sábado, 30 de setembro de 2023

ASI ES EL SAARA OCCIDENTAL

UM CASO ESPECIAL

ALIENAÇÃO PATRIMONIAL E PARENTAL

Uma casa em São Luís


Uma amiga, ex-aluna, visitou recentemente o Maranhão, o Ceará e o Piauí e ficou encantada com a atenção que a cultura recebe de seus governantes, não necessariamente para o turismo, senão para a preservação de sua identidade. O CH de São Luiz está habitado e as duas linhas de ferry boats para Alcântara funcionam. Fortaleza, que já nos passou, tem sua orla bem cuidada e possui uma Pinacoteca, um Passeio Público e um Museu da Imagem do Som, que não possuímos. Salvador, tão rica de iconografia, desde o século XVII, não possui um museu da cidade.
E não é só nas capitais. No interior do Ceará, Sobral tem seu CH bem preservado, o Museu do Eclipse, onde se provou em 1919 a teoria da Relatividade, a Casa de Cultura do SESC e a Escola de Belas Artes na velha Estação de Trem. No vale do Cariri, o CESC criou em pequenas cidades, como Crato, Nova Olinda e Juazeiro do Norte, os Museus Orgânicos onde se reproduz os saberes de Tesouros Humanos, mestres de artes em extinção como do couro, do pífano e das máscaras.
O nosso Centro Antigo está despovoado e em ruína, é apenas um cenário para turistas fazerem fotos. O Sr. Juvenal Evangelista, cansado de protestar contra o abandono do Liceu de Artes e Ofícios, que bem poderia ser um Museu Orgânico, ou um Centro Cultural do BB ou da CEF, me pede para que eu pressione o estado a conservá-lo. Não sei se vai funcionar. O colega Luiz Mott fez apelo semelhante para salvar a igreja do Coração de Jesus, vizinha ao MPE, e nada foi feito.
O Liceu vai a leilão, sem lance mínimo, mas espero que não seja alienado para se transformar em mais um hotel cinco estrelas, como o Palácio Rio Branco, o Ed. A Tarde, Palace Hotel, o Palácio dos Esportes e o Abrigo Pedro II em que os hóspedes saltam dos táxis e correm para seu interior com medo de serem assaltados. Turistas novos-ricos que se trancam nesses hotéis e mandam selfies para os amigos no salão de jantar e perdem o que a Bahia oferece de melhor, sua rica cultura popular e sociabilidade. Enquanto isso, o povo criador dessa cultura é impedido de visitar os monumentos que ele próprio construiu. Como Manuel Bandeira apelo: meus amigos e meus inimigos, salvemos o Solar Saldanha!
Não falta dinheiro para obras faraónicas, ociosas e impactantes como o BRT e a Ponte para Itaparica, cuja ligação terrestre poderá ser reduzida à metade com trilhos para um metrô-trem e pista para carros envolvendo a BTS que incrementariam seus centros industriais e históricos e atenderia a 19 terminais marítimos e de esportes náuticos. A ponte com seis faixas subutilizadas, pois tem apenas duas de acesso no Funil, vai nos custar anualmente dez vezes mais do que a PPP da Fonte Nova. Quanto vale a história da Bahia e a marinha que lhe deu o nome?
SSA: A Tarde, 17/09/2023

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

TERREIRO CONTRA EMPRESA DE CELULOSE

 Pai de santo denuncia ofensiva de empresa de celulose contra terreiro na Bahia; MP investiga grilagem

O histórico de episódios de violência entre a companhia e a comunidade Icimimó, no recôncavo baiano, levou o MP a acionar a Justiça no ano passado






TRAPALHICE MORTÍFERA

 Dois PMs atiram entre si e morrem na BA; mortos em operações chegam a 59 em setembro

As mortes em operações se intensificaram após um policial federal ser assassinado no último dia 15, durante uma ação em Salvador


A Bahia atingiu 59 mortos em operações policiais

Foto: SSP/BA

O número de mortos durante operações policiais na Bahia subiu para 59 com os novos registros feitos na quarta-feira, 27. Em uma ocorrência na noite de ontem, em Salvador, quatro pessoas morreram, sendo destas, dois policiais militares que atiraram um contra o outro.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), um dos agentes estava em serviço perseguindo um suspeito quando se deparou com um outro policial, à paisana, dando voz de prisão para este indíviduo se render. O primeiro agente, porém, achou que o policial fora de serviço seria um assaltante e iniciou uma troca de tiros. Os três morreram. Um outro suspeito já havia sido atingido, quando a perseguição se iniciou.

