sexta-feira, 18 de agosto de 2023

LORCA AMAVA DALI QUE AMAVA BUÑUEL


O artista catalão surrealista Salvador Dalí (1904-1989), conhecido por retratar sonhos e fantasias em suas telas, além de manter seu exótico bigode extremamente fino e pontiagudo e de seus controversos quadros, a biografia de Dalí esconde o caso de amor entre ele e o poeta, também surrealista, Federico Garcia Lorca.

Em 2013, o pesquisador Vitor Fernández lançou na Espanha o livro “Querido Salvador, querido Lorquito”, onde foram reunidas as cartas de amor entre o pintor e o poeta durante o período de ano de 1923 a 1936, quando tiveram um caso e trabalharam em parcerias artísticas.
Alguns trechos foram publicados no jornal El País. “Você é uma tempestade cristã que precisa do meu paganismo. Eu vou te dar a cura para o mar. Será inverno e vamos acender o fogo”, diz um trecho escrito por Dalí. “Você vai se lembrar de que é um inventor de coisas maravilhosas, e viveremos juntos com uma máquina de criar”, responde Lorca.
Em 1926 Lorca publicou, na Revista de Occidente, a “Ode a Salvador Dalí”, reconhecido por críticos o mais belo hino à amizade já escrito em espanhol. Lendo o poema é possível perceber o elogio à pintura de Dalí e rasga elogios ao realismo e à objetividade da obra de Dalí deste período, além da evocação da Razão do artista.


Dalí também homenageou Lorca no quadro “O mel é mais doce que sangue”, pintado em 1927, e foi exposto no mesmo ano no Salão de Outono, em Barcelona. A tela chegou a pertencer a estilista Coco Channel, amiga de Dalí, e atualmente está perdida. Só se tem dela uma reprodução fotográfica em branco e preto. No quadro, é possível observar diversos elementos da vida, do amor e da amizade entre os dois.
Salvador Dalí fez tambem varias gravuras e desenhos; muito delas, ilustrações para livros como “Alice no País das Maravilhas”, “Fausto”, “Dom Quixote” e “O Velho e o Mar”; 15 fotos, 40 documentos e 4 filmes, entre eles o famoso “O Cão Andaluz”, dirigido com Luis Buñuel, provavelmente o terceiro elemento que causou a separação de Dalí com Lorca.
O filme contem diversas referências literárias da época. O título, por exemplo, “Um Cão Andaluz”, é uma ironia contra Garcia Lorca, que entendeu a indireta e a partir daí nunca mais conversou com os dois por causa do filme.
Buñuel é uma peça fundamental na história de Garcia e Salvador. A história da relação entre os dois pode ser conferida na película “Little Ashes” (Poucas Cinzas), de 2008, estrelando Robert Pattinson bem antes de ser o vampiro Edward, na trilogia “Crepúsculo”. E rola cenas quentes com o ator.
Dalí conheceu García Lorca aos 19 anos, na Residência Universitária, em Madri, durante os primeiros meses de 1923. O pintor foi admitido em 1922 na Academia de Belas Artes de San Fernando. E já era um personagem extravagante, sendo aceito no grupo de estudantes em que Luís Buñuel e Lorca faziam parte, revelando-se moderno e talentoso. No filme Poucas Cinzas é possível perceber a intimidade de Lorca com Salvador e o ciúme pela aproximação do pintor com Buñuel.

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