terça-feira, 23 de dezembro de 2025

A ESTRELA DO PIX

Estrela do Web Summit, o brasileiro PIX atrai a atenção de países e investidores

Sistema de pagamentos e transferência de recursos totalmente gratuito deverá se expandir pelo mundo nos próximos anos, segundo Paddy Cosgrave. Em Portugal, o PIX já é aceito no comércio.



Ainda que nenhum representante do Banco Central do Brasil esteja presente na edição de 2025 do Web Summit Lisboa, o brasileiro PIX, sistema eletrônico de pagamentos e transferências de recursos, se tornou uma das estrelas da feira de tecnologia. Foi destaque na fala de abertura do evento, na segunda-feira (10/11), do co-fundador e presidente executivo do Web Summit, Paddy Cosgrave, dominou parte dos debates sobre meios de pagamento e têm sido alvo de consultas a integrantes da delegação brasileira.

"Por onde quer que passemos, o PIX é tema de consulta", diz Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). "Participei, recentemente, da visita do presidente Lula à Indonésia e à Malásia, e todos queriam saber sobre o PIX", relata. Nessas viagens, inclusive, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, esteve presente e pode explicar como o PIX provocou uma revolução do sistema financeiro do Brasil.

Diz Paddy Cosgrave: "O sistema de pagamentos mais revolucionário do mundo não foi construído por uma empresa de tecnologia americana ou pelo Banco Central Europeu, mas pelo Banco Central do Brasil. O PIX é inteiramente gratuito e tem se tornado alvo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, porque vai se espalhar pelo mundo nos próximos anos. Quem ainda não ouviu falar do PIX deve se informar sobre ele".

Estrela do Web Summit, o brasileiro PIX atrai a atenção de países e investidores

Pequenos se beneficiam

Para Décio Lima, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o sucesso do PIX está ligado ao fato de ser acessível a todos, população em geral e aos pequenos negócios, reduzindo custos com transações financeiras. Hoje, para um microempreendedor receber pelo seu produto ou serviço, basta ter uma chave do PIX, que pode ser o número do telefone ou mesmo um e-mail. Isso, sem custo.

"Numa economia capitalista, os pequenos são sobreviventes. E o PIX enfrenta os grandes. Não à toa, Trump atacou o sistema de pagamentos brasileiro", afirma Lima. O presidente dos Estados Unidos alega que o PIX está tirando receitas e "roubando" mercados das empresas americanas de cartões de crédito, a Visa e a Mastercard. Não só: o PIX inviabilizou no Brasil o projeto da Meta que previa a implantação de um sistema de pagamentos e de transferência de recursos pelo WhatsApp.


Para Jorge Viana, diante do reconhecimento que o PIX vem tendo, sua expansão para outros países é irreversível. "A Malásia e a Indonésia já estão conversando sobre a ferramenta brasileira", frisa. Em Portugal, redes de supermercados, lojas de eletroeletrônicos, centros comerciais de luxo e comércios menores recorreram ao PIX para ampliar as vendas, diante do grande número de brasileiros vivendo em território luso — são quase 500 mil — e dos mais de 1,2 milhão de turistas que visitam o país todos os anos.

Na Europa, segundo o Banco Central do Brasil, além de Portugal, o PIX está sendo utilizado na Espanha e na França. Também está presente nos Estados Unidos, na região de Miami, na Argentina, no Chile, no Paraguai, no Uruguai e na Bolívia. "O sistema financeiro teve de se render ao PIX porque é democrático e gratuito", enfatiza o presidente do Sebrae. O PIX começou a ser desenvolvido pelo BC brasileiro em 2017 e foi lançado oficialmente em 2020.

O FILHO DO PRESIDENTE

 

Filho do presidente é absolvido em país africano após ser condenado por venda irregular de aeronave estatal



O sistema judiciário da Guiné Equatorial absolveu Ruslan Obiang Nsue, filho do presidente Teodoro Obiang, e ex-diretor-geral adjunto da companhia aérea estatal Ceiba Intercontinental. Em agosto passado, Ruslan havia sido condenado a seis anos e um dia de prisão suspensa acusado de vender um avião da empresa e ficar com os lucros da transação.

