Paris será
sempre Paris, cantava Maurice Chevalier no Folies-Bergère, um século atrás.
Sempre teremos Paris, assegurou Humphrey Bogart em “Casablanca”.
Após
cinco anos, cá estou de novo. Como de costume, hospedado em casa amiga, a cinco
estações de metrô da Avenue Montaigne. Não vou me atardar nas vitrines de Dior
ou Chanel, nem entrar no Plazza-Athénée, reduto predileto de novos-ricos e
políticos corruptos. Por seis vezes durante minha estada entrarei num
dos templos da cultura francesa.
Foi no
Théâtre des Champs-Elysées, no 29 de maio de 1913, que Stravinsky apresentou,
com os Ballets Russes, A Sagração da Primavera. Será que as poltronas onde
sentei receberam os “horrorizados com o que consideravam ser uma
tentativa blasfema de destruir a música como uma arte” ou se destas
mesmas, outros, entusiastas, se levantaram para aplaudir uma nova era musical?
O
despojado teatro é uma referência incontornável para o estilo Art Déco francês,
em contraponto com as suntuosidades da Ópera Garnier. Construído
pelos irmãos Perret, que não eram arquitetos, ostenta afrescos de Maurice Denis
e Édouard Vuillard, enquanto o escultor Antoine Bourdelle (por favor, pronuncie
“Burdel”) ornamentou a fachada com um grande baixo-relevo. Lá
assisti à ópera Bérénice (três horas) de Haydn e o Boston Ballet me
ofereceu uma memorável interpretação de Blake Works III, de William Forthsyte,
um de meus coreógrafos favoritos.
Para não me afastar dos anos 20, fui até
Montparnasse conhecer o Museu Antoine Bourdelle. Bela surpresa. Além de não ter
fila, o acervo, atelier e morada foram devidamente conservados. Ali está uma
boa dica para futuros viajantes. A pouca distância, voltei ao Espaço Frans
Krajcberg, romântico beco sem saída onde um grupo de admiradores tenta
preservar o atelier e meia dúzia de obras do mestre. Muita ilusão conserva o
responsável quanto ao acervo ora “guardado” na Bahia. Por falar nisso, para
quando a inauguração do Museu do Recôncavo Vanderlei Pinho? Como é barato, o
dinheiro público!
Ainda consegui, no último momento, uma boa entrada
para Les fourberies de Scapin na Comédie-Française, em cartaz há mais de dois
anos. Quatrocentos anos depois, Molière continua vivo e cáustico.
A exposição do momento era o Impressionismo no
Musée d´Orsay. Como curadoria, impecável. Mas conferir clássicos também pode
ser um tanto perigoso. Se Cézanne conserva o impacte, as obras de Renoir levam
a um questionamento sobre esta pintura elegante, burguesa, feliz, por vezes
genial, por outras repetitiva e conformista. Prefiro, apesar
de antissemita, o rico aristocrata Degas, cuja obra nem sempre respira paz
e harmonia, e mais ainda o grande, o imenso Monet anunciando os abstratos. É sempre
saudável rever seus conceitos.
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