sábado, 7 de março de 2020

ATENÇÃO VALAS ABERTAS


As briguinhas infanto-políticas Estado >< Prefeitura em véspera de eleições permitem aos baianos assistirem a espetáculos de rara mediocridade nos palcos da capital. Sem espaço para analisar cada obra – no sentido mais pejorativo da palavra – escolhi me concentrar hoje no autêntico “flash mob” acontecendo no centro histórico de Salvador.
Uma empresa terceirizada pela Conder invadiu a Rua Direita de Santo Antônio no primeiro domingo pós carnaval com betoneiras elétricas(?) e foliões de mortalha /macacão azul do bloco “Pejota” que até a data ainda não tinha desfilado no bairro. Quem pretendia descansar após várias semanas de agito... dançou.
A barulheira ensurdecedora não precisou de paredão. De 100 decibéis pra cima. Assustados, os moradores tentaram em vão resistir às agressões trancando-se em casa, portas e janelas fechadas. Na minha residência, o corredor, a escada, o escritório e meu computador, de tanta poeira pareciam o túmulo de Tutancâmon no egípcio Vale dos Reis. Tesouro a menos.
Em poucas horas aparece uma longa trincheira. Se algum dos velhinhos – eu dentre outros - precisar de assistência, terá que se transformar em atleta olímpico. Na segunda-feira, tradição baiana obriga, ninguém trabalhou. Na terça, o movimento foi mais ou menos. Mas na quarta, rock heavy metal foi pouco comparado à guerra na minha rua. De repente aparece uma placa “Atenção Valas abertas”. Mas afinal, estão fazendo o quê? Boa pergunta, já que ninguém “lá em cima” se dignou de comunicar aos moradores e comerciantes qual é o projeto a realizar, durante quanto tempo teremos que aguentar os transtornos e quanto vai custar ao bolso dos contribuintes. Com uma mão molhando a outra, não vai sair barato.
Mais uma vez, não existe o menor respeito ao cidadão. Ele tem que aguentar. E pagar. E nada de reclamar, ouviu?! Tá pensando que isso é uma democracia à la sueca? Vou, sem máscara, pela rua perguntando afinal o que estão fazendo. Um diz que vão alargar só um passeio. Que não vão tirar os postes. Teremos que aguentar com a macarronada aérea ainda por algumas décadas. Outro afirma que sim vão colocar toda a fiação por baixo do chão. E também o asfalto, aparecendo o calçamento antigo. Vai ficar lindão. E o meio-fio de granito antigo? Não, não vão tirar, porque é área tombada pelo IPHAN. Só que do IPHAN ainda não vi nem sombra de fiscal. A hora de consulta deste órgão deve custar igual ao paulista hospital Albert Einstein. E qual será o revestimento dos passeios? Pedra portuguesa? Rapaz... tá sonhando acordado? A única motivação é eleitoreira. “Eles” têm que inaugurar rápido para mostrar à imprensa – sorria você está sendo filmado - como se preocupam com cultura, história, essas coisas...

Dimitri Ganzelevitch
Jornal A Tarde, 7 março 2020


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