Malines é uma cidade a Norte de Bruxelas, na actual Bélgica que nos séculos XV e XVI se tornou célebre na Europa pela sua estatuária, nomeadamente pelos retábulos de altar, mas sobretudo pelas suas estatuetas de madeira, muito características, com um certo ar abonecado. Aliás, são conhecidas internacionalmente por Poupées malinoises ou Poupées de Malines.
Coleção D. Ganzelevitch
No período em que estas estatuetas ou bonecas foram executadas Portugal tinha relações privilegiadas comerciais e políticas com esta região, o Brabante, que hoje está dividida entre a Holanda e Bélgica. Nos Séculos XV e XVI, os portugueses designavam esta província, bem como outras regiões vizinhas, a Flandres (actual Bélgica), a Picardia e o Artois (hoje França), pura e simplesmente por Flandres.
O complicado mapa dos domínios de Borgonha no Séc. XV. Malines está assinalada por uma seta |
Estávamos no Período dos Descobrimentos Portugueses e o açúcar da Madeira e as especiarias do Oriente eram vendidas na Flandres e daí revendidas para toda a Europa. Esta região de países baixos, domínios de casa de Borgonha, que os portugueses conheciam por Flandres estava no centro de rotas comerciais importantíssimas. Uma rota que vinha da Península Ibérica, trazia as novidades dos descobrimentos portugueses e espanhóis. Outra vinha pelo Reno fora trazendo mercadores e mercadorias do Centro e Sul da Alemanha, até chegar à foz deste rio em Antuérpia. A Terceira rota saia da Flandres e ligava esta província por via marítima aos portos do Báltico, desde Copenhaga a Riga, passando por Hamburgo, Kiel ou Dantzig. Os portos flamengos estavam também ligados a Londres e a Paris através da foz dos rios Tamisa e Sena, respectivamente. Portanto a Flandres era uma verdadeira plataforma comercial europeia, aliás, manteve esse carácter nos dias de hoje, pois não foi por acaso, que Bruxelas foi escolhida como sede da União Europeia.
Enfim, um dos produtos que os portugueses traziam da Flandres eram estas pequenas estátuas de Madeira da cidade de Malines. Porém não compravam toda a produção local. Preferiam a Nossa Senhora com o Menino e os Meninos Jesus, mas também importaram algumas Santanas (tríplices), Santas Bárbaras Santos Antónios e Stas. Margaridas.
Menino Jesus de Malines do Museu da Guarda |
Estas figurinhas eram muitas vezes dispostas em retábulos, representando um jardim e fechados por painéis soberbos pintados a óleo. Em Portugal não se conhece nenhum exemplar destas espécies de oratórios, designados por jardins clos, mas há quem pense que possam ter influenciado de alguma forma o aparecimento dos presépios portugueses.
Quanto a estes Meninos Jesus de Malines, de que a Nossa Seguidora tem a sorte de dispôr deste exemplar, são facilmente reconhecíveis pelas suas coxas exageradamente roliças, mas há outras características que os identificam. São sempre representados nus, sob a forma de Salvador do Mundo, abençoando com a mão direita e segurando na esquerda a esfera do mundo.
As coxas dos Meninos Jesus de Malines são sempre exageradas |
As proporções do corpo são sempre idênticas, isto é, a altura das pernas até ao púbis é igual à altura do púbis à raiz do pescoço. As nádegas são pequenas e as coxas exageradas. O rosto é flamengo, optimista e o cabelo é encaracolado e cortado numa espécie de tijela.
Os meninos Jesus de Malines são talvez as primeiras imagens de um culto extremamente popular em Portugal, que atingiu o seu apogeu nos conventos femininos nos dois séculos seguintes.
IMAGENS DE MALINES DO MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA - Imagens de Malines do Museu Nacional de Arte Antiga. - Lisboa : Museu Nacional de Arte Antiga, 1976. - 58 p. : il. ; 25 cm
FERRAO, Bernardo - Imagens de Malines em Portugal / Bernardo Ferrão de Tavares e Távora. - Porto : Museu, 1975. - 262 p. : il. ; 24 cm
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