Pouco depois de minha chegada a Salvador, talvez em novembro de 1975, conheci Miguel Huertas, um uruguaio irrequieto e culto que viera à Bahia por causa da então muito famosa Escola de Música da Ufba.
Acabava de chegar de Nova Iorque onde conhecera um antiquário que lhe
passou uma estranha informação. A CIA estaria fomentando uma invasão de New
Born Christians na América Latina. Parecia argumento medíocre para
filme de terror. O que os Estados Unidos ganhariam com este projeto?
Nos anos 80, a imprensa começou a noticiar que pastores entravam nas
penitenciárias e em pouco tempo conseguiam converter perigosos marginais. Estes,
inesperada expressão angelical no semblante, passariam doravante a andar com a
Bíblia debaixo do braço.
Em meio
século, estão por toda parte. De costureira a cantora sertaneja, de vereador a
desembargador, de fuzileiro naval a brigadeiro.
Vez ou outra, algum “religioso” é encarcerado por tráfico de divisas.
Ninguém esqueceu o casal preso ao desembarcar em Miami com uma bíblia recheada
com dólares. Estelionato e violência doméstica fazem parte. Pedofilia e
assassinato também. Ou você não se lembra de Lucas Terra? Enriquecem com o
dízimo suado de semi analfabetos. Compram mansões no Morumbi e resorts em ilhas
paradisíacas, andam calçados de Louis Vuitton, ostentam Rolex de ouro e se
deslocam de avião particular e carro blindado. No Youtube, dão métodos
infalíveis para extorquir bolsas, contas correntes e poupanças dos que se
aventuram nos templos. Geralmente antigos supermercados ou cinemas.
E o
governo, sempre à cata de votos, fica omisso, conivente com tão pouca vergonha.
Pior: nossos edis não hesitam em comparecer a eventos “De Jesus” onde
terão a certeza de boa visibilidade para futuras eleições.
Acordos são estabelecidos entre evangélicos e narcotraficantes. Do Rio de Janeiro a Maragogipe, de Manaus a Curitiba e Salvador, bairros inteiros são administrados não mais pelas prefeituras, mas pela bandidagem que anda pelas ruas ostentando pesadas correntes de ouro e armamentos mais pesados ainda.
Em grande
parte do Rio de Janeiro, no Complexo Israel (140 mil habitantes), por exemplo,
os traficantes evangelistas, sob a suspeita bandeira sionista, destroem os
terreiros de ritos africanos, perseguindo quem se veste de branco. As igrejas
católicas são impedidas de celebrar missa e até mesmo de abrir as portas.
Com um
histórico de prefeitos incompetentes e corruptos, a Cidade Maravilhosa prepara
um belo tapete vermelho para uma teocracia que, longe dos talibãs e aiatolás,
servira de trampolim para a internacionalização do Crime Organizado De Jesus
sob o olhar complacente de Brasília.
Claro que
existem responsáveis evangélicos honestos e piedosos. Mas onde estão?
A Tarde, sábado 17 de agosto 2924
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