PUBLICADO EM SETEMBRO DE 2015
Cuidadosamente penteada e devidamente perfumada, ela declarou “Odeio a classe média!” A plateia, pega em flagrante de má consciência, deu constrangida risada. Mas afinal, o que é classe média? Nos EUA, são os que ganham a partir de U$18.700,00 por ano. Já o governo brasileiro determinou em 2013 que nossa classe média era quem ganhava mensalmente entre R$291,00 – parece brincadeira - e R$1.019,00. Portanto, quem ganha R$1.100,00 é um privilegiado. Queira me perdoar o leitor se eu, sempre mal intencionado, interpretar isso como pura e descarada demagogia.
Com licença: minha definição de classe média é outra. Classe média, longe das flexíveis estatísticas políticas, é aquele montão de anônimos que permite a gigantesca máquina social de avançar, produzir e empregar. É o engenheiro que projeta estradas e impede o novo edifício de desmoronar, é o médico que tão bem cuidou de minha saúde no ano passado, é o advogado que me impede de publicar o impublicável, é o editor, o fotógrafo, o dono da venda ao lado. É o antropólogo que não deixa os últimos silvícolas serem poluídos pela nossa obsessão em comunicar. É o estilista que desenhou os sapatinhos da professora, o cacauicultor que está na origem do brigadeiro que, neste momento, derrete na sua boca. É a dona da pousada que faz pelo turismo muito mais que os órgãos oficiais, é o restaurador, usando de produtos que podem afetar sua saúde, que mantêm nossa memória histórica e cultural. É o auditor fiscal que tenta obrigar os ricaços a pagar seus impostos.
A classe média, minha gente, nos deu Beethoven, Voltaire, Glauber Rocha, Milton Santos. E não só – apertem o cinto de segurança! – mas também os que mudaram o rumo da história: Garibaldi, Engels, Carlos Prestes, Rosa Luxembourg, Napoleão, Fidel Castro, Juscelino Kubitschek, Che Guevara e Karl Marx. Então, professorinha, pare de ostentar seus preconceitos classistas! Você também é classe média!
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