Saio do barbeiro ainda mais careca que quando entrei. Aliviado
de modestos treze reais e com a impressão de ter rejuvenescido em poucos
minutos. Honestamente, não vejo qualquer diferença dos sofisticados salões dos
shoppings. Quase meio dia e a porta do Healph Valley Brasil, sempre mencionado
pelos veganíssimos amigos Camila e Álvaro, fica bem ao lado. O local não é lá
muito convidativo. Parece consultório dentário de subúrbio. No meio da sala
maior, um buffet de alumínio oferece alimentos a anos-luz da Nouvelle Cuisine.
Mas entrei na batalha para brigar e vencer. Grata surpresa, o grão de bico,
saboroso, está no ponto certo, bem macio e aquilo que tem aspecto de
ratatouille, quase provençal e com generosos pedaços de couve-flor. Adoro
couve-flor. O excelente pão integral é visivelmente caseiro. Não resisto e vou
me servir novamente de ambos os pratos. Incluindo um refresco de fruta
indefinida, pagarei a exorbitância de vinte reais!
Agora sinto falta de um bom café e algo doce para completar a
farra. Tinha notado, bem no largo, uma discreta placa “Café Santo” ao lado da
igreja pseudo-gótica de São Pedro. Adentro. Espaço minúsculo. Apenas nove pessoas
podem sentar, desde que não exageradamente nutridas. Mas que lugar charmoso! Decoração
caprichada, oferta tentadora de doces e salgados, administrado por um casal tão
atencioso quanto eficaz. Nota dez! Passo neste ambiente hospitaleiro um bom
momento até a hora da conferência do jovem professor Rafael Dantas no Instituto
Geográfico e Histórico da Bahia.
Ao atravessar a praça ajardinada, noto que a prefeitura fez
um sério trabalho de recuperação. Aquilo tinha virado um devastado campo de
mendigos que consideravam o espaço como propriedade privada, acampando, tomando
banho e cozinhando sem o menor constrangimento. O jardim ganhou bons gramados –
não seria essa minha escolha - limpeza
geral e vigilância atenta.
Ás 14:00 estou sentado na sala da nobre instituição. Sou do
tempo em que o anfitrião chegava sempre antes dos convidados. Esperaremos boa
meia hora. O tema: “ Salvador da Bahia: Cidade em evidência – Iconografia &
história” é interessante, mas um tanto perigoso pela sua amplitude. Impossível
exaurir tão vasto campo de documentação em duas horas. Teria preferido um
parcelamento aprofundado de alguns dos temas abordados e também melhor
visibilidade nas projeções ilustrativas. Mas o Rafael possui aquele entusiasmo
comunicativo embasado em sólidos conhecimentos dos assuntos tratados e não
resta dúvida de que a releva do Cid Teixeira e Kátia Mattoso está desde já assegurada.
Quem não foi perdeu a oportunidade de conhecer melhor nossa capital. E conhecer
não é sempre a melhor forma de amar?
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde 13/07/2019
Olá, amigo Dimitri,
ResponderExcluirAgradeço pelas palavras.
Forte abraço.