sábado, 13 de julho de 2019

SEGREDOS DA PIEDADE


Saio do barbeiro ainda mais careca que quando entrei. Aliviado de modestos treze reais e com a impressão de ter rejuvenescido em poucos minutos. Honestamente, não vejo qualquer diferença dos sofisticados salões dos shoppings. Quase meio dia e a porta do Healph Valley Brasil, sempre mencionado pelos veganíssimos amigos Camila e Álvaro, fica bem ao lado. O local não é lá muito convidativo. Parece consultório dentário de subúrbio. No meio da sala maior, um buffet de alumínio oferece alimentos a anos-luz da Nouvelle Cuisine. Mas entrei na batalha para brigar e vencer. Grata surpresa, o grão de bico, saboroso, está no ponto certo, bem macio e aquilo que tem aspecto de ratatouille, quase provençal e com generosos pedaços de couve-flor. Adoro couve-flor. O excelente pão integral é visivelmente caseiro. Não resisto e vou me servir novamente de ambos os pratos. Incluindo um refresco de fruta indefinida, pagarei a exorbitância de vinte reais!



Agora sinto falta de um bom café e algo doce para completar a farra. Tinha notado, bem no largo, uma discreta placa “Café Santo” ao lado da igreja pseudo-gótica de São Pedro. Adentro. Espaço minúsculo. Apenas nove pessoas podem sentar, desde que não exageradamente nutridas. Mas que lugar charmoso! Decoração caprichada, oferta tentadora de doces e salgados, administrado por um casal tão atencioso quanto eficaz. Nota dez! Passo neste ambiente hospitaleiro um bom momento até a hora da conferência do jovem professor Rafael Dantas no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
Ao atravessar a praça ajardinada, noto que a prefeitura fez um sério trabalho de recuperação. Aquilo tinha virado um devastado campo de mendigos que consideravam o espaço como propriedade privada, acampando, tomando banho e cozinhando sem o menor constrangimento. O jardim ganhou bons gramados – não seria essa minha escolha -  limpeza geral e vigilância atenta.


Ás 14:00 estou sentado na sala da nobre instituição. Sou do tempo em que o anfitrião chegava sempre antes dos convidados. Esperaremos boa meia hora. O tema: “ Salvador da Bahia: Cidade em evidência – Iconografia & história” é interessante, mas um tanto perigoso pela sua amplitude. Impossível exaurir tão vasto campo de documentação em duas horas. Teria preferido um parcelamento aprofundado de alguns dos temas abordados e também melhor visibilidade nas projeções ilustrativas. Mas o Rafael possui aquele entusiasmo comunicativo embasado em sólidos conhecimentos dos assuntos tratados e não resta dúvida de que a releva do Cid Teixeira e Kátia Mattoso está desde já assegurada. Quem não foi perdeu a oportunidade de conhecer melhor nossa capital. E conhecer não é sempre a melhor forma de amar?
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde 13/07/2019









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