quinta-feira, 15 de agosto de 2024

A NARCO-EVANGELIZAÇÃO CHEGANDO!

 

 

Pouco depois de minha chegada a Salvador, talvez em novembro de 1975, conheci Miguel Huertas, um uruguaio irrequieto e culto que viera à Bahia por causa da então muito famosa Escola de Música da Ufba.

Acabava de chegar de Nova Iorque onde conhecera um antiquário que lhe passou uma estranha informação. A CIA estaria fomentando uma invasão de New Born Christians na América Latina. Parecia argumento medíocre para filme de terror. O que os Estados Unidos ganhariam com este projeto?

Nos anos 80, a imprensa começou a noticiar que pastores entravam nas penitenciárias e em pouco tempo conseguiam converter perigosos marginais. Estes, inesperada expressão angelical no semblante, passariam doravante a andar com a Bíblia debaixo do braço. 

Em meio século, estão por toda parte. De costureira a cantora sertaneja, de vereador a desembargador, de fuzileiro naval a brigadeiro.

Vez ou outra, algum “religioso” é encarcerado por tráfico de divisas. Ninguém esqueceu o casal preso ao desembarcar em Miami com uma bíblia recheada com dólares.  Estelionato e violência doméstica fazem parte. Pedofilia e assassinato também. Ou você não se lembra de Lucas Terra? Enriquecem com o dízimo suado de semi analfabetos. Compram mansões no Morumbi e resorts em ilhas paradisíacas, andam calçados de Louis Vuitton, ostentam Rolex de ouro e se deslocam de avião particular e carro blindado. No Youtube, dão métodos infalíveis para extorquir bolsas, contas correntes e poupanças dos que se aventuram nos templos. Geralmente antigos supermercados ou cinemas.

E o governo, sempre à cata de votos, fica omisso, conivente com tão pouca vergonha. Pior: nossos edis não hesitam em comparecer a eventos “De Jesus” onde terão a certeza de boa visibilidade para futuras eleições.

Acordos são estabelecidos entre evangélicos e narcotraficantes. Do Rio de Janeiro a Maragogipe, de Manaus a Curitiba e Salvador, bairros inteiros são administrados não mais pelas prefeituras, mas pela bandidagem que anda pelas ruas ostentando pesadas correntes de ouro e armamentos mais pesados ainda. 

Em grande parte do Rio de Janeiro, no Complexo Israel (140 mil habitantes), por exemplo, os traficantes evangelistas, sob a suspeita bandeira sionista, destroem os terreiros de ritos africanos, perseguindo quem se veste de branco. As igrejas católicas são impedidas de celebrar missa e até mesmo de abrir as portas.

Com um histórico de prefeitos incompetentes e corruptos, a Cidade Maravilhosa prepara um belo tapete vermelho para uma teocracia que, longe dos talibãs e aiatolás, servira de trampolim para a internacionalização do Crime Organizado De Jesus sob o olhar complacente de Brasília.

Claro que existem responsáveis evangélicos honestos e piedosos. Mas onde estão?

A Tarde, sábado 17 de agosto 2924

 

 






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