A decisão de absolvição foi anunciada pelo Tribunal Provincial de Bioko Norte, Bioko Sul e Annobón, conforme reportagens da mídia local.

O tribunal considerou que Ruslan não detinha autoridade plena durante sua gestão, uma vez que a administração da companhia era controlada por dois cidadãos etíopes, atualmente foragidos e declarados fugitivos pela Justiça do país.

Essa circunstância foi decisiva para a absolvição de Ruslan Obiang e do ex-CEO da Ceiba, Luciano Esono Bitegue, contra quem o Ministério Público retirou as acusações por falta de provas de corrupção. Ambos enfrentavam denúncias de peculato e abuso de poder.

Na sentença de agosto, além da pena suspensa, Ruslan havia sido condenado a pagar multa de cinco milhões de francos CFA (mais de 7.600 euros) e a restituir à Ceiba 144,2 milhões de francos CFA (cerca de 220 mil euros), além de compensação adicional de 14,4 milhões de francos CFA (quase 22 mil euros).

O caso teve origem em 2018, quando a aeronave ATR-72-500 da CEIBA foi enviada às Ilhas Canárias para manutenção pela empresa espanhola Binter e posteriormente vendida sem o consentimento da diretoria da companhia aérea da Guiné Equatorial.

Documentos revelaram que o dinheiro da venda não foi depositado na conta oficial da Ceiba em Madri, que estava congelada, mas sim na conta pessoal de Ruslan Obiang.

Em janeiro de 2023, o vice-presidente do país, Teodoro Nguema Obiang Mangue, meio-irmão de Ruslan, determinou sua prisão e demissão.

As investigações indicam que cerca de 700 mil euros destinados ao conserto da aeronave desapareceram, com rastros sugerindo transferências para contas na Malásia e posteriormente em Miami, nos EUA.

Desde sua independência da Espanha em 1968, a Guiné Equatorial é considerada por organizações de direitos humanos como um dos países mais repressivos e corruptos do mundo. Teodoro Obiang, com 83 anos, governa o país desde 1979 após derrubar seu tio Francisco Macías em um golpe, sendo o presidente em exercício com o mandato mais longo do planeta.

VIADAGEM NO NARCO

 Ex-deputado TH Joias é flagrado em relação sexual com líder do CV

Thiego Raimundo dos Santos Silva foi preso no início do mês, suspeito de intermediar a compra e venda de armas para a facção 

Em meio às investigações da Operação Zargun, câmeras de segurança no Complexo do Alemão flagraram o ex-deputado TH Joias (ex-MDB) em cenas íntimas com o traficante Gabriel Dias Oliveira, o Índio, líder do Comando Vermelho. 

Os registros mostram o ex-parlamentar acariciando a coxa do faccionado enquanto se masturbava, em momentos de encontro sexual.

As imagens, divulgadas nesta segunda-feira,15, pelo portal Metrópoles, revelam a natureza extraordinariamente pessoal (e íntima) da relação entre o político e o criminoso — um vínculo que vai além das transações financeiras em investigação. 

O flagra, no entanto, já era comentado no X desde abril.  



TEM CAROÇO NESTE ANGU

 O alívio de Alex Allard após afastamento do conselho do hotel Rosewood

Empresário francês trava uma disputa com o grupo chinês CTF, controlador do Cidade Matarazzo, em São Paulo

Por Pedro Gil 


Em assembleia de acionistas da BM Empreendimentos (BME), o grupo chinês Chow Tai Fook Enterprises (CTF), acionista majoritário do complexo Cidade Matarazzo e detentor da bandeira Rosewood, em São Paulo, conseguiu afastar o empresário francês Alexandre Allard do conselho de administração do empreendimento. Ele possui uma participação minoritária no negócio. 

