No meu último artigo, de 14/05/23, falei das previsões distópicas do futuro mundial. No que toca à Bahia, estamos correndo o risco de ver o Recôncavo se transformar no reconvexo careta, de que fala Caetano Veloso. Os últimos planos para Salvador e Recôncavo têm meio século. Os órgãos de planejamento - a CPE, a primitiva Conder e o Derba - foram extintos e retornamos ao mais primitivo “deixa fazer, para ver como é que fica” dos políticos com suas boas intenções (?) de que o inferno está cheio.
A BTS e seu Recôncavo são inseparáveis e foram a fortuna da Bahia durante os ciclos do açúcar/fumo e do petróleo. Seu potencial turístico e de lazer inexplorado é imenso. O Recôncavo poderia ser a Côte d’Azur brasileira se não fosse o bloqueio com a brida (bridge = ponte) que querem botar na boca da BTS e a destruição da ligação ferroviária de Salvador com a RMS, Recôncavo e o país com sua substituição por um monotrilho que não transporta cargas.
O CH e o Comércio também são inseparáveis, mas foram esvaziados de suas funções administrativas e de serviço com a reforma de ACM da década de 1970. Sua requalificação está ligada à introdução de novas funções com um misto de habitação, serviços e lazer.
A nova logística marítima acabou com os armazéns de sacaria e os substituiu por containers. Com isso, a maioria dos centros urbanos em todo o mundo se abriu para o mar e passou por um processo de revitalização, a exemplo do Docklands de Londres, Piers de NY, Puerto Madero em Buenos Aires, Pç. Mauá no Rio e docas de Manaus.
O Comércio portuário está decadente com ruínas e edifícios vazios, mas os armazéns demolidos da CODEBA estão sendo substituídos por outras construções e estacionamentos envidraçados bloqueando a BTS. Como se não bastasse, querem agora construir um estacionamento de dois pavimentos (6 m) no que resta de visão do Comércio para a BTS e colocar em cima uma roda-gigante de 65 m de diâmetro superando o Elevador Lacerda. Este brinquedo não o revitalizará e não durará mais que o Wet and Wild da Paralela, mas o estacionamento é para sempre. Que a coloquem na Orla ou na Paralela.
É louvável a implantação de secretarias municipais no bairro, mas isto só não basta. Seus funcionários não se transferirão para suas proximidades sem a implantação de serviços de abastecimento, saúde, educação, cultura e lazer. O Comércio precisa de um projeto de requalificação urbana de longa duração, com a participação do estado, do município e da iniciativa privada.
O preço baixo dos imóveis no bairro torna esta operação muito atrativa para a iniciativa privada se houver planejamento e incentivos. A grande mola desta operação é a abertura do Comércio para a BTS. Não podemos perder esta oportunidade de recuperar o Centro Antigo de Salvador e sua relação histórica com a BTS e o Recôncavo.
SSA: A Tarde, 28/05/2023
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