As mortes em operações se intensificaram após um policial federal ser assassinado no último dia 15, durante uma ação em conjunto com a Polícia Civil, no bairro de Valéria, em Salvador.

A CNN Brasil conversou com o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, que defendeu a polícia baiana apesar do alto índice de letalidade das operações, principalmente neste mês. Segundo ele, "não se enfrenta o crime organizado com fuzil com rosas”. 

“Não vejo uma desestruturação da Segurança Pública na Bahia. É grave? É. Tem confronto. Tem? Agora, a polícia da Bahia é uma polícia boa. Tem a questão da letalidade? Tem. Mas você não enfrenta crime organizado com fuzil com rosas. Porém, a letalidade deve ser investigada e combatida”, disse Cappelli.

O secretário nacional acrescentou que o problema da segurança pública não se restringe à Bahia, que está sendo alvo de disputa das grandes facções criminosas nacionais. Cappelli direcionou parte do problema à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que teria, segundo ele, "despejado armas que foram parar nas mãos dos criminosos".

https://www.terra.com.br/noticias/brasil/cidades/dois-pms-atiram-entre-si-e-morrem-na-ba-mortos-em-operacoes-chegam-a-59-em-setembro,738fd4b3bfa182ccb3a8d070bc995072tbj2ixg8.html?utm_source=clipboard

A ESCADA DA IGREJA DO BOQUEIRÃO


Historicamente, eis uma estatal que, desde os anos 90, se considera acima do bem e do mal. Já na gestão do coronel ACM, ignorou - com total apoio do patrão e subserviente conivência do IPAC - os protestos do Iphan ao restaurar o Pelourinho a toque de caixa, três equipes se revezando por 24 horas. Quem poderia sonhar em qualidade com tamanha pressa? Portas e janelas padronizadas, supressão de peculiaridades. E mesmo assim, restauração incompleta.

Expulsos, os velhos moradores das ruínas foram agonizar debaixo das marquises da Baixa dos Sapateiros. Sendo expressamente proibido morar na Disney tupiniquim, esta parte do centro histórico seria transformado em cenário para agências de receptivo e turismo de massa.

Três décadas passaram. Mudou a ideologia oficial, mas a Conder em nada modificou seu comportamento. Mesma arrogância, mesma leviandade ao tratar agora da reabilitação do bairro de Santo Antônio. Aliás, do bairro, não. Só e unicamente da Rua Direita. O resto do bairro continua competindo com Massaranduba e Pela-Porco. Terceirizou a obra para uma empresa que contratou a baixo custo jovens arquitetos sem a mínima qualificação e até um engenheiro que acabou nas páginas policiais da imprensa nacional.

Durante três anos, moradores e comerciantes conviveram com poeira, lama, barulhos e desmandos mil. Sem direito a qualquer informação. Minha casa teve a tubulação de água quebrada quinze vezes. E ainda fui obrigado a me deslocar até o Procon do Shopping Salvador para protestar contra uma conta da Embasa de 5 mil reais!

As fachadas foram violentadas com cores acrílicas para pisos e quadras, a anos-luz das pigmentações naturais como qualquer historiador ou arquiteto gabaritado recomendaria. Poderiam ter embutido os canos de pvc das águas de chuva. Não o fizeram.

 Quanto à iluminação, os famigerados postes e suas macarronadas foram – após anos de reclamação da comunidade - substituídos por lampiões espalhados ao Deus dará. Áreas muito iluminadas, com apoio de incôngruos refletores, outras deixadas na escuridão. Os ditos lampiões continuam enfeitados com estranhas fiações, resultado da omissão do indispensável pente fino.

Para finalizar, um belo dia uma bizarra colocação apressada de tapumes à volta da escada da igreja do Boqueirão chamou a atenção da vizinhança. Antes mesmo de fechar o espaço, meia dúzia de trabalhadores começaram a quebrar os tricentenários degraus de pedra lioz portuguesa. Um jovem “restaurador”, afirmando ser por razão de segurança e com autorização do Iphan. Diante de nossos veementes protestos, documentados por fotos e vídeos, a destruição foi interditada.

Já se passaram dezanove meses e até a data desta publicação, a estatal não mais deu o ar de sua desgraça. 