Apesar do afastamento, Allard respirou aliviado. A assembleia não levou adiante a proposta da CTF de rejeição das contas do Fundo de Investimento em Participações (FIP BM 888), que controla quase a totalidade das ações do Cidade Matarazzo. A gestora do fundo, a Tivio Capital, joint venture do Bradesco com o Banco Votorantim (BV), não se manifestou. Foi por meio do FIP que os chineses estruturaram financeiramente a operação. As contas do fundo foram aprovadas em assembleia. 

O FIP, que detém maioria das ações do Cidade Matarazzo, entendeu que o ajuizamento da ação de responsabilidade civil deveria ser avaliado pela companhia primeiro e, só depois, caberia solicitar ao juiz  responsável pela ação que mandasse reavaliar as demonstrações financeiras, ou seja, somente quanto à quitação concedida aos administradores, e não quanto às contas da administração. 

A CTF vem tentando diluir Allard da sociedade, ao questionar os valores das obras do hotel, além dos índices de juros utilizados sobre as cifras do fundo. Uma ação de responsabilidade contra Allard foi aprovada. Procurada, a BME não se pronunciou. 


A nova denúncia de uma ex-funcionária contra sócios do Rosewood

Polícia Civil apura caso de espionagem

Por Pedro Gil 

  12 dez 2025



A disputa societária entre o empresário Alex Allard e o grupo chinês Chow Tai Fook Enterprises (CTF), acionista majoritário do complexo Cidade Matarazzo e detentor da bandeira Rosewood, em São Paulo, ganhou novos contornos. Uma ex-funcionária da BM Empreendimentos (BME), que acusa a antiga empregadora de espionagem, voltou a prestar depoimento na Polícia Civil — em inquérito aberto no 78º DP do Jardins. Ela diz ser vítima de ‘coação’ e se sentir amedrontada por parte de representantes do grupo chinês após ser inquirida como testemunha no processo. Ela recebeu notificações da parte contrária em outubro deste ano por carta, WhatsApp e e-mail.


Aberto neste ano, o inquérito apura violação de dispositivo eletrônico. Segundo a ex-funcionária, sua chefe teria pedido a ela que invadisse o computador de uma terceira advogada do empreendimento Cidade Matarazzo, com o objetivo de obter informações sigilosas. O caso teria ocorrido em agosto de 2023.


A profissional diz ter sofrido assédio moral de superiores por meses após ter se recusado. Pouco tempo depois, foi demitida junto a outros funcionários em decorrência da conclusão das obras da primeira fase do Cidade Matarazzo. Segundo fontes na BME, ela foi avisada do desligamento com seis meses de antecedência. Há um processo de auditoria externa para apurar as supostas acusações. A ex-funcionária pede agora na Justiça para obter os documentos da sua denúncia, o que foi negado em primeira instância. 

A CULTURA NA BAHIA

 DESCASO


RONALDO JACOBINA

Bahia pode perder acervo de Krajcberg para outro estado

Mais de 16 anos depois de receber a doação de mais de 800 obras, o Estado não construiu o museu acordado entre as partes

  • Foto do(a) author(a) Ronaldo Jacobina
  • Ronaldo Jacobina

Publicado em 23 de dezembro de 2025 






Frans Krajcbert e uma de suas obras Crédito: Divulgação 

A Bahia corre o risco de perder o acervo do artista Frans Krajcberg (1921-2017), doado por ele ao estado em 2009, na condição de que o governo baiano criasse um museu dedicado a sua obra, o que não aconteceu até hoje, 16 anos depois. Desde então, o acervo que reúne mais de 800 peças, foi transferido de Nova Viçosa para a capital baiana. Agora, o Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE-BA) reconheceu que o governo falhou em não cumprir integralmente os encargos da doação. A decisão da instituição aponta negligência, ausência de um plano de gestão e risco à integridade física das obras, além de determinar a adoção de medidas corretivas. Contra o estado pesa ainda uma ação civil pública que aponta risco de danos irreversíveis às obras e prevê inclusive, consequências patrimoniais caso os encargos não sejam cumpridos, o que evidencia a gravidade do cenário. Recentemente, o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC-BA) chegou a tentar enquadrar as obras de Frans Krajcberg como patrimônio cultural, mas a iniciativa foi denunciada pela biógrafa do artista, a jornalista Renata Rocha. Embora o TCE tenha determinado a elaboração de um plano detalhado para o acervo, o futuro do acervo segue incerto e sem resposta da administração estadual.

