sábado, 15 de julho de 2023

OSBA, CLIMA DE TERROR E MEDO

 



Músicos da Osba lembram passagem de Ricardo Castro pela Osba e temem gestão da IDSM: “Clima de terror e medo”

Por Ana Clara Pires



Osba comandada por Carlos Prazeres | Foto: Rafael Martins

O resultado do edital que define a nova gestão da Orquestra Sinfônica da Bahia, divulgado no Diário Oficial do Estado na última quarta-feira (14), ainda gera polêmica. O vencedor da disputa foi o Instituto de Desenvolvimento Social pela Música (IDSM), ligado ao maestro Ricardo Castro, após o atual grupo responsável, a Associação dos Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA), ser desclassificado por critérios técnicos.

 

Antes da divulgação do resultado, o atual maestro da orquestra, Carlos Prazeres, que passou 12 anos à frente da filarmônica, descartou a possibilidade de continuar com a equipe se a IDSM ganhasse o edital. 

 

“Seria impossível porque a proposta ligada ao maestro Ricardo Castro já tem um novo maestro previsto. Caso realmente venha outra gestão, me restará desejar sorte, afinal, eu jamais iria torcer contra a orquestra que tanto amo”, disse ele na época.

 

Alguns músicos da orquestra, contudo, conversaram com a equipe do Bahia Notícias e revelaram que a equipe está acometida por um clima de tristeza e injustiça com a saída de Prazeres. Sob condição de anonimato, eles relembraram que Castro já havia passado pela Osba e temem que a proposta do novo instituto mude os rumos atuais do grupo.

 

“O clima é de tristeza, frustração e sensação de muita injustiça. Sob a liderança de Carlos, a Osba alcançou patamares inéditos em sua história, de sucesso junto ao público e à crítica”, comentou um músico.

 

“Não é só Carlos Prazeres, nós estamos falando de uma orquestra inteira, que tem músicos, que tem produção. Carlos Prazeres está na linha de frente, mas é um projeto de mais de 100 pessoas. São 100 pessoas que criaram um projeto e parte delas está saindo e a outra parte está com medo de ser demitida”, disse.

 

12 ANOS DE TRABALHO


Do mesmo modo, outro revelou o medo de que todo o trabalho realizado pela Osba nos últimos anos para tornar a orquestra mais acessível seja desfeito.

 

“O que percebo é um clima de perplexidade e de um estranhamento absurdo. Muitos perguntam: ‘Todo o trabalho que foi feito nesses anos, todo o resultado demonstrado pela frequência do público aos nossos concertos, toda a filosofia por detrás de um política de inclusão, toda a competência gerada por um grupo que caminhou junto por todos esses anos, foram perdidos?’”.

 

“Se os músicos estão sentindo a perda de Carlos Prazeres? Com certeza! Carlos se tornou a 'cara' da Osba. Com suas propostas ousadas, tanto no erudito como no popular. Ele ajudou a Osba a se desenvolver técnica, artística e culturalmente”, apontou outro.

 

E completou mais um membro: “Para mim, a saída do maestro Carlos Prazeres, e de toda a filosofia de trabalho em voga, significa um retrocesso. O que virá agora, é o velho, o superado, o que já não se faz em lugar algum do mundo”.

 

PERDAS


Os instrumentistas também falaram sobre as perdas que a orquestra pode sofrer com a troca de gestão. As avaliações se baseiam principalmente em declarações feitas nos últimos anos por Ricardo Castro, que apesar de não ser o novo maestro da Osba, está ligado à liderança do instituto vencedor.

 

“A Osba perde a sua capacidade de dialogar culturalmente com o seu público, com o povo baiano. Perde a atenção do resto do Brasil, ao se apresentar como um grupo que inovou, que aproximou o público para as suas salas de concerto. Perderá a sua capacidade de formar novos públicos”, alegou um dos ouvidos pela reportagem.

 

Já outro contou que com essa mudança a Osba “perde sua identidade”. Segundo ele, a identidade de uma orquestra verdadeiramente inserida na sua sociedade. "Uma orquestra de todo o povo e não apenas de uma minoria de conhecedores da música sinfônica. Uma identidade que levou anos para ser construída e que será destruída em menos de um mês, caso se confirme a mudança". 

 

Por outro lado, um artista declarou que quem mais perde é o público. Segundo ele, “as manifestações atuais já demonstram isso". "Basta fazer uma comparação de público entre as duas gestões”, sugeriu, fazendo referência ao NEOJIBÁ, grupo atualmente gerido pela IDSM e do qual Castro atua como maestro.


Outro ponto abordado foram as perdas que a banda poderia sofrer no dia a dia. “Perde no clima de amizade entre os músicos. Perde na democracia orquestral. Perde o sorriso dos músicos no palco. Perde a estabilidade do quadro orquestral. Perde a certeza de um trabalho construído com muito amor e união entre maestro e músicos. Os músicos perdem o prazer de subir ao palco. Os músicos perdem o prazer de tocar", lamentou um dos ouvidos.

 

NOVA GESTÃO


Para além do sentimento de perda, os músicos revelaram ter medo da nova gestão, suas filosofias e o trabalho que será feito.

 

“Um clima de terror e medo. Se sairmos de um maestro que sempre proporcionou um clima agradável entre os músicos, nunca houve algum tipo de estresse ou perseguição, para um ditador que se faz ocultar por trás de uma Orquestra Sinfônica, mas é o primeiro a dar entrevista por ela... Isso já revela bem o caráter dessa pessoa. E já convivemos com essa pessoa no passado que nos deu as costas e constantemente nos apedreja”, criticou. 

 

“A nova gestão tem o posicionamento de um ditador, onde não teremos liberdade de participar de escolhas de repertório e teremos que realizar a sua vontade, sob ameaça”, acusou um instrumentista.

 

Em dezembro do ano passado, Ricardo criticou a Osba por promover a "Osbrega", uma apresentação com clássicos da música romântica brasileira, e classificou o projeto como “um círculo do inferno nunca antes visto neste país”. A posição do maestro foi repudiada pelo público e por músicos da Osba.

 

“Quanto às críticas de Ricardo Castro, elas demonstram muito mais o desconhecimento dele sobre o mundo sinfônico. Suas críticas sobre concertos em que tocamos músicas populares são infundadas. Sting cantou com a Chicago Symphony, e Scorpions gravou um álbum com ninguém menos que a Filarmônica de Berlim!! Esses são apenas alguns exemplos, e com algumas das melhores orquestras do mundo. Rock pode, mas Forró ou Axé não podem?”, questionou.

 

"Mas como Ricardo Castro deixou claro desde o primeiro momento, e isto nos causou uma perplexidade que foi a mãe de toda a desconfiança do grupo à figura do Ricardo, a OSBA nunca foi a sua prioridade. A prioridade dele era e é o NEOJIBÁ. Mas, como diz o velho ditado, 'quem desdenha quer comprar', nem que seja para não usar - receio que este será o destino da orquestra. Nos causou espanto o fato dele estar por detrás desta nova gestão. E nos perguntamos: o que alguém que tanto falou mal da OSBA quer, sendo agora o seu gestor?”, finalizou.

 

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