quinta-feira, 1 de agosto de 2024

SEMPRE TEREMOS PARIS


Paris será sempre Paris, cantava Maurice Chevalier no Folies-Bergère, um século atrás. Sempre teremos Paris, assegurou Humphrey Bogart em “Casablanca”.

Após cinco anos, cá estou de novo. Como de costume, hospedado em casa amiga, a cinco estações de metrô da Avenue Montaigne. Não vou me atardar nas vitrines de Dior ou Chanel, nem entrar no Plazza-Athénée, reduto predileto de novos-ricos e políticos corruptos. Por seis vezes durante minha estada entrarei num dos templos da cultura francesa.

Foi no Théâtre des Champs-Elysées, no 29 de maio de 1913, que Stravinsky apresentou, com os Ballets Russes, A Sagração da Primavera. Será que as poltronas onde sentei receberam os “horrorizados com o que consideravam ser uma tentativa blasfema de destruir a música como uma arte” ou se destas mesmas, outros, entusiastas, se levantaram para aplaudir uma nova era musical?

O despojado teatro é uma referência incontornável para o estilo Art Déco francês, em contraponto com as suntuosidades da Ópera Garnier. Construído pelos irmãos Perret, que não eram arquitetos, ostenta afrescos de Maurice Denis e Édouard Vuillard, enquanto o escultor Antoine Bourdelle (por favor, pronuncie “Burdel”) ornamentou a fachada com um grande baixo-relevo. Lá assisti à ópera Bérénice (três horas) de Haydn e o Boston Ballet me ofereceu uma memorável interpretação de Blake Works III, de William Forthsyte, um de meus coreógrafos favoritos.

Para não me afastar dos anos 20, fui até Montparnasse conhecer o Museu Antoine Bourdelle. Bela surpresa. Além de não ter fila, o acervo, atelier e morada foram devidamente conservados. Ali está uma boa dica para futuros viajantes. A pouca distância, voltei ao Espaço Frans Krajcberg, romântico beco sem saída onde um grupo de admiradores tenta preservar o atelier e meia dúzia de obras do mestre. Muita ilusão conserva o responsável quanto ao acervo ora “guardado” na Bahia. Por falar nisso, para quando a inauguração do Museu do Recôncavo Vanderlei Pinho? Como é barato, o dinheiro público!

Ainda consegui, no último momento, uma boa entrada para Les fourberies de Scapin na Comédie-Française, em cartaz há mais de dois anos. Quatrocentos anos depois, Molière continua vivo e cáustico.

A exposição do momento era o Impressionismo no Musée d´Orsay. Como curadoria, impecável. Mas conferir clássicos também pode ser um tanto perigoso. Se Cézanne conserva o impacte, as obras de Renoir levam a um questionamento sobre esta pintura elegante, burguesa, feliz, por vezes genial, por outras repetitiva e conformista. Prefiro, apesar de antissemita, o rico aristocrata Degas, cuja obra nem sempre respira paz e harmonia, e mais ainda o grande, o imenso Monet anunciando os abstratos. É sempre saudável rever seus conceitos.

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