NOTÍCIAS DE MEU JARDIM

Cansei de varrer as folhas da árvore do vizinho. 
Que ideia esta tem de aguardar a primavera para 
se despir? Arrasto a velha poltrona que há muito 
tempo deveria ter sido jogada no lixo de tão 
escangalhada e me sento defronte ao mar da baía. 
Esta superfície de aço movediço uso como trampolim para o pensamento divagar, destino incerto. 

Em que penso? Em nada de especial. Fragmentos 
de imagens, pedaços de frases, de antigas canções 
chegam, me atravessam, desaparecem sem deixar 
sombra nem rastro.

Os últimos pássaros valsam, 
entrelaçando-se com os primeiros
 morcegos. Um imenso jasmim 
sobe desde o jardim. 
Três andares. Perfume de paraíso 
árabe. Lá embaixo plantei uma 
aceroleira. Hoje de manhã enchi 
um chapéu de frutinhas vermelhas. 
Vou fazer uma jarra de suco. 
Também plantei quatro pitangueiras. 
O ano passado, a colheita foi péssima. Mas há pouco estive olhando com 
atenção. Dentro de uns dez dias, 
se os pássaros deixarem, cozinharei 
uma bela geleia. Um luxo! Lembro da batida de pitanga da Casa da Gamboa. 
Foi um dos argumentos, só agora confessado, que me levaram a abandonar a Europa. 

Também tenho dois grupos de bananeiras. Banana maçã. Outro luxo! Mal um cacho é cortado, sou obrigado a distribuir sem demora, antes que apodreçam. 
Qualquer dia vou colocar uma cadeira no passeio e vender... 
Ah! Ia esquecendo: Perto do caramanchão, um pé de beribéri dá aquela frutinha azeda com uma velocidade que me desespera. 
O que fazer com tamanha produção?

Meus vizinhos Camila e Álvaro – charmoso casal caído do céu -
 me deram uma muda de maracujá. Já começou a crescer 
direitinho. Que fruta, hein! 
E as flores, não são estranhas? Conheço até quem odeia sem 
saber explicar porquê. Gostos...

Meu amigo Bruno me prometeu uma jabuticabeira. Plantarei no 
lugar do pé de graviola que morreu antes da hora.
Vai ser mais farra para a passarada!
 Quando comecei a escrever, pretendia falar de coisas profundas. Acabei abrindo a porta de meu jardim. E só falei de frutas!