever. Por exemplo, desde o ano 45 a.C. eles realizavam todos os anos sacrifícios públicos em homenagem ao nascimento de Júlio César.

“Quando o cristianismo começa a ser uma religião poderosa, ligada aos imperadores, surge a necessidade de estabelecer uma data específica para o nascimento do seu fundador”, explica Castellanos.

“Eles precisavam ancorar uma data no calendário por motivos litúrgicos”, diz o especialista.

Alonso afirma que a festa do Sol Invicto era ideal para marcar o nascimento de Jesus devido ao seu significado para os romanos.

“O Papa Júlio 1º decidiu que o nascimento de Jesus seria no dia da festa do Sol, durante o solstício de inverno, devido à crença de que o sol derrotava as trevas”, explica Alonso.

“As celebrações nas sociedades antigas estavam ligadas ao calendário agrário e tudo girava em torno da época da semeadura e da colheita. Antigamente as festas eram realizadas na época da colheita e com o passar do tempo acrescentamos santos a elas. Mas originalmente tudo estava relacionado à agricultura”, afirma.

Buscando justificativa religiosa

A escolha do festival do Sol foi justificada por algumas passagens dos evangelhos, como a que diz que o messias virá “do alto para nos visitar como o sol nascente, iluminando os que vivem nas trevas” (Lucas 1, 78).

Ou a que dizia que “uma luz brilhou para aqueles que vivem nas sombras da morte” (Mateus 4:16).

E, claro, há a história de João, que afirma que Jesus é apresentado como “a luz do mundo”.

Mas a decisão do Papa Julio 1º, que quase um século depois foi endossada pelo imperador Justiniano, não só fixou o Natal no calendário, mas ajudou a fazer o mesmo com outras celebrações.

“Outras festas importantes do calendário litúrgico teriam sido fixadas como consequência: a Anunciação (9 meses antes), a Natividade de São João Batista (seis meses antes), a Circuncisão de Jesus (oito dias mais tarde) e a Apresentação no Templo (40 dias depois)”, acrescenta o professor de Luis Sánchez Navarro, da Universidade San Dámaso (Espanha).

Para os especialistas, esta escolha não deveria surpreender, porque já tinha acontecido antes.

“Quando os romanos conquistaram outras regiões do mundo, assumiram cultos e tradições dessas regiões, mas é claro que as reinterpretaram, mudaram ou moldaram”, diz Castellanos.

Alonso, por sua vez, afirma que quando uma cultura se impunha a outra, ela se apropriava de seus ritos e lugares sagrados.

"É por isso que quando escavamos debaixo de uma igreja em alguns lugares da Europa, por exemplo, encontraremos uma mesquita, mais abaixo um templo romano e mais abaixo um centro cerimonial de outra cidade anterior.”

Outra teoria

Luis Sánchez Navarro explica que existe outra teoria sobre a data de 25 de dezembro.

Ele admite que há base histórica para o entendimento de que o Natal foi colocado na data para coincidir na festa pagã do Sol Invicto, mas afirma que também existem algumas evidências que indicam que 25 de dezembro poderia ter sido de fato a data do nascimento de Jesus.

“Existe uma tradição antiga, ligada à igreja de Jerusalém, que situa o nascimento de Jesus por volta do dia 25 de dezembro.

No ano 204 (muitos anos antes de ser estabelecida a festa do Sol Invicto) Hipólito de Roma, em seu comentário ao livro do profeta Daniel, afirmou claramente que Jesus nasceu naquele dia. “Alguns estudiosos questionam a passagem como uma colocação posterior, mas outros mantêm a sua autenticidade”, explica.

Sánchez cita ainda a descoberta em Israel de um calendário de uma seita cristã antiga que reforçaria a teoria de que 25 de dezembro foi o dia em que nasceu o Jesus histórico e religioso.

