Reclamam de Tirolesa, mas nem um pio pelo Patrimônio Histórico do Centro do Rio
Alguns (des)formadores de opinião me parecem ter sofrido de desnutrição na primeira infância, ou apenas falta de caráter, ou quem sabe apenas o que querem da vida é falar só de coisas que lhes dê mais espaço na mídia. Só isso explica a atenção que deram para uma não-notícia, que é a nova Tirolesa do Pão de Açúcar, intervenção boba e simples, mas que fantasiaram tudo sobre ela: desde que o Pão de Açúcar iria perder o título de Patrimônio da Humanidade concedido pela Unesco, a loucura (fonte: vozes na cabeça) que iam retirar todas as árvores desta montanha e do Morro da Urca, ah, e claro, os 3 caminhões de rochas que teriam sido retirados, junto talvez, do gorro do saci.
O que choca é a total ausência de comentários dessa gente e dos pseudourbanistas, que não deram um pio sobre o desabamento de um sobrado histórico na Travessa do Comércio, no Centro do Rio, por cima de outro, destruindo 2 dos menos de 20 imóveis do único conjunto arquitetônico totalmente íntegro compondo toda uma rua dos séculos 18 e 19 no Rio. Tudo num conjunto de bens culturais tombados único.
Antes
Depois
A região, onde andaram personalidades
históricas de nossa cidade, ao lado da Igreja da Nossa Senhora da Lapa
dos Mercadores, da famosíssima Rua do Ouvidor e da não menos famosa
Rua do Mercado, no complexo do Arco do Teles,
naquilo que gosto de chamar de Pequena Lisboa. A
região me é muito querida, ao ponto de ter começado um livro sobre ela, e claro
que entendo que muitos não tenham o mesmo amor pela região. Mas participo de
vários grupos onde estaria a “elite carioca“, onde
nem deram um pio sobre o desabamento, sobre a ruína da memória de uma cidade
que ninguém nem lembra que foi capital de um império europeu, desde os
trópicos. Nem que fosse para reclamar do abandono do Patrimônio Histórico da Cidade, da falta de
investimentos públicos, de iniciativa, do que quer que fosse.
Mas do que eles teriam a reclamar?
Afinal, ali ninguém iria lucrar como no caso da Tirolesa, ou quem sabe, se no
imóvel que desabou, fosse feita uma obra pra fazer um café aparecessem gritando
que a porta não deveria ser verde e sim azul. Aposto que, neste caso, o
pré-candidato a prefeito do PSol, Tarcisio Mota,
talvez tivesse se manifestado. Mas ele que quer governar a cidade não deu um
único tweet sobre o ocorrido! O professor de história que não tá nem aí.
Triste. E olha que é alguém que frequenta a região durante o Carnaval… fácil se
lembrar do Centro Histórico nos dias de festa.
Já o adversário de Tarcisio, o
prefeito Eduardo Paes apesar do silêncio de todos, se
manifestou no dia do desabamento prometendo ser mais rigoroso com quem deixa
prédios históricos abandonados. No dia seguinte foi ao local, genuinamente
preocupado que isso ocorresse em outros edifícios, buscando uma forma de que os
donos que deixam seus imóveis chegarem a este estado sofram multas pesadas e
possam ter seu bem desapropriado. É justo. Sou capitalista mas é justo. Tem que
tomar mesmo. Se não dão valor, há quem dê!
Estive no local e vi o Prefeito e seus
Secretários buscando soluções. Vi também o representante do proprietário (ALP Participações, uma firma de Barra Mansa)
chegar animadamente perguntando se o Iphan – cujo
superintendente estava presente também – “ia dar o prédio como demolido”. Olha o que este povo quer
fazer com a história do Brasil. Fiquei muito alegre ao ver uma representante do
Iphan responder a ele que não, que seu chefe, que comprou o imóvel num leilão
por 875 mil reais em 2018 e desde então não colocou uma demão de tinta ali no
prédio (ex-sede da Belprato), vai ter
que reconstruí-lo exatamente como era. A cara dele foi impagavel. Pelo menos ali fui feliz por 10 segundos. E alguém pode
lembrar ao desidioso proprietário que além de reconstruir o seu tem que
indenizar e reconstruir também o vizinho? Obrigado.
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