terça-feira, 18 de julho de 2023

MARTA MINUJIN NA PINACOTECA

 PINACOTECA DE SÃO PAULO APRESENTA MAIOR EXPOSIÇÃO PANORÂMICA JÁ REALIZADA SOBRE MARTA MINUJÍN

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, apresenta Marta Minujín: Ao Vivo, primeira mostra panorâmica no Brasil de uma das artistas latino-americanas mais relevantes da sua geração. A exposição tem curadoria de Ana Maria Maia e ocupa as sete salas do primeiro andar da Pinacoteca Luz, tendo como fio condutor a contribuição da artista para uma vanguarda que pensa a América Latina em termos micro e macropolíticos.


A mostra articula mais de cem obras de 1963 até o presente, reapresentando o icônico El batacazo, criado no contexto do Instituto Torcuato Di Tella em 1965, além de trabalhos como Galeria Blanda [Galeria Mole] (1973) e La caída de los mitos universales [A queda dos mitos universais] (1978-). Um inflável recebe o público nos primeiros dias da exposição no estacionamento da Pina Luz. A Escultura de los deseos [Escultura dos desejos] (2022) tem 17 metros de altura e foi um grande sucesso no Lollapalooza Argentino.


Marta Minujín se transformou em um grande fenômeno ainda nos primeiros anos de carreira, na década de 1960. Reconhecida internacionalmente como a pioneira do happening e da arte participativa, Minujín produz incansavelmente até os dias de hoje, transitando entre diversas linguagens, escalas, circuitos artísticos e sociais. Com seus óculos espelhados e a personalidade extravagante, a artista-personagem figura em capítulos importantes da história da arte, passando pelo novo realismo, pela pop art, pelos conceitualismos, pela arte pública e multimeios.


“A exposição celebra a potência com que toda essa trajetória não só espelha mas também intensifica as formas de vida. ‘Ao vivo’ é uma expressão que sinaliza vivacidade, presença de corpo, e de maneira ainda mais direta, denota um recurso de comunicação urgente no vocabulário da mídia de massa, plataforma discursiva e tecnológica que sempre atraiu a artista. Seja nas transmissões de rádio e TV na década de 1960 ou em seu canal de Instagram hoje, Marta cria arte como um pretexto para ela própria e para todas as pessoas poderem expressar-se com energia e liberdade”, conta a curadora.

Marta Minujín em seu estúdio com elementos da instalação El Batacazo, 2023 | FOTO: Sofia Ungar

DOS COLCHÕES AOS MONUMENTOS

Marta Minujín: Ao Vivo passa por momentos cruciais da carreira da artista portenha, ainda que não siga uma linha cronológica. A exposição começa pelo conjunto de colchões, que inaugura seu statement criativo nos anos 1960, no âmbito do novo realismo. Retorcidos e pintados em tons vibrantes, o trabalho com colchões é resultado do interesse de Minujín de aproximar a arte das dinâmicas da vida, se apropriando de materiais industriais. O público pode percorrer a galeria de tramas e colhões multicoloridos, com documentação de La chambre d´amour [O quarto do amor] (1963) e obras como Eróticos en technicolor [Eróticos em technicolor] (1964) ou Freaking on fluo [Pirando no fluorescente] (2010), além de visitar a Galeria Blanda [Galeria Mole] – instalação de 1973, feita com 200 colchões, recriada para a mostra da Pinacoteca. Formando um “cubo branco”, a antigaleria convida as pessoas visitantes a descansar ou brincar.


Na terceira sala da exposição, a instalação histórica da artista, El Batacazo, foi também recriada especialmente para a Pinacoteca, 58 anos depois da apresentação no Instituto Di Tella de Buenos Aires, em 1965. Em consonância com um espírito de tempo de uma geração imersa no fenômeno de uma midiatização crescente, a partir das leituras de Marshall McLuhan, a artista mobilizaria estratégias participativas para se posicionar perante a indústria cultural. À época, quatro tipos de ícones midiáticos conduziam o visitante pela instalação, que passava por jogadores de rúgbi, subia escadas para encontrar playboys e cosmonautas, e descia um escorregador para cair no rosto da atriz italiana Virna Lisi. Na Pinacoteca, os jogadores são agora de futebol do Brasil e da Argentina.


A pesquisa sobre o fenômeno social da comunicação e seu potencial disseminador resultou em diversos trabalhos, cuja documentação se concentra na quarta sala expositiva, em obras como Simultaneidad en simultaneidad [Simultaneidade em simultaneidade] (1966) e Leyendo las noticias en el Río da Plata [Lendo notícias no rio da Prata] (1965). No contexto político da década de 1970, a proliferação de ditaduras militares pela América Latina levou a práticas artísticas voltadas para a conscientização de uma realidade sociopolítica e para um projeto de integração entre os países da região. O trabalho mais emblemático da artista nesse sentido foi Comunicando con tierra (1976),
remontado para esta exposição.

A quinta sala da mostra se volta para trabalhos que usam frutas e vegetais nativos para representar recursos definidores de uma identidade nacional, como a fotoperformance El pago de la deuda externa argentina con maíz [O pagamento da dívida externa com milho] (1985) e Arte agrícola en acción [Arte agrícola em ação] (1978-1979). Outro caminho que Minujín adotou para intervir no imaginário político nacional foi a atuação no espaço público: para a Bienal Latino-Americana de São Paulo, em 1978, a artista levou a obra El obelisco acostado [O obelisco tombado], emulando a viagem do famoso monumento da praça da República, em Buenos Aires, para o pavilhão da Bienal, “transferindo o mito de um país ao outro”. Agora, o obelisco argentino, recostado e reconfigurado, ocupa a sexta sala expositiva da Pina Luz. A instalação antecipava características do que viria a ser a série La caída de los mitos universales [A caída dos mitos universais], que compreende trabalhos como El obelisco de pan Dulce [O obelisco de pão doce] (1979) e El Partenón de libros [O paternon de livros] (1983), documentados na galeria.


A mostra termina com uma das videoinstalações mais recentes da artista, Implosión! [Implosão!] (2021). A nova versão da obra promove a imersão em um cubo musical multicolorido. O projeto parte da animação de fotografias de detalhes de um colchão histórico e reflete a percepção da artista de que a contemporaneidade é como uma bateria de estímulos sensoriais. A circularidade da obra permite vislumbrar os sessenta anos de carreira de Marta Minujín, em toda a sua persistência e repertório.

 COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO.- Mais uma exposição de prestigio que não virá a Salvador por falta de espaço condigno.

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