REVOLTA NO PT

 Militância do PT se revolta e reprova candidato de Jerônimo à prefeitura de Salvador


Escolha de emedebista foi classificada como 'opção

 política autoritária'

  • Da Redação

Salvador
Publicado em 27/12/2023 


Crédito: Reprodução 


A escolha de Jerônimo Rodrigues para a disputa da prefeitura de Salvador em 2024 revoltou a militância do PT. Em texto publicado no site Página 13, a "Tendência Petista - Articulação de Esquerda" classifica Geraldo Júnior como uma "opção política autoritária".

"Esse 'anúncio' [da candidatura] representa uma gravíssima questão de método e de conteúdo para o PT e sua militância", chama a atenção o texto.

"Especialmente no momento delicado que demanda uma séria análise sobre os erros, limites e contradições da experiência de gestão governamental petista ao ser anunciado os dados de mortes do povo negro pelo aparato repressivo do governo estadual, com escalada nos números durante gestão petista. É afrontoso que a coalizão de tendências que dirigem majoritariamente o partido exija da sua militância que peça votos para uma candidatura com nítido perfil de direita", completa.


Éden Valadares, presidente do PT baiano, se defendeu dizendo que "essa é a opinião de uma corrente minoritária e não do conjunto da militância ou do partido."


Normas do partido burladas


Segundo a publicação, até o estatuto partidário foi colocado para debaixo do tapete. Duas pré-candidaturas petistas se apresentaram: Rodrigo Pereira e Robinson Almeida. Neste caso, o estatuto partidário determina a realização de prévias.


"Porém, ao arrepio desta norma democrática, em 24 de agosto, ocorreu uma reunião ampliada do Diretório Municipal com a presença de militantes e representantes dos Diretórios Zonais para decidir sobre a escolha do pré-candidato à prefeito de Salvador pelo PT. Na ocasião, foi aprovado o 'indicativo' da pré-candidatura do Deputado Estadual Robinson Almeida (DS) em evidente desrespeito ao estatuto do PT", chama a atenção o texto.

Seguindo a narração da linha temporal, a pré-candidatura foi apresentada à presidente do partido, Gleise Hoffmann, indicando que PT teria candidato próprio no pleito de 2024.

"Passada a euforia, a pré-candidatura 'indicada' não ganhou corpo nem forma, vez que não buscou mobilizar a militância e não apresentou um eixo programático nítido de caráter democrático e popular", aponta o texto.


Após a derrocada da pré-candidatura, chamada pela militância de "apática, insípida e inodora politicamente", o nome do vice-governador foi anunciado. "Entregou-se os pontos, sem qualquer resistência, numa demonstração abjeta de genuflexão aos 'aliados' de direita que hegemonizam o referido Conselho e ao Governador do Estado", ataca.


Texto publicado no site. Crédito: Reprodução


Leia texto completo

Durante a Conferência Eleitoral Nacional do PT, realizada entre os dias 08 e 09 de dezembro, o Presidente Lula, em seu discurso, chamou atenção publicamente para a fragilidade do PT na Bahia em não conseguir ganhar a prefeitura de Salvador, apesar de estar à frente do Governo do Estado por sucessivos mandatos.

Não adiantou a advertência pública de Lula. Na última semana, consumou-se mais um triste capítulo na história do PT da Bahia. Em 21 de dezembro, através de sua conta na rede social Instagram e, posteriormente, em declaração à imprensa, o Governador Jerônimo Rodrigues (PT) “anunciou” que Geraldo Jr. (MDB), atual vice-governador, será o candidato à Prefeitura de Salvador pela coalizão de partidos que dirigem o Governo Estadual.

Esse “anúncio” representa uma gravíssima questão de método e de conteúdo para o PT e sua militância.

No que diz respeito ao “método”, trata-se de uma violência política autoritária contra a democracia petista. A tradição petista demanda que a deliberação da tática eleitoral ocorra nas instâncias partidárias, através de processos democráticos que permitem a participação do conjunto da militância, a exemplo dos Encontros de Tática e/ou prévias eleitorais. Contudo, os fatos políticos que desembocaram neste “anúncio” evidenciam práticas que violam as disposições estatutárias e maculam a democracia no partido.

