DEUS DO LADO ERRADO

 Mulher consolou marido envolvido em esquema de manipulação de jogos após zagueiro não cumprir acordo: 'o segredo é não desistir'

Conversas mostram que investigado ficou contrariado ao ver que Eduardo Bauermann, do Santos, não havia recebido cartão vermelho, como combinado. Jogador foi afastado.

Por Wesley Bischoff, 

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Mulher consolou companheiro que é investigado em esquema de apostas — Foto: Reprodução

Conversas mostram que um dos réus por manipulação jogos de futebol do Campeonato Brasileiro de 2022 foi consolado pela mulher após um zagueiro não cumprir com o acordo de receber cartão vermelho em uma partida. "O segredo é não desistir", escreveu a mulher ao companheiro.

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O apostador investigado que aparece na troca de mensagens é Romário Hugo dos Santos, conhecido como Romarinho. Já o jogador que não teria cumprido o acordo é o zagueiro Eduardo Bauermann, dos Santos. Ele foi afastado do time.

Tanto Romarinho quanto Bauermann se tornaram réus no âmbito da operação que investiga o esquema. Além deles, outras 14 pessoas foram acusadas de envolvimento na manipulação de jogos de futebol.

A troca de mensagens entre Romarinho e a mulher foi obtida pelo g1. Na conversa, a mulher relata estar triste pelo companheiro.

"Mas Deus tem algo muito bom e muito grande preparado pra vc bb [sic] na hora certa", escreveu.

 

Em seguida, Romarinho agradece a mulher por estar sempre ao lado dele, mas afirma estar em uma situação ruim. Ela, então, responde que rezou muito para que "desse certo".

"Infelizmente não foi hoje que deu né, mas o segredo é não desistir mesmo, que Deus tem o melhor no momento exato", disse a mulher.

 

A aposta que teria dado errado está relacionada ao jogo Botafogo x Santos. O zagueiro Bauermann chegou a receber o cartão vermelho, mas somente após o fim do jogo, o que não é contado pela casa de apostas.

Conforme as investigações, Bauermann recebeu pelo menos R$ 50 mil para participar do esquema e alterar resultados de uma partida da Série A do Brasileirão de 2022.

À época, conforme a investigação, ele deveria receber um cartão amarelo no jogo Santos x Avaí. Como não cumpriu essa parte do acordo, a investigação aponta que ele aceitou a promessa de ser expulso na partida da rodada seguinte, que era o jogo contra o Botafogo.

As conversas entre Romarinho e a mulher indicam ainda que, após o acordo não ter sido cumprido, Bauermann assinou um contrato se comprometendo a pagar R$ 1 milhão, em 20 parcelas de R$ 50 mil.

"Ótimo né, menos mal pra ressarcir o prejuízo que deu", escreveu a mulher.

 

O g1 tenta contato com a defesa dos envolvidos.

Conversa mostra suposto acordo entre jogador e apostador — Foto: Reprodução

Como a operação começou

A Operação Penalidade Máxima já fez buscas e apreensões nos endereços dos envolvidos. Os casos investigados envolvem pagamentos em dinheiro para os jogadores fraudarem situações de jogo. Entre elas, punições com cartões amarelo ou vermelho e a marcação de pênaltis.

As investigações começaram no final de 2022, quando o volante Romário, do Vila Nova-GO, aceitou uma oferta de R$ 150 mil para cometer um pênalti no jogo contra o Sport, pela Série B do Campeonato Brasileiro.

Romário recebeu um sinal de R$ 10 mil e só teria os outros R$ 140 mil após a partida, com o pênalti cometido. À época, o presidente do Vila Nova-GO, Hugo Jorge Bravo, que também é policial militar, investigou o caso e entregou as provas ao MP-GO.

Segundo o Ministério Público, o grupo criminoso cooptava jogadores com ofertas que variavam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil para que cometessem lances específicos nos jogos — como um número determinado de faltas, levar cartão amarelo, garantir um número específico de escanteios para um dos lados e até atuar para a derrota do próprio time.

Diante dos resultados previamente combinados, os apostadores obtinham lucros altos em diversos sites de apostas.