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 30 de setembro 2023

 

PASTOR ACREDITA

...QUE JESUS USAVA A ERVA! 


https://www.facebook.com/flowpdc/videos/pastor-acredita-que-jesus-usava-a-erva/971778210767511/

SAVE THE DATE

 


quinta-feira, 28 de setembro de 2023

PIERRE ET GILLES

 

04/05/2010

O universo da fotografia pode ser muito mais amplo do que simplesmente fotografar. A fotografia pode ser interagida com outras técnicas e linguagens. É o que faz a dupla de artistas franceses Pierre et Gilles que mistura fotografia e pintura. Extrapolar os limites da fotografia, pensar na produção fotográfica muito além do registro da realidade é um dos objetivos da Escola de Fotografia Áurea Fotográfica. Nós também nos preocupamos com a formação artística de nossos alunos, por isso, dedicamos esse post a essa dupla maravilhosa que revolucionou a linguagem fotográfica contemporânea. Esperamos que gostem! Para mais informações de nossos cursos, acesse o site da escola: www.aureafotografica.com.br

Pierre et Gilles é como se denomina a dupla de artistas franceses formada por Pierre Commoy e Gilles Blanchard. Os artistas, que são casados, trabalham em conjunto unindo pintura e fotografia em obras de complexa composição pictórica e conceitual.

Nós amamos idealizar, mas falamos também da morte, do mistério e do absurdo da vida. Há tanto de doçura quanto de violência em nossas imagens.” (Pierre et Gilles)

Pierre Commoy, o fotógrafo, nasceu em 1959 em La Roche sur Yon, e Gilles Blanchard, o pintor, nasceu em 1953 em Le Havre.

No começo dos anos 70 Gilles se graduou na École des Beaux-Arts em sua cidade, enquanto Pierre estudou fotografia em Geneva.

Em 1974, Gilles se mudou para Paris para pintar e fazer ilustrações para revistas e publicidade. Pierre começou trabalhando como fotógrafo para as revistas Rock & FolkDépèche Mode e Interview 

Em outono de 1976, Pierre e Gilles se conheceram na inauguração da boutique Kenzo em Paris e passaram a viver juntos na Rue des Blancs-Manteaux, em um apartamento que eles também usavam como estúdio. No ano seguinte eles começarama trabalhar juntos da maneira como fazem até hoje: Gilles pintando sobre as fotos feitas por Pierre. Seus trabalhos tornaram-se populares a partir das imagens feitas para a revista Façade, com retratos de Andy Warhol, Mick Jagger e Iggy Pop.

Em 1979 os artistas se mudaram para Bastille, fizeram seus primeiros trabalhos para Thierry Mugler, produziram capas de discos para artistas amigos e fotos fashion para publicidade e retratos para revistas. Eles também fizeram sua primeira viagem para a Índia, país que tem inspirado muito o trabalho da dupla.

Em 1983 Pierre e Gilles fizeram sua primeira exposição individual na Galeria Texbraun em Paris.

Em 1984 eles trabalharam extensivamente para artistas musicais, como Sandii, Etienne Daho, Sheila, Krootchey e Mikado, para quem a dupla dirigiu seu primeiro video clipe.

Em 1987 os artistas viajaram uma vez mais para a Índia e começaram a trabalhar com temas religiosos e mitológicos.

Em 1989 eles se tornaram amigos de Marc Almond, com quem trabalharam por muitos anos.

Em1993 foi dado à dupla, pela cidade de Paris, o Grande Prêmio de Fotografia. Além disso, eles produziram um trabalho para a Absolut Vodka.

A primeira exposição retrospectiva dos artista aconteceu em 1996 no Maison Européenne de la Photographie, em Paris.

A dupla é um dos principais nomes da arte na Europa e tem por característica misturar elementos da cultura pop com ícones religiosos, mitológiocos, do mundo da publicidade e da cultura gay, construindo uma estética kitsch carregada de simbolismo.

Ainda que Pierre et Gilles estejam diretamente ligados à cultura pop, eles têm sido excluídos de muitas discussões sobre arte contemporânea. Isso porque a atitude explícita da dupla quanto à importância da beleza na experiência da arte tornou difícil para os críticos contextualizarem o trabalho deles em termos das tendências dominantes na produção artística dos dez úlimos anos. Mesmo assim, os artistas vêm desenvolvendo trabalhos de grande projeção internacional a ponto de definir novos padrões para a estética homoerótica.