Inscreveram-se duas pré-candidaturas no PT de Salvador para representar o partido nas eleições 2024 em Salvador: o militante Rodrigo Pereira (AE) e o Deputado Estadual Robinson Almeida (DS).

Como determina o Estatuto partidário, havendo mais de uma pré-candidatura inscrita, devem ser realizadas prévias. Porém, ao arrepio desta norma democrática, em 24 de agosto, ocorreu uma reunião ampliada do Diretório Municipal com a presença de militantes e representantes dos Diretórios Zonais para decidir sobre a escolha do pré-candidato à prefeito de Salvador pelo PT. Na ocasião, foi aprovado o “indicativo” da pré-candidatura do Deputado Estadual Robinson Almeida (DS) em evidente desrespeito ao estatuto do PT.

No dia seguinte, foi organizado, pelo PT-BA e PT-Salvador, o Encontro Territorial, quando foi apresentada a pré-candidatura do Deputado Estadual Robinson Almeida (DS) à Presidenta do Partido, Gleise Hoffman. Criou-se a ilusão para os militantes e a nação petista, que o PT teria uma candidatura e lutaria por esta. Passada a euforia, a pré-candidatura “indicada” não ganhou corpo nem forma, vez que não buscou mobilizar a militância e não apresentou um eixo programático nítido de caráter democrático e popular. Reservou-se a emitir declarações à imprensa, inclusive, algumas problemáticas, como a insistente tese de “cidade prejudicial ao desenvolvimento de negócios” e “sem capacidade de atrair investimentos”, quando, na verdade, a cidade está escancarada ao Capital, mas com crescente exclusão do povo trabalhador, vide as votações na Câmara de Vereadores e os projetos de desafetação de áreas verdes, entre outras iniciativas de recorte neoliberal impulsionada pela gestão municipal.

Passados 04 (quatros) meses dessa pré-candidatura apática, insípida e inodora politicamente, o “anúncio” de Geraldo Jr. (MDB) é tratado com uma vergonhosa nota em rede social pela pré-candidatura “indicada” pelo PT ao Conselho Político da coalizão partidária presente no Governo do Estado. Entregou-se os pontos, sem qualquer resistência, numa demonstração abjeta de genuflexão aos “aliados” de direita que hegemonizam o referido Conselho e ao Governador do Estado.

No mesmo caminho da subserviência estão a trilhar as/os dirigentes municipais e estaduais, a começar pela Presidência do PT-BA e PT-Salvador, as/os parlamentares, a esmagadora maioria das tendências e coletivos, tal qual fizeram, vergonhosamente, em 2020, quando foi “decretada” uma candidatura pelo então ocupante do Palácio de Ondina. Aqui cabe reiterar a caracterização que fazemos da atual dinâmica partidária no PT-BA: uma grande coalizão de tendências/grupos aninhados numa mesma perspectiva estratégica de conciliação de classes, resumindo-se as disputas a conflitos burocráticos por nacos do aparato partidário e/ou institucional para aplicar a mesma orientação política.

Voltemos à discussão sobre o “processo decisório” que culminou no “anúncio”. Segundo anunciado, foi o chamado “Conselho Político” o espaço de discussão e deliberação sob comando do Governador. Ocorre que este “Conselho” é composto por representação dos partidos que compõem a coalizão presente no Governo do Estado. No máximo, portanto, deveria se restringir às discussões sobre os rumos governamentais, onde a direita possui peso desproporcional no aparato estatal e apetite insaciável, vide o acúmulo, por exemplo, do PSD em número de prefeituras e o decréscimo do PT nas eleições municipais dos últimos períodos.

Constituir o Conselho Político do Governo do Estado, na prática, como uma instância suprapartidária é um grave equívoco que tende a eternizar a tão falada “correlação de forças” em favor da ala direita da coalizão governamental. Ademais, como já dito, é uma violência política contra a democracia petista.

E no “conteúdo”, o que representa o “anúncio”? Ou seja, o que sinaliza a pré-candidatura Geraldo Jr. (MDB)?

