Temos a
obrigação de preservar o pulmão verde do planeta. Os povos da floresta merecem
todo nosso respeito. Poluir os rios com mercúrio é crime. O ouro não pode ser
mais importante que o ser humano. A Amazônia é nossa!
Verdades
básicas ou chavões, estas afirmações são repetidas à exaustão como mantra por redes
sociais, imprensa escrita e televisiva. Mas todos esses belos discursos só
valem para terras longínquas que ainda não foram abocanhadas pela especulação
imobiliária sob o amplo manto do Progresso. Lá, o acesso é difícil, os banhos
arriscados, o clima pesado e ainda não virou moda.
Já as terras
costuradas por longas faixas de areias douradas deslizando por baixo de águas
cristalinas e tépidas... Agora a noção de respeito opera uma reviravolta de 180°.
Pra quê tanto coqueiro e amendoeira? Tira tudo, coisa mais besta! Trazemos
modernidade, cimento e paredão. Na outrora paradisíaca ilha de Boipeba, como em
Stella Maris, chegou a ditadura da retroescavadeira, do guindaste e da
betoneira.
Duas das oito torres, sem qualquer criatividade arquitetônica, que irão agredir Stella Maris. |
Uma sugestão: Ao sobrevoar o litoral baiano,
indo ou vindo do Sul Maravilha, observe com a máxima atenção os édens que se
estendem ao longo do Atlântico. Fotografe, faça vídeos. Guarde a memória destes
instantes para mostrar a seus netos como era bela a Bahia que eles não terão a
sorte de conhecer.
Daqui
a vinte anos o rolo-compressor terá esmagado todas as diferenças. Nada restará
daquilo que um dia fora a realidade de nossos desejos, quando íamos ao encontro
da natureza tal qual a desfrutaram Pero Caminha e Tomé de Souza. Adeus, areias virgens de pegadas e cantos do
sabiá e do bem-te-vi. Tudo não será mais que uma interminável sucessão de
condomínios horizontais e verticais, entrecortados por favelas, pois gente fina
tem que ser servida. A beira da piscina ao meio-dia ou em noite de luar no
gazebo.
Temos
que aceitar como Progresso a troca do barco de pesca pela portaria do hotel de
luxo com vênia aos famosos do momento? A ciranda com sanfona e triângulo
abandonada pelos BBB de uma tela de 42 polegadas e a peixada pelo hambúrguer
McDo?
Esta
imposição do que é bom para a sociedade, baseada em referências consumistas e
imediatistas, tem que ser questionada e combatida. Os povos, sejam quilombolas,
silvícolas, pesqueiros ou catingueiros têm direito a suas próprias formas de
vida, baseadas em culturas ancestrais. Que a noção de felicidade deles não seja
a sua não significa que eles estejam errados.
Erradas talvez sejam nossas escolhas. É realmente essencial ter dois carros com garagem no subsolo? Fazer compras no shopping do momento em vez do comércio de rua? Porcelanato é melhor que tabuado? Acrílico que tinta d´água?
Viva numa
bolha se quiser. Mas respeite quem recusa os paraísos artificiais.
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