quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O SELFIE DA SOLIDÃO

Os ambulantes estão parados,

 sentados no meio fio. 

Os tambores já foram colocados, mas os percussionistas ainda não chegaram. 

Os pintores “tribais” aguardam suas vítimas. 

Ainda é cedo para os rebanhos de turistas no Largo do Pelourinho.

 Salvo um homem, um cinquentão solitário, camiseta branca, jeans surrados, tênis de marca. 

Anda devagar olhando o casario com ar de tédio.

Para frente a Casa de Jorge Amado, levanta o braço e olha o celular com sorriso rasgando a face. 

Selfie. 

Abaixa o braço. 

Desaparece a graça, o encanto.

Continua andando com o mesmo ar de tédio até chegar a igreja do

 Rosário dos Homens Negros. 

De novo levanta o celular para outro selfie, face iluminada de felicidade.

Abaixa o braço, volta a expressão de profunda indiferença a tudo e

 todos.

Dimitri Ganzelevitch

Nenhum comentário:

Postar um comentário