Comecemos pelo que diz o sítio eletrônico da Câmara Municipal sobre sua atuação profissional: “trilhou carreira profissional na advocacia privada, dedicando boa parte da experiência à defesa da Rede Record e Igreja Universal”. É também comunicador e apresentava programa em estação de rádio local.

Na política institucional, participou na gestão municipal de Lídice da Mata (então no PSDB), Antônio Imbassahy (à época no PFL). Com a posse de ACM Neto (União Brasil) foi empossado com Secretário Municipal de Trabalho, Esporte e Lazer.

Na Câmara Municipal de Salvador, assumiu a vereança em 2011 e elegeu-se por 03 (três) vezes: 2012, 2016 e 2020. Transitou, no período, pelos partidos PTN, Solidariedade e MDB, onde encontrava-se filiado ao ser indicado para a vice-governadoria na chapa vitoriosa de Jerônimo Rodrigues (PT) nas eleições de 2022.

Exerceu o mandato parlamentar em fidelidade estrita com o programa neoliberal de ACM Neto (União Brasil), a ponto de ser cotado para ser sucessor do carlista. Estava na Presidência da Câmara quando, em 04 de maio de 2022, foi aprovado, em votação relâmpago, projeto de lei que vulnerabilizava a proteção ambiental em áreas de cidade e atendia aos interesses imobiliários do empresário Carlos Suarez. O mesmo cidadão a que Geraldinho, como é apelidado, fez deferência especial em discurso durante evento da JUCEB na Associação Comercial da Bahia, quando exultante afirmou: “Se hoje sou vice-governador, agradeço ao senhor Carlos Suarez”.

Evidenciados os laços na seara empresarial, passemos às referências atuais na seara político partidária. Durante a parte de declaração à imprensa do “anúncio”, Geraldo Jr (MDB) fez questão de destacar o papel de Lúcio Viera Lima e Geddel Viera Lima. Isso mesmo. Estes próceres do golpismo contra o PT são as referências do pré-candidato.

Entusiasticamente grato a grande empresário do ramo imobiliário, participante direto, no Executivo e no Legislativo, da aplicação do receituário neoliberal na cidade e referenciado nas lideranças do golpismo MDBista, eis, portanto, as características principais da trajetória recente do que se pretende ter o apoio do PT a sua candidatura. Trata-se, inquestionavelmente, de um pré-candidato de direita.

Assim, o “anúncio” representa uma violência política contra a democracia no “método” e uma gravíssima capitulação programática no “conteúdo”, especialmente no momento delicado que demanda uma séria análise sobre os erros, limites e contradições da experiência de gestão governamental petista ao ser anunciado os dados de mortes do povo negro pelo aparato repressivo do governo estadual, com escalada nos números durante gestão petista. É afrontoso que a coalizão de tendências que dirigem majoritariamente o Partido exija da sua militância que peça votos para uma candidatura com nítido perfil de direita.

A Tendência Petista Articulação de Esquerda, em Salvador, repudia essa movimentação da maioria da cúpula partidária e governamental, ao passo que irá tomar todas medidas necessárias junto às instâncias nacionais do Partido, ao mesmo tempo que conclama a militância à rebeldia com realização de plenárias, encontros diversos para forjarmos uma reação coletiva a este brutal ataque ao PT.


Crédito: Reprodução 


A escolha de Jerônimo Rodrigues para a disputa da prefeitura de Salvador em 2024 revoltou a militância do PT. Em texto publicado no site Página 13, a "Tendência Petista - Articulação de Esquerda" classifica Geraldo Júnior como uma "opção política autoritária".

"Esse 'anúncio' [da candidatura] representa uma gravíssima questão de método e de conteúdo para o PT e sua militância", chama a atenção o texto.

"Especialmente no momento delicado que demanda uma séria análise sobre os erros, limites e contradições da experiência de gestão governamental petista ao ser anunciado os dados de mortes do povo negro pelo aparato repressivo do governo estadual, com escalada nos números durante gestão petista. É afrontoso que a coalizão de tendências que dirigem majoritariamente o partido exija da sua militância que peça votos para uma candidatura com nítido perfil de direita", completa.