As
briguinhas infanto-políticas Estado >< Prefeitura em véspera de eleições
permitem aos baianos assistirem a espetáculos de rara mediocridade nos palcos
da capital. Sem espaço para analisar cada obra – no sentido mais pejorativo da palavra
– escolhi me concentrar hoje no autêntico “flash mob” acontecendo no centro
histórico de Salvador.
Uma empresa terceirizada
pela Conder invadiu a Rua Direita de Santo Antônio no primeiro domingo pós
carnaval com betoneiras elétricas(?) e foliões de mortalha /macacão azul do
bloco “Pejota” que até a data ainda não tinha desfilado no bairro. Quem
pretendia descansar após várias semanas de agito... dançou.
A barulheira
ensurdecedora não precisou de paredão. De 100 decibéis pra cima. Assustados, os
moradores tentaram em vão resistir às agressões trancando-se em casa, portas e
janelas fechadas. Na minha residência, o corredor, a escada, o escritório e meu
computador, de tanta poeira pareciam o túmulo de Tutancâmon no egípcio Vale dos
Reis. Tesouro a menos.
Em poucas
horas aparece uma longa trincheira. Se algum dos velhinhos – eu dentre outros -
precisar de assistência, terá que se transformar em atleta olímpico. Na
segunda-feira, tradição baiana obriga, ninguém trabalhou. Na terça, o movimento
foi mais ou menos. Mas na quarta, rock heavy metal foi pouco comparado à guerra
na minha rua. De repente aparece uma placa “Atenção Valas abertas”. Mas afinal,
estão fazendo o quê? Boa pergunta, já que ninguém “lá em cima” se dignou de
comunicar aos moradores e comerciantes qual é o projeto a realizar, durante quanto
tempo teremos que aguentar os transtornos e quanto vai custar ao bolso dos
contribuintes. Com uma mão molhando a outra, não vai sair barato.
Mais uma
vez, não existe o menor respeito ao cidadão. Ele tem que aguentar. E pagar. E
nada de reclamar, ouviu?! Tá pensando que isso é uma democracia à la sueca? Vou,
sem máscara, pela rua perguntando afinal o que estão fazendo. Um diz que vão
alargar só um passeio. Que não vão tirar os postes. Teremos que aguentar com a
macarronada aérea ainda por algumas décadas. Outro afirma que sim vão colocar
toda a fiação por baixo do chão. E também o asfalto, aparecendo o calçamento
antigo. Vai ficar lindão. E o meio-fio de granito antigo? Não, não vão tirar,
porque é área tombada pelo IPHAN. Só que do IPHAN ainda não vi nem sombra de
fiscal. A hora de consulta deste órgão deve custar igual ao paulista hospital
Albert Einstein. E qual será o revestimento dos passeios? Pedra portuguesa?
Rapaz... tá sonhando acordado? A única motivação é eleitoreira. “Eles” têm que
inaugurar rápido para mostrar à imprensa – sorria você está sendo filmado -
como se preocupam com cultura, história, essas coisas...
Dimitri Ganzelevitch
Jornal A Tarde, 7 março 2020
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