quarta-feira, 26 de abril de 2017

PRESERVAR NÃO É PARAR NO TEMPO

Neilton Dórea

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A Cidade da Bahia, preservação da sua história com preservação da imagem da cidade e dos seus cidadãos, ou simplesmente: não deixar cair, nem matar quem está morando ao lado ou ao passar próximo...
História faz parte, sendo diretamente ligada a cultura de uma sociedade. É uma sedimentação impositiva de diversos fatos, eventos e procedimentos ocorridos no tempo. A imagem de uma cidade é contada em cada quebrada de esquina, ou a cada espaço de uma praça “explodida” na malha urbana, demonstrando como a história desta cidade foi construída Como e por quem. Detalhes mínimos revelam cuidados, ou descuidos, com esta história. O preservar sua topografia, sua malha urbana e as diversas edificações dos diversos anos é deixar, é contar e imprimir uma personalidade única, que dignifica seus habitantes, e atraindo visitantes, em busca de se impregnar com o diferenciado, o inusitado e a plasticidade diversificada. É a busca da surpresa que atrai, não o mesmo de sempre. É a informação advindo da pesquisa e da reflexão constante, não a estagnação. 
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Preservar não é parar no tempo e no espaço, mas sim avançar por deixar as marcas de cultura no sentido mais amplo, ao deixar transparecer a economia, o cotidiano, a gastronomia e com os procedimentos sociais, que esta invenção humana chamada de CIDADE apresenta nos seus mais diversos aspectos, seja qual for a sua escala, ela terá sua marca e personalidade, desde quando os seus habitantes, e principalmente seus gestores a entenda e respeite suas características evolutivas e construtivas de seus diversos períodos. Há de se ter uma visão ampla com uma metalinguagem do conhecimento universal exatamente para fortalecer o “locus”. Mas, infelizmente não é o que estamos vendo em nossa cidade da Bahia. Parece haver uma decisão, um complô entre os gestores, vereadores, empresários e alguns arquitetos para desqualificar e destruir o imagético paisagístico e arquitetônico desta cidade tropical, também abençoada por Deuses ( todos mesmos, todos...) e pela natureza ( copiando o poeta Benjor ). 

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Parece haver um cronograma com meta destrutiva, implantado a partir da década de sessenta, com um intuito de uma desfiguração total em busca de uma linguagem de imagem alienígena, de gosto e personalidade bastante discutível. E num sentido inverso, ao importar soluções e situações urbanísticas com expressões técnicas e plásticas que não estão sendo coerentes com as buscas constantes de visuais mais amplas e mais humanas, nas quais o homem é o valorizado. Para o qual os investimentos são direcionados, buscando o bem estar, o conforto e a segurança como reflexo de uma boa formação e educação. Não a segurança militarizada que não resolve, e cada dia mais tem que ser ampliada por não equacionar e nem resolver um problema de base. 



O circular por nossa Cidade da Bahia, nos impacta ao vermos a nossa história e cultura cada vez mais desprezada e vilipendiada por quem deveria cuidar e preservá-la. Não há um saber que investir em preservar, dará um retorno social e econômico, além de garantir o emocional dos seus habitantes ao saber, e ver, que o ambiente não está degradado. É dar um estímulo e garantir a continuação e manutenção por seus habitantes dos espaços e das edificações. É uma questão de auto estima. Investimentos menores e pontuais, com certeza, se forem bem planejados com prazos e continuidade administrativa, trarão melhores resultados no dia a dia, e no viver dos cidadão. 

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A acupuntura urbana tão defendida e feita com sucesso, e copiada mundialmente, por Jaime Lerner. A transparência e o diálogo nos projetos e nos investimentos é reflexo de uma gestão democrática, direcionada para cidade e seus cidadãos. Todavia temos uma constante de atitudes tecnocratas incompetentes, nas quais propõe-se um plano global (o tal Salvador 500) para depois ser detalhado posteriormente, é apresentado com estardalhaço, e, simplesmente, deixam-no estagnado e partem para o detalhamento que interessa aos grupos empresariais ( PDDU, LOUS e Código de Obras, este último seria o mais importante para eles ), do retalhamento da malha urbana e a ampliação espacial maximizada, para atender interesses comerciais e financeiros destes empresários .investidores e mantenedores de campanhas políticas, as quais não envolvem os cidadão , nem tão pouco a cidade, e a qualidade de vida de ambos.

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O deixar desmoronar a história da cidade, tornando-a desfigurada e desqualificada plástica, humana e socialmente, É algo que qualquer cidadão consciente busca entender esta atitude de tão grande falta de sensibilidade, ou simplesmente começa a se perguntar se isto não faz parte de um projeto maior, de grupos interessados, e aliados dos gestores (Prefeitura, Câmara, Ipac, Iphan e outros), em processos de gentrificações de áreas, possivelmente, promissoras? E quando este “desleixo” passa a custar vidas de cidadãos, como tem ocorrido, e como ocorreu na Ladeira da Soledade. Quem vai ser responsabilizado? 

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A culpa, com certeza, foi de quem morreu por acreditar que teria garantida a vida, mesmo sendo vizinho de um casarão escorado, com a mais “alta tecnologia” de escoramento, feito há alguns anos, e sem a mínima programação de acompanhamento e fiscalização deste, pelos órgãos (in)competentes. E como aceitar, e entender, a tal mídia que se apressa em entrevistar, ao vivo, uma sobrevivente e mostrar imagens do antes e do depois, com a devida competência tecnológica, todavia não vai perguntar diretamente, também ao vivo, aos responsáveis o motivo de tanto descaso e desleixo. E o “desvio” de verbas monumentais para festas de Ano e carnavais em locais que necessitam de investimento, até para qualificar estas festas.

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 É hora de cobranças mais incisivas, urgindo cobranças das respostas de modo amplo, claro e respeitando a cidade e seus cidadãos.
E aí , Exmo Sr. Prefeito e Sr. Governador? E aí, Senhores Secretários? E aí, srs. gestores do IPAC e Iphan? E aí, Ministério Público?

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