sexta-feira, 27 de outubro de 2023

SEM DESCANSO

 

Sem Descanso: exibição de filme


 sobre Geovane Mascarenhas lota


 auditório na Ufba 


A aflição de um pai na busca por respostas é mostrada em documentário de Bernard Attal

  • Yasmin Oliveira

Salvador
Publicado em 25/10/2023 

Professor Caio Bonfim, ativista Belle Damasceno, ativista Rute Fiuza, diretor Bernard Attal e jornalista Camila Fiuza. Crédito: Ana Lúcia Albuquerque/ CORREIO

A exibição do documentário “Sem Descanso” lotou um dos auditórios do Pavilhão de Aulas da Federação (PAF) V da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em Ondina. Com direito a debate e declamação de poesia marginal, os espectadores sentiram uma mistura de emoções ao ver a história de Geovane Mascarenhas, um jovem da periferia de Salvador que desapareceu após uma abordagem da Polícia Militar, e do seu pai, Jurandy Silva, que não descansou até encontrar as respostas por trás do crime.

O filme aborda o caso Geovaneque foi amplamente divulgado em reportagens do jornal CORREIO, que noticiou desde o desaparecimento de Geovane, a localização do corpo e o caminho do pai da vítima por delegacias, corregedoria, Instituto Médico Legal e hospitais. O jovem de 22 anos desapareceu após uma abordagem policial truculenta no bairro da Calçada, em 2014. Seus restos mortais foram encontrados carbonizados, decapitados e sem as mãos, dois dias depois da publicação da primeira reportagem.

O documentário mostra a aflição na busca por respostas, como acontece no caso do desaparecimento de Davi Fiuzaadolescente de 16 anos que também desapareceu após ser abordado por policiais no dia 24 de outubro de 2014, em Jardim Vila Verde, na Estrada Velha do Aeroporto. “Sempre assisto esse filme e toda vez tem algo que me surpreende”, afirmou a ativista e mãe de Davi Fiuza, Rute Fiuza.

O desespero, angústia e esperança de Jurandy são os guias da jornada, que traz a reflexão de um grande problema social brasileiro: a brutalidade policial contra a população negra. “Eu nunca imaginei fazer de um luto, uma luta, mas o estado me levou a isso”, relata Rute.

Ao trazer um paralelo com a guerra contra as drogas, as falas da ativista do Iniciativa Negra por uma Nova Política Sobre Drogas, Belle Damasceno, chamaram a atenção por lembrar que a guerra não acontece contra as substâncias, mas sim contra pessoas. “Ninguém atira contra um saco de maconha, ninguém atira contra um pino de pó”, relata Belle. “A população negra sempre foi algo a se criminalizar”.

Os responsáveis por juntar o painel de debate foram os professores Caio Bonfim e Samuel Vida. O diretor Bernard Attal fez parte e relembrou de antigas exibições do filme para diferentes públicos. “A maioria da classe média branca não se mobilizou, tratou como se fosse algo do Brasil”, conta o diretor. “Finalizamos esse filme em 2018 e de lá para cá, só piorou tudo”.

Ao final do filme, os espectadores puderam escutar relatos de algumas mães que também perderam seus filhos em desaparecimentos forçados. Rute Fiuza e sua filha, Camila Fiuza, estavam presentes no debate para relembrar o caso de Davi Fiuza, 16, que desapareceu há nove anos. “Assim como meu irmão, outros jovens negros também sumiram”, enfatizou a jornalista Camila Fiuza. “Nós, familiares, também somos torturados pelo estado ao buscar respostas.”

Mesmo emocionada após a exibição, Rute Fiuza relembrou o caso do filho e afirmou que enquanto existam pessoas que necessitarem de acolhimento, ela estará lá. “Eu não sei até onde vai, mas enquanto eu viver não vou desistir de lutar por Davi porque ele tem mãe e mãe vai até o fim pelo filho”, declarou.


*Orientado pela subeditora Fernanda Varela

Nenhum comentário:

Postar um comentário