segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

UM VELHO TEXTO IRRITADO

 Você escolhe a palavra certa

 


 Ô pessoal, cuidado que hoje levantei da cama com o pé esquerdo! Agarrem os braços da poltrona, vamos iniciar uma viagem um pouco sacudida! 

No princípio da nova gestão estadual, convencido de que, agora sim, teria mais audiência para minhas sugestões, estabeleci uma lista de propostas culturais bacanas e baratas para animar o centro histórico de Salvador e pedi audiência à responsável, versão morena da falsa loira de outrora. Quando cheguei ao encontro marcado, a senhora diretora estava tão ocupada, coitada, que não poderia me atender. O braço direito da dita também tinha mais o que fazer. Pediu a uma jovem assistente para me ouvir, o que esta fez com extrema educação e paciência. Deixei cópia de minhas sugestões à amável representante de terceiro escalão e saí da mesma forma que tinha entrado.

Ninguém se dignou nunca em me dar nunca a mínima resposta. Também, quem sou eu?

O tempo passou, até que um belo dia, via Unesco-Paris, descubro que algumas de minhas ridículas idéias estavam sendo realizadas. Mandei a 500 endereços internet cópias da agenda e da minha lista. Foi um Deus-me-acuda geral. Pediram-me insistentemente por favor seu Dimitri, faça um comentário sobre esta agenda, já que o senhor é o pai das crianças. Redigi duas líneas. Foram publicadas vapt-vupt em algum e-mail descartável. Tudo bem. Não vamos fazer uma tempestade num copo d´água pouco transparente.

De repente, a poucos dias da primeira feira de antiguidades, a responsável pelo Escritório de Referências, me manda um e-mail informando que a senhora diretora me deseja curador da dita feira. Não é maravilhoso? A própria senhora diretora sugere, como pró-labore, equiparação com minha curadoria da retrospectiva de Eckenberger no Palacete das Artes. Tudo bem. Sempre chegado a desafios, aceito o convite, sob certas condições a debater em breve. Não sou mais criança, gente! Mesmo assim começo a me mexer. Consigo informações sobre a feira do Lavradio, no Rio de Janeiro e da Benedito Calixto, em São Paulo. E até os estatutos da associação da feira paulista.

No sábado errado – lógico seria no primeiro sábado do mês, quando a gente tem alguma grana a gastar –  a feira é inaugurada, mas reservada aos únicos comerciantes da rua Ruy Barbosa e dois do Pelô. O Cabral Descobertas, do Carmo, por exemplo, não foi nem lembrado, e os do Rio Vermelho, Vitória e Graça foram excluídos sem direito a apelação. Ninguém entendeu porquê.

Choveu a cântaros naquele dia. Ninguém vendeu nada. Mesmo assim, expositores e comerciantes do Cruzeiro de São Francisco louvaram a iniciativa.

Marcamos nova reunião de trabalho para uma sexta, fim do expediente, mas, no último momento, a senhora diretora teve uma indisposição e mandou remarcar a reunião para a segunda-feira seguinte. Também não veio naquela data, pela mesma inquietante indisposição. Felizmente, ela estava com ótima aparência, três dias depois, na inauguração da Praça Jubiabá. Não se dignou em falar comigo, mas fiquei muito aliviado ao constatar sua ótima aparência.

 

Quem acha que haveria alguma seqüência, está enganado. Por duas vezes mandei e-mails à senhora diretora pedindo definição da proposta. Não obtive a mínima resposta.

No terceiro tive direito a resposta, sim. Ríspida e impaciente

Tive pena de uma frágil senhora sucumbindo sob o colossal peso do cargo

Funcionário público não tem satisfação alguma a dar a seja quem for, menos ainda ao contribuinte que paga seu salário.

Nunca esta senhora se dignou, com toda razão, em se encontrar comigo, rastejante e desprezível verme fugido de algum aquário de laboratório.

Alguma definição essa atitude tem. Deixo ao leitor a escolha do termo.

 

Dimitri Ganzelevitch                                                                             Salvador, 20 de novembro de 2008.

 

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