Enquanto o caçador de marajás abocanhava a conta corrente dos otários, moi entre milhares, para tentar equilibrar o orçamento organizei jantares na minha casa do Santo Antônio. As “tables d´hôte” tiveram bem-vindo êxito. Alívio!
Ele apareceu
numa daquelas noites de quinta-feira. Era um famoso, pelo menos dentro daquilo
que o Faustão considera fama. Revistas de fofocas, pedidos de autógrafos... Para
mim, famoso é Bill Gates, Picasso, Kubitschek, Zubin Mehta. Mas sejamos
honestos: trata-se de um bom profissional. E estava bem acompanhado. Adorou o
uso de ladrilhos hidráulicos na entrada. Muita risada.
Voltou umas
três ou quatro vezes, a qualquer hora de qualquer dia, para mostrar minha casa
a amigos. Sem pré-aviso. Gente famosa é assim. Muito à vontade com a agenda dos
outros, desde que não sejam também famosos.
Acabou
comprando uma casa no bairro. Arquiteto-decorador paulista também famoso, como
podem imaginar. Caprichou. O resultado logo amplamente fotografado nas tais revistas.
E não é que,
por algum bizarro motivo, mesmo depois da casa pronta, veio de novo bater à
minha porta com mais amigos? Sem pedir desculpa pelo incômodo. Mais uma vez
mostrei meu Buckingham, meu Versalhes, meu bazar. Paredes cobertas de obras de
artistas hoje conhecidos na Bahia. Alguns de outras terras. Ninguém deu a
mínima olhada. Ah! Mas que vista linda! Isso é verdade. A vista sobre o jardim,
o porto e as ilhas é espetacular. Na saída, sem agradecer, me deu seu cartão de
visita, acrescentando: “Apareça! ”.
Naqueles
tempos longínquos, eu já não era criança nenhuma. O que restava de cabelo, tudo
grisalho. E você acha que eu ia sair de minha toca para, sem mais nem menos, ir
tocar a campainha da porta do tal famoso? Assim, a qualquer hora de qualquer
dia ou noite?
E se ele,
naquele exato momento, estivesse com dor de dentes ou diarreia? Brigando com o
amor do momento? Acabando de receber a notícia de um contrato quebrado? Ou uma
conta astronômica e inesperada para pagar em 24 horas?
Naquele
exato momento de aporrinhação máxima um velho chato vem bater à minha porta? Nem
me lembro de quem é. Zé! Diga que viajei para Taiwan!
Não aceito
nunca convite para “aparecer lá em casa”, sem que esteja devidamente
especificado dia, hora e proposta. É geladinha na laje ou jantar sentado à luz
de vela? Vou de bermuda ou camisa social?
Aparecer
assim, sem mais nem menos? Nem pensar!
A bem da
verdade, hoje os convites são raros, a não ser para lançamento de livro. Obrigado
pelo convite, Paulo Martins e Luís Afonso Costa, mas a expectativa de ficar
horas em pé fazendo fila para pegar autógrafo, me apavora. Tanto andei por
ladeiras, ribeiras e trilhas que hoje as pernas reclamam brabo. Pagamos por
aquilo por onde pecamos.
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