domingo, 21 de dezembro de 2025

´ÁRABES E RICAS....

 ... É OUTRA COISA.


Irmãs sauditas que comandam ‘império’ de US$ 50 bi são elo entre Wall St e Riad

Lubna e Hutham Olayan lideram o Grupo Olayan, um dos mais ricos e discretos do mundo, com um portfólio de ações nos EUA próximo de US$ 13 bilhões, que inclui de BlackRock e Amazon ao JPMorgan; no Brasil, é sócio da Scala Data Centers

Lubna Olayan
Por Devon Pendleton - Dinesh Nair - Abeer Abu Omar - Todd Gillespie
20 de Dezembro, 2025 |

Bloomberg — Quando o presidente Donald Trump homenageou o príncipe herdeiro da Arábia Saudita em um jantar de Estado no mês passado, a lista de convidados incluiu pesos-pesados como Tim Cook, da Apple, e Jane Fraser, do Citigroup.

Sentada ao lado de Elon Musk estava Lubna Olayan, cujas conexões profundas tanto com Wall Street quanto com o reino saudita a destacaram como uma das pessoas mais influentes em um salão repleto de figuras

Aquele banquete na Casa Branca, em Washington DC, evidenciou a influência crescente do Grupo Olayan, um império saudita vasto e discreto que Lubna e sua irmã Hutham comandam há décadas.

As duas irmãs atingiram a maioridade em uma época em que mulheres não tinham permissão para dirigir e precisavam da autorização de um tutor masculino até para obter um passaporte no reino. Ainda assim, conseguiram conduzir o conglomerado familiar a um patamar de gigante, operando em escala comparável à de um fundo soberano.

O grupo controla um portfólio de ações nos Estados Unidos próximo de US$ 13 bilhões, com participações avaliadas em quase US$ 1 bilhão na BlackRock e US$ 1,5 bilhão no JPMorgan Chase, segundo registros regulatórios. No Brasil, o grupo é um dos sócios da Scala Data Centers.

Grande investidor do Credit Suisse antes de seu colapso, o conglomerado possui um portfólio imobiliário de primeira linha que vai da Madison Avenue ao centro de Londres. Firmou um grande negócio imobiliário em Dubai com a Brookfield e realiza investimentos expressivos em private equity e renda fixa.

No mercado doméstico, o grupo tem uma engarrafadora da Coca-Cola, opera franquias do Burger King e presta serviços para campos de petróleo.

Essas apostas transformaram o clã Olayan em uma das famílias mais ricas do mundo. A fortuna é avaliada em mais de US$ 50 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index, que os inclui em sua lista anual pela primeira vez.

Esse número, porém, não reflete plenamente a dimensão da riqueza, segundo pessoas familiarizadas com o assunto que falaram com a Bloomberg News, já que o grupo divulga informações financeiras limitadas.

Muitos estimam o patrimônio líquido dos Olayan bem acima de US$ 100 bilhões, o que os colocaria no mesmo patamar de Bill Gates, Carlos Slim e Mukesh Ambani.

Isso torna os Olayan mais ricos do que o príncipe Alwaleed bin Talal, o membro da realeza conhecido como o Warren Buffett da Arábia Saudita.

Riad, Arábia Saudita

A influência da família vai muito além desse poder financeiro, ajudada em parte pela lealdade demonstrada ao país em períodos difíceis — fator que tornou o grupo um elemento indispensável no cenário nacional, segundo pessoas a par do tema.

