terça-feira, 9 de maio de 2023

A AMAZÔNIA É AQUI E AGORA

Projeto do condomínio em Boipeba. Igualzinho a qualquer outro em país de clima tropical

  

Temos a obrigação de preservar o pulmão verde do planeta. Os povos da floresta merecem todo nosso respeito. Poluir os rios com mercúrio é crime. O ouro não pode ser mais importante que o ser humano. A Amazônia é nossa!

Verdades básicas ou chavões, estas afirmações são repetidas à exaustão como mantra por redes sociais, imprensa escrita e televisiva. Mas todos esses belos discursos só valem para terras longínquas que ainda não foram abocanhadas pela especulação imobiliária sob o amplo manto do Progresso. Lá, o acesso é difícil, os banhos arriscados, o clima pesado e ainda não virou moda.

Já as terras costuradas por longas faixas de areias douradas deslizando por baixo de águas cristalinas e tépidas... Agora a noção de respeito opera uma reviravolta de 180°. Pra quê tanto coqueiro e amendoeira? Tira tudo, coisa mais besta! Trazemos modernidade, cimento e paredão. Na outrora paradisíaca ilha de Boipeba, como em Stella Maris, chegou a ditadura da retroescavadeira, do guindaste e da betoneira.

Duas das oito torres, sem qualquer criatividade arquitetônica, que irão agredir Stella Maris.


   Uma sugestão: Ao sobrevoar o litoral baiano, indo ou vindo do Sul Maravilha, observe com a máxima atenção os édens que se estendem ao longo do Atlântico. Fotografe, faça vídeos. Guarde a memória destes instantes para mostrar a seus netos como era bela a Bahia que eles não terão a sorte de conhecer. 

Ainda durante quantos anos teremos o privilégio desta solidão?

Daqui a vinte anos o rolo-compressor terá esmagado todas as diferenças. Nada restará daquilo que um dia fora a realidade de nossos desejos, quando íamos ao encontro da natureza tal qual a desfrutaram Pero Caminha e Tomé de Souza.  Adeus, areias virgens de pegadas e cantos do sabiá e do bem-te-vi. Tudo não será mais que uma interminável sucessão de condomínios horizontais e verticais, entrecortados por favelas, pois gente fina tem que ser servida. A beira da piscina ao meio-dia ou em noite de luar no gazebo.

Temos que aceitar como Progresso a troca do barco de pesca pela portaria do hotel de luxo com vênia aos famosos do momento? A ciranda com sanfona e triângulo abandonada pelos BBB de uma tela de 42 polegadas e a peixada pelo hambúrguer McDo?

 



Esta imposição do que é bom para a sociedade, baseada em referências consumistas e imediatistas, tem que ser questionada e combatida. Os povos, sejam quilombolas, silvícolas, pesqueiros ou catingueiros têm direito a suas próprias formas de vida, baseadas em culturas ancestrais. Que a noção de felicidade deles não seja a sua não significa que eles estejam errados.


Erradas talvez sejam nossas escolhas. É realmente essencial ter dois carros com garagem no subsolo? Fazer compras no shopping do momento em vez do comércio de rua? Porcelanato é melhor que tabuado? Acrílico que tinta d´água?

Viva numa bolha se quiser. Mas respeite quem recusa os paraísos artificiais.

 

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