sábado, 21 de março de 2020

PAPAS, JARDINS E MONOTRILHO


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Durante a guerra da Argélia me coloquei a favor da Independência. Declarei minha simpatia ao 25 de abril português. Torci pela eleição de Tancredo Neves.  Chorei sua morte. Sou ateu, mas respeito quem acredita em entes superiores (com restrição às igrejas caça-níqueis). Admirei João XXIII e agora o franciscano Francisco que sucedeu ao beneditino Ratzinger, incapaz de enfrentar os desafios e escândalos dos porões do Vaticano. Sou a favor do aborto consciente e da eutanásia, mas contra a pena de morte. Abomino o racismo, a tortura e qualquer tipo de censura. Exijo legalização controlada das drogas, respeito às diferenças e justiça social. Será que isso faz de mim um “esquerdopata”? Você decide, mas não esqueça que xingamentos nunca serão argumentos.

Ao longo destes mais de oitenta anos, sempre recusei qualquer etiqueta partidária, sabendo que todo partido político poda – quando não castra - o livre arbítrio. Prezo minha independência física e ideológica.

Aplicando estes princípios à atualidade soteropolitana, confesso que esperava muito mais do partido que governa a Bahia desde 2007. Para quem precisa de maior definição, sugiro o comovente documentário da Netflix sobre Pepe Mujica e seu velho fusquinha azul. 

Que tipo de esquerda é essa que coleciona relógios de luxo, veste smoking Armani para bailes de caridade em palácios, mora em apartamentos bacanas nos mesmos endereços daqueles que critica? Uma esquerda que se revolta em uníssono, com toda razão, contra o BRT de um prefeito predador de árvores centenárias para impor mais umas tantas toneladas de concreto, mas fica estranhamente muda quando o governador escolhe uma empresa chinesa para construir um monstruoso monotrilho em vez de um simples VLT?

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Esta decisão, sem a mínima consulta à sociedade, demostra um espírito arbitrário em total oposição aos princípios da democracia mais elementar.
Gente! É essa a Salvador que você sempre sonhou? Cada poder executivo construindo adoidado viadutos e impermeabilizando espaços públicos pela cidade inteira como se fosse a única solução? A sociedade civil não tem o direito de se manifestar e, caso discorde, não merece ser ouvida com atenção e respeito para eventualmente optar por outras propostas? 

Eu quero menos carros com melhores transportes públicos, longe das empresas vampirescas, quero parques e jardins. Quero avenidas e praças transbordando de verde que te quero verde. Quero, sim, uma cidade poética, reconciliada com seu passado e aberta a ousados desafios urbanísticos em vez desta deprimente mediocridade que rebaixa o soteropolitano a simples número de estatísticas, excluindo sistematicamente a opinião pública das decisões significativas para sua qualidade de vida.

Dimitri Ganzelevitch
Jornal A Tarde 21/03/20

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