A extensão do alcance dos Olayan frequentemente leva executivos de Wall Street a buscar aconselhamento, à medida que aceleram planos de expansão na economia de quase US$ 1,3 trilhão do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, também conhecido pelas iniciais MBS.

“MBS continua a ver os EUA como parceiro preferencial em segurança e desenvolvimento econômico”, disse Steffen Hertog, professor da London School of Economics and Political Science. “Ter interlocutores privados com vínculos estreitos com as finanças americanas é útil.”

Um representante do Grupo Olayan baseado nos Estados Unidos não quis fazer comentários para a reportagem e direcionou todos os pedidos a um porta-voz na Arábia Saudita, que não respondeu a uma lista detalhada de perguntas.

A maioria dos executivos globais evita falar sobre a família por receio de desagradar as irmãs, conhecidas por protegerem com rigor sua privacidade.

Esta reportagem se baseia em uma análise dos investimentos da família, de suas empresas operacionais e de registros de entidades controladas pelos Olayan, além de entrevistas da Bloomberg News com mais de meia dúzia de pessoas familiarizadas com o grupo, que pediram anonimato ao tratar de informações não públicas.

Chefes de Wall Street

Hutham e Lubna nasceram na Arábia Saudita, ambas no início dos anos de 1970, filhas de Suliman Olayan. O patriarca ficou órfão ainda jovem e começou a carreira como despachante de uma empresa predecessora da Saudi Aramco, aproveitando sua fluência em inglês.

Ele hipotecou a própria casa por US$ 8.000 para conquistar um contrato de dutos, segundo um perfil publicado pela revista Time, e acabou fundando o Grupo Olayan em 1947.

A partir daí, Suliman diversificou agressivamente, e o grupo firmou parcerias para vender pasta de dente Colgate, biscoitos Oreo e Coca-Cola no reino. Comprou ações americanas para usá-las como garantia junto a bancos dos EUA e, em 1980, seu conglomerado registrava mais de US$ 300 milhões em receita anual, de acordo com o perfil da Time.

Essa visão global criou um império singularmente binacional, no qual as filhas foram imersas desde cedo. Ambas estudaram nos Estados Unidos e, ao retornar, assumiram funções relevantes no negócio da família.

Após a morte de Suliman, em 2002, o filho Khaled foi nomeado presidente do Grupo Olayan, mas Lubna e Hutham ajudaram a administrar grande parte das operações.

Lubna liderou a divisão focada no Oriente Médio, enquanto Hutham assumiu o comando da Olayan America.

As irmãs se casaram com estrangeiros e passaram a ocupar posições de destaque — Lubna tornou-se, em 2004, a primeira mulher eleita para o conselho de uma empresa de capital aberto na Arábia Saudita. Mesmo então, os direitos das mulheres no reino eram severamente limitados. Apenas em 2018 elas conquistaram o “direito” de dirigir.

Perfil discreto

Em entrevista à National Public Radio (NPR) em 2018, Lubna relembrou a dificuldade de encontrar banheiros femininos em fábricas e escritórios, já que geralmente não havia mulheres nesses ambientes.

Ela começou a procurar autoridades e executivos em busca de apoio para ampliar a participação feminina na força de trabalho — sempre lembrada de agir com cautela e evitar confrontos.

“Então você negocia, administra, cede aqui, recebe ali”, disse ela na entrevista, ao falar sobre esses esforços iniciais.

Ao longo do caminho, as irmãs construíram reputações de negociadoras firmes. Sua ascensão foi facilitada pela capacidade de manter um perfil discreto e de assegurar que os negócios fossem vistos como alinhados aos objetivos do governo.

Hoje, o grupo tem sede oficial em Liechtenstein, com escritórios ao redor do mundo, inclusive em Atenas, onde o marido advogado de Lubna possui vínculos profundos.

Ao longo dos anos, a família ganhou fama por administrar uma organização altamente profissional, com sofisticação em negociações em um nível pouco comum entre family offices.

“A família foi muito consciente ao incorporar estruturas de governança corporativa aos seus negócios, e fez isso com alto grau de profissionalismo”, afirmou Josiane Fahed-Sreih, diretora do Institute of Family and Entrepreneurial Business da Lebanese American University.

Um sinal de sua influência apareceu em 2017, quando a família Olayan não foi afetada pelas detenções no Ritz-Carlton, em Riad, que atingiram dezenas de membros da realeza saudita, ex-autoridades e empresários — incluindo Alwaleed — durante a consolidação de poder do príncipe herdeiro e uma reviravolta nacional sem precedentes.

‘Somos bastante frugais’

O príncipe Alwaleed bin Talal, atualmente com patrimônio em torno de US$ 17 bilhões, viveu uma espécie de retorno nos últimos anos, e seu grupo de investimentos se beneficiou do frenesi de construção no reino.

Nos anos 1990, o empresário era conhecido por um estilo de vida extravagante, frequentemente fotografado em um iate privado comprado de Donald Trump.

Os Olayan atuam de forma diferente.

“Normalmente não buscamos os holofotes… especialmente nada chamativo”, disse Hutham sobre a família Olayan em um discurso à Arab Bankers Association of North America em 2013. “Evitamos excessos e somos bastante frugais.”

Ainda assim, houve tropeços.

Investidores de longa data do Credit Suisse, os Olayan mantiveram apoio ao banco mesmo durante o declínio, acabando entre os grandes perdedores da turbulência que culminou na compra do banco pelo UBS com desconto.

As perdas ocorreram em escala capaz de abalar grandes instituições financeiras, mas um executivo internacional lembra que o colapso foi tratado como um evento relativamente menor dentro do Grupo Olayan.

O conglomerado continuou a executar transações e pagamentos normalmente durante o período, segundo essa pessoa.

O Saudi National Bank, principal acionista do banco suíço, esteve entre as empresas que perderam dinheiro no investimento, e seu presidente renunciou após os acontecimentos. Enquanto isso, o perfil dos Olayan só cresceu nos anos seguintes.

Fundamentais para isso são os relacionamentos em Wall Street e dentro do reino, especialmente à medida que Riad intensificou a pressão para que empresas estrangeiras invistam mais localmente e ajudem a diversificar a economia.

Apesar das recentes pressões fiscais, a Arábia Saudita segue sendo um mercado atraente para os titãs das finanças globais: Riad figura entre os maiores emissores de dívida dos últimos anos, enquanto o fundo soberano do reino demonstrou apetite por negócios de grande porte, como a recente transação de US$ 55 bilhões para fechar o capital da Electronic Arts.

Lubna mantém laços estreitos com Larry Fink, cofundador da BlackRock, entre outros, e foi recentemente nomeada copresidente do Conselho Empresarial EUA–Arábia Saudita ao lado de Jane Fraser, do Citi. Hutham integra o conselho da Brookfield, uma das maiores investidoras de private equity no Oriente Médio.

Neste ano, durante a conferência Future Investment Initiative (FII) da Arábia Saudita — frequentemente chamada de Davos no Deserto —, Lubna promoveu uma recepção em Riad que reuniu os principais executivos financeiros globais e autoridades, em meio a canapés e pratos de arroz com cordeiro, segundo um participante.

As conexões vão além das finanças.

Os investimentos em ações nos Estados Unidos que o pai começou a acumular nos anos 1960 cresceram para US$ 12,7 bilhões.

Atualmente, o portfólio inclui participações na Microsoft, na Alphabet e na Amazon. Para efeito de comparação, o fundo soberano de US$ 1 trilhão da Arábia Saudita possui pouco mais de US$ 19 bilhões em ações americanas.

O portfólio de private equity do grupo forma outra parcela relevante e é estimado em dezenas de bilhões de dólares, segundo pessoas familiarizadas com o tema