Infelizmente, somente a partir de reproduções em livros e na internet, fica difícil entender a complexidade que envolve o processo de produção de cada imagem. As obras exigem precisão, planejamento e uma produção meticulosa. Começando com croquis, eles se envolvem em um complexo estudo para a elaboração da cena antes de chegar à cenografia desejada. A partir desses desenhos, o trabalho prossegue com a seleção de modelos, o desenvolvimento do figurino, maquiagem, sistema de iluminação, além da construção de cenários e adereços, para os quais a dupla de artistas reune elementos decorativos, tais como: tecidos diáfanos, luzes de Natal, quadros de papel-machê, guirlandas de flores artificiais, miniaturas da Torre Eiffel, bichos de porcelana e gnomos de borracha.

Estando tudo montado, Pierre fotografa a cena usando uma câmera de grande formato. Em seguida, uma única imagem é selecionada dentre as muitas feitas durante a sesssão fotográfica. Gilles, então, pinta meticulosamente sobre a foto para, afinar as cinturas, suavizar as rugas faciais, acentuar os cílios e adicionar destaque para os dentes que brilham mais branco do que o branco. O resultado é a obtenção de uma obra única com cores vivas, olhos luminescentes, glitter brilhante e uma decoração deslumbrante, algo entre uma ópera barroca e uma discoteca de mau gosto.

Em suas fotos, Pierre e Gilles pagam tributo ao “culto da personalidade”, retratando de uma maneira glamurosa ou devotada ícones do cinema, astros do rock e ídolos pop, que são, na vida contemporânea, tão adorados quanto santos cotólicos, mártires e deuses hindus. Através da confecção dos cenários e do jogo de iluminação, os artistas constroem o conceito de ideal, que baseado na artificialidade, ultrapassa o “falso absoluto” para atingir o grau de hiper-realidade.


Na celebração descarada da cultura pop, estas fotografias pintadas abraçam uma estética da moda contemporânea com base no exagero, na sedução e na estilização. Elegante e audaz, esse olhar sugere a teatralidade punk chic de Gaultier e a sensualidade dos ternos de Thierry Mugler, bem como a sensibilidade gay, que Susan Sontag definiu como “Ser-como- Interpretação de um papel … um prolongamento do conceito da “metáfora da vida como teatro”.

Em alguns de seus trabalhos recentes, o teatro é injetado com elementos do porno-kitsch e católico-kitsch como, por exemplo, as imagens dos meninos com o pênis ereto, retratados como santos em altares envoltos por uma aoreola de luz e guirlandas de flores de plástico. Nessas obras de sexualidade e sensualidade, os autores promovem um esmaecimento entre a agonia de um mártir e o ecstasy e se utilizam dos conceitos religiosos para retratar o culto ao corpo e à beleza como uma doutrina pregada pela cultura de massa tão vigente na atualidade.

Pierre et Gilles, com o uso dos seus elementos kitsch, são subversivos e inocentes. Suas imagens de pênis eretos brincam de modo perverso e original com o romance inocente e a recriação perpétua de clichês piegas. Estranhamente, o que é tão perturbador sobre este trabalho é a sua total falta de ironia. Enquanto a réplica gigantesca em porcelana de “Michael Jackson and Bubbles” feita por Jeff Koons soa arrogante, Pierre e Gilles continuam idealistas. Menos focada em paródias e personas de uma visão sentimental, eles nos mostram o paraíso em uma visão simples: homens crescidos usando seus nomes de menino.

As primeiras obras em exibição da dupla francesa são uma série de retratos de amigos e celebridades do final dos anos 70 e início dos 80. Dentre os retratados temos desde superstars, como Iggy Pop e Yves Saint-Laurent, à figuras menos conhecidas como Arja e Krootchey. Este trabalho inicial é distinguido pela falta de detalhes pictótiocos a fim de concentrar sua importancia na pessoa retratada. Uma exceção é o trabalho mais elaborado “Le Cow-boy – Victor” de 1978. Nesta obra, há uma espiral em branco, azul e vermelho com estrelas azuis por trás do personagem título, cuja pose de apontar uma arma é compensada pela presença de luvas rosa e um lenço amarelo. Também a obra de 1981, “Adam et Eve – Eva Ionesco e Kevin Luzac”, é ornamentada por um fundo de flores e árvores sugerindo o Jardim do Éden.

A partir de 1983, Pierre et Gilles passam a usar configurações mais elaboradas para os seus temas, atingindo, muitas vezes, um resultado cômico. Como exemplo, pode-se citar a obra “La Panne – Patrick Sarfati e Ruth Gallardo” que mostra um momento pós-coito. Neste caso a construção da cena não depende só da decoração do quarto, mas também no cabelo estilizado e da composição dos corpos dos dois modelos.

Em 1985, Pierre et Gilles embarcaram na primeira das diversas séries pictóricas “Les Pleureuses”, que mostra um conjunto de sujeitos arquetípicos (o marinheiro, o faraó) no ato de chorar. Embora ressaltando o interesse dos artistas nas dimensões cultural de seus personagens, “Les Pleureuses” resumem o compromisso com uma sensibilidade inconfundível gay. A mesma temática homoerótica aparece na série seguinte “Santos e Mártires”, que apresenta modelos caracterizados de santos católicos com faces de pinup e físicos másculos.

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Ao final dos anos 80, Pierre et Gilles passaram a trabalhar com figuras mitológicas não-cristãs, como Netuno, Sarasvati, e Medusa. Este interesse em assuntos religiosos foi associado com um fascínio crescente com as ideologias seculares. Ainda, momentos históricos e questões políticas também permearam as obras dos artistas. “Le Petit Communiste – Christophe” de 1990, por exemplo, mostra um soldado Soviético uniformizado com a familiar lágrima escorrendo sobre seu rosto. O trabalho foi criado um ano depois da queda do Muro de Berlim. “Le Petit Chinois – Tomah” de 1991, em que um homem asiático de camisa branca confronta o espectador com uma faca ensangüentada na mão, pode ser lido como a imagem de uma China desafiadora.

Nos anos 90, a gama de assuntos e modos de produzir dos artistas estão ainda mais amadurecidos. Apesar de Pierre et Gilles continuarem a fotografar celebridades, como nos retratos surpreendentes de Catherine Deneuve (1991), Nina Hagen (1993), Sylvie Vartan (1994) e Juliette Greco (1999), eles são capazes de produzir imagens tanto bem-humoradas, como o exagerado “Eu te amo – Dominique Blanc” (1992), quanto melodramática, como “Le Papillon Noir – Polly” (1995). Algumas das imagens mais recentes introduziram um tom melancólico que é novo para o trabalho da dupla, evidenciado pelo olhar distante de seus modelos favoritos: “Tentation – Jiro Sakamoto” (1999) ou nos capacetes aparentemente vazios em “Autoportraits sans Visage” (1999). Mas sua série mais elaborada dos anos 1990, “Les Plaisir de la Forêt”, que compreendem cenas eróticas numa floresta norturna, destaca a combinação de tensão erótica, cenários executados de forma elaforada e atenção ao mínimo detalhe que caracteriza a obra supreendentemente diversa de Pierre et Gilles.

Em novembro de 2009, a dupla inaugurou, pela primeira vez no Brasil, a exposição “A apoteose do sublime” no espaço Oi Futuro na cidade do Rio de Janeiro, como parte das comemorações do Ano da França no Brasil. Marcus de Lontra, curador da exposição, aproxima Pierre et Gilles do Brasil, especialmente da capital carioca, pois os artistas carregam essa vertente do deboche, do sensual, do Kitsch: “O trabalho de Pierre et Gilles, cheio de vitalidade, é próximo do espírito brasileiro. Tendo em vista sua exuberância, intensidade cromática, sensualidade e mistura tipicamente Kitsch, nos fazendo remeter às alegorias e fantasias dos desfiles de escolas de samba brasileiras.”

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Ainda, segundo o curador, outra semelhança das obras da dupla com o Brasil são as muitas referências aos santos. Uma delas, que tem como modelo o brasileiro Jaime de Oliveira, e foi realizada especialmente para a exposição no Rio, representa São Sebastião, o padroeiro da cidade.

Em estrevista aos jornais locais, os artistas destacaram a dimensão internacional do seu trabalho: “No Japão, alguns se identificaram com a mistura de violência e doçura das nossas telas. Na Rússia, com a referência aos ícones de santos ortodoxos. Aqui, podemos notar, além das imagens religiosas, a sensualidade e a leveza, mas também esse lado triste da saudade, que fazem parte do nosso universo”, observou Gilles Blanchard.

Ainda, aproveitando a visita ao Brasil para a abertura da exposição, a dupla buscou em nosso país inspiração para futuras obras. “Estamos muito interessados na figura de Iemanjá e nos sincretismos afro-brasileiros”, disse Pierre Commoy.

Para concluir: a obra de Pierre et Gilles “é deliberadamente fundida com a cultura popular no tempo presente. Os artistas, criaram um mundo visual em que o artifício e realidade são inseparáveis. Empregando adereços, maquiagem, figurino e iluminação que acentuam a qualidade progressiva de seus conjuntos fotográficos, Pierre et Gilles perseguem um ideal de beleza em suas extravagantes fotografias pintadas à mão que destroem sistematicamente qualquer distinção entre kitsch e a expressão do sublime. Ambos, os artistas e seus temas, parecem insistir na completa credibilidade de seus personagens alegóricos, ao mesmo tempo em que se deleitam na evidência de que tudo em suas fotos é uma ilusão.

PEIXE-LUA

UM HELICÓPTERO EM CAPIM GROSSO

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

O PAPA DO HITLER

 

'Papa de Hitler' ou 'salvador dos judeus'?: quem foi Pio 12 e por que seu papel na 2ª Guerra segue polêmico

O então Cardeal Pacelli ao deixar a Presidência alemã na década de 1920

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Legenda da foto,

Antes de se tornar papa, cardeal Pacelli foi núncio na Alemanha, pelo que mais tarde foi acusado de ser colaborador nazista

  • Author,Juan Francisco Alonso
  • Role,BBC News Mundo

"O mais atroz das coisas más, das pessoas más, é o silêncio das pessoas boas".

Essa frase atribuída ao líder indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) ilustra perfeitamente a polêmica que durante décadas envolveu a figura de Eugenio María Giuseppe Giovanni Pacelli (1876-1958), que entre 1939 e 1958 ocupou o trono de São Pedro, no Vaticano, sob o nome de Pio 12, especialmente pelas suas ações durante a 2ª Guerra Mundial.

Uma polêmica que foi reavivada nos últimos dias com a descoberta nos arquivos do Vaticano de uma carta enviada em 1942 por um padre jesuíta alemão, membro da resistência antinazista na Alemanha, ao secretário de Pio 12, Robert Lieber.

Na carta, o religioso relatava o que estava acontecendo em três campos de concentração (Belzec, Auschwitz e Dachau), para onde eram enviados judeus e opositores.

A descoberta da epístola confirma que altos funcionários do Vaticano, possivelmente incluindo o próprio papa, tinham há muito conhecimento do extermínio dos judeus nos territórios ocupados pelas forças de Adolf Hitler (1889-1945) e, apesar disso, não o denunciaram publicamente.Pule Matérias recomendadas e continue lendo


Fim do Matérias recomendadas

Esse silêncio é a razão pela qual muitos historiadores e setores da comunidade judaica consideram o falecido pontífice, que desde 2009 é um aspirante a santo, um cúmplice do Holocausto.

Mas o silêncio papal foi decorrente da indiferença de Pio 12 ou foi parte de uma estratégia para evitar males maiores?

Documentos do Pontificado de Pio 12

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Em 2020, o papa Francisco ordenou a abertura de todos os arquivos relativos ao pontificado de Pio 12 para esclarecer dúvidas sobre ele

Fachada?

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Brasil Partido

João Fellet tenta entender como brasileiros chegaram ao grau atual de divisão.

Episódios

Fim do Podcast

Durante os 19 anos de seu pontificado, Pio 12 publicou 40 encíclicas e, embora oito tenham sido publicadas durante a guerra, nenhuma delas menciona a perseguição e o extermínio de judeus e outras minorias.

Uma das poucas menções públicas do papa ao genocídio perpetrado pelas forças de Hitler ocorreu na véspera de Natal de 1942, mesmo ano em que seu secretário recebeu a carta recém-encontrada.

"Este voto (a favor de um mundo mais justo) que a humanidade deve às centenas de milhares de pessoas que, sem culpa própria, às vezes apenas por razões de nacionalidade ou raça, se encontram destinadas à morte ou a uma aniquilação progressiva", declarou Pio 12 em um discurso no rádio, sem especificar qual grupo que estava sendo aniquilado.

Por quê? Não lhe interessava o destino dos judeus?

"Pio 12 escolheu a política do silêncio para salvar vidas", defende Dom Vicente Cárcel Ortí, autor do livro 'Pio 12 (1939-1958): O papa defensor e salvador dos judeus', à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

O historiador e pesquisador espanhol argumenta que o pontífice optou por não confrontar publicamente os nazistas para atingir dois objetivos: por um lado, não desencadear a raiva de Hitler e assim evitar que a perseguição contra judeus e católicos se intensificasse; por outro, lançar ao mesmo tempo uma operação humanitária nas sombras.

"O papa ordenou a abertura das igrejas, escolas, conventos e universidades de Roma para esconder os judeus romanos (…) ele permaneceu em silêncio, porque estava muito bem informado do que estava acontecendo na Europa ocupada, como confirma este documento que acabou de vir a público", acrescenta Cárcel Ortí.

Franco preside um desfile militar com outros soldados em 1940

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Pio 12 foi um anticomunista ferrenho e, por isso, não hesitou em saudar com "alegria" o triunfo de Francisco Franco na Guerra Civil espanhola

Segundo o especialista, o pontífice enviou núncios (embaixadores), bispos, padres e freiras para resgatar secretamente milhares de perseguidos.

Alguns autores afirmam que até 900 mil pessoas conseguiram escapar dos campos de concentração graças a essa operação.

"Estas coisas foram feitas porque o papa deu ordens específicas para fazer todo o possível para salvar os judeus", afirma Cárcel Ortí.

Andrés Martínez Esteban, professor de História da Igreja da Universidade de San Damaso, na Espanha, concorda.

Ele lembra que "nos arquivos do Vaticano há evidências que comprovam que quando Roma foi invadida (em 1943) pelo Exército nazista, foi pedido à comunidade judaica que entregasse uma certa quantidade de ouro, e o papa deu ordem às paróquias romanas para darem todo o ouro que tivessem e assim ajudarem os judeus a fazer o pagamento."

No entanto, o pesquisador britânico John Cornwell rejeita essa tese e garante que há poucas evidências para sustentá-la.

"Não há dúvida de que muitos católicos — padres, freiras e fiéis — em toda a Europa ocupada salvaram muitos judeus, mas acho escandaloso que o Vaticano afirme que isso aconteceu graças às instruções do papa", diz à BBC News Mundo o autor do polêmico livro 'O Papa de Hitler'.

"Há muito poucas evidências que indiquem que o papa tenha pedido aos seus subordinados que fizessem qualquer coisa para salvar os judeus da perseguição", acrescenta.

Bento 16 reza no túmulo de Pio 12 sob a Basílica de São Pedr

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Em 2009, o então Papa Bento 16 iniciou o processo de beatificação do polêmico Pio 12, decisão que foi criticada pela comunidade judaica

Menos é mais

Tanto Cárcel Ortí como Martínez Esteban argumentam que o silêncio papal, em certa medida, ocorreu a pedido dos bispos alemães, holandeses ou poloneses, em meio às consequências que qualquer pronunciamento de uma autoridade eclesiástica acarretava.

"Quando os bispos holandeses publicaram uma carta em 1942 condenando a perseguição nazista aos judeus na Holanda invadida, o Exército alemão assaltou as igrejas e conventos, e Edith Stein foi detida lá", recorda Martínez Esteban.

Stein, hoje mais conhecida como Santa Teresa Benedita da Cruz, era uma freira de origem judaica, que se converteu ao catolicismo e morreu no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia.

Martínez Esteban afirma que Pio 12 não poderia falar publicamente sobre o Holocausto porque havia graves ameaças contra a Igreja Católica em todo o mundo, mas particularmente nos territórios invadidos.

"Não esqueçamos que Roma foi invadida pelos nazistas", diz ele.

Por sua vez, Cárcel Ortí defende haver documentos que comprovam que Hitler planejou invadir o Vaticano e prender Pio 12, e depois levá-lo prisioneiro para a Alemanha, tal como Napoleão Bonaparte fez com Pio 6º dois séculos antes.

Cornwell, por sua vez, não só acredita que a atitude de Pio 12 durante a guerra foi questionável, mas mesmo antes do conflito.

"Suas ações antes da guerra foram muito favoráveis aos interesses nazistas", diz ele.

"Ele negociou diretamente a Reichskonkordat (Concorda com o Reich), através da qual a Igreja Católica conseguiu continuar a desenvolver as suas atividades na Alemanha, especialmente mantendo as suas escolas abertas, mas em troca prometeu não interferir nos assuntos políticos", lembra.

"Essa negociação implicou que os religiosos fossem proibidos de fazer qualquer crítica ao Estado alemão e graças a isso os jornais católicos, que eram muitos, também desapareceram", explica.

Pio 12 vinha de uma família romana, aristocrata, muito religiosa e com laços profundos com o papado: seu avô paterno ocupou um alto cargo na Secretaria de Finanças do Vaticano durante o pontificado de Pio 9 e um de seus primos foi assessor de Leão 13.

Pio 12 rezando

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Segundo os seus defensores, Pio 12 não condenou publicamente o nazismo nem a perseguição aos judeus porque não queria agravá-la

Em 1899, ele foi ordenado sacerdote e embora nunca tenha realizado trabalho pastoral (numa paróquia), conseguiu ascender rapidamente.

Até a sua eleição como pontífice em 1939, o então cardeal Pacelli serviu como Secretário de Estado do Vaticano (cargo equivalente ao Ministro das Relações Exteriores no Brasil) e assumiu diretamente as negociações do acordo entre a Igreja e o novo governo nazista.

Isso porque na década anterior foi núncio naquele país.

Precisamente a sua experiência na Alemanha com os nazistas foi, segundo alguns autores, a razão pela qual os seus colegas cardeais o escolheram para chefiar a Santa Sé.

Eles acreditavam que suas habilidades diplomáticas serviriam para apaziguar a sede de guerra de Hitler.

Vitral de la santa Edith Stein, ahora Santa Teresa Benedicta de la Cruz

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

O caso da freira de origem judaica Edith Stein é citado por especialistas como uma das consequências das críticas dos hierarcas católicos aos nazistas

Uma campanha fabricada pela KGB

No final da 2ª Guerra Mundial, a imagem do pontífice parecia imaculada e, após a sua morte em 1958, líderes judeus como Golda Meir, que na época era chanceler de Israel e viria se tornar premiê daquele país de 1969 a 1974, exaltavam a sua figura.

"Durante os dez anos de terror nazista, quando o nosso povo passou pelos horrores do martírio, o papa levantou a voz para condenar os perseguidores e solidarizar-se com as suas vítimas", escreveu Meir.

Por outro lado, o rabino-chefe de Roma durante a guerra, Israel Anton Zoller, não só se converteu ao catolicismo em 1945, como foi batizado com o nome de Eugene em homenagem ao papa.

No entanto, isso mudou na década de 1960, quando o falecido escritor alemão Rolf Hochhuth publicou a sua obra 'O Vigário', na qual questionava o silêncio papal durante a guerra.

"Este escritor foi financiado pelos serviços secretos da antiga União Soviética (URSS), que lançaram uma campanha difamatória contra a Igreja Católica nos anos mais duros da Guerra Fria", opina Cárcel Ortí.

Mas qual era a motivação de atacar um papa já morto?

Para o historiador, "Pio 12 era anticomunista ferrenho e contra ele foi implementada (logo depois de sua morte) uma grande campanha para desacreditá-lo — chegaram a acusá-lo de ser colaborador dos nazistas, quando ele era exatamente o oposto", diz o especialista.

Atribui-se a Pio 12 a autoria da encíclica Mit brennender Sorge ("Com ardente preocupação"), publicada em 1937 por seu antecessor no cargo e na qual as políticas do regime nazista eram duramente condenadas.

Sede da antiga KGB em Moscou

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Legenda da foto,

Os especialistas acreditam que as dúvidas sobre as ações de Pio XII foram semeadas por uma campanha orquestrada pela KGB

Contudo, em abril de 1939, num discurso radiofônico, o pontífice mostrou o seu lado mais conservador ao declarar a sua "imensa alegria" pela vitória do general Francisco Franco (1892-1975) na Guerra Civil Espanhola contra os seus rivais republicanos e comunistas.

Para o bispo de Roma, o triunfo dos militares garantiu que a Espanha continuaria a ser um "bastião inexpugnável da fé" contra os "prosélitos do ateísmo materialista".

El papa Pío XII con soldados americanos.

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Legenda da foto,

Algunos autores afirman que el Papa se arrepentió toda su vida de no haber hecho más por los judíos.

Beatificação paralisada

Os especialistas ouvidos pela BBC News Mundo concordam que a decisão do papa Francisco de abrir todos os arquivos do papado de Pio 12 não ajudará a resolver a controvérsia.

"Não vão esclarecer nem obscurecer nada, mas vão dizer o que já sabíamos e quem tem uma ideia pré-concebida dele não vai mudar de opinião", diz Cárcel Ortí.

Para Martínez Esteban, no entanto, não há interesse real em investigar as ações de Pio 12.

Cornwell, por sua vez, tem uma visão diferente.

"Não há quase nada nos arquivos que indique o estado mental do papa ou o que ele pensava pessoalmente. Não existem cartas ou diários privados, portanto o que muitos pesquisadores estão fazendo é adivinhar ou presumir quais eram as intenções de Pio 12".

Quando um papa morre, é praxe queimar as suas cartas e diários privados.

E, embora em 2009 o polêmico pontífice tenha sido declarado "Venerável", o seu processo de beatificação está paralisado, mas não só pela polêmica que o rodeia, mas porque até agora não foi identificado nenhum milagre que lhe possa ser atribuído, segundo autoridades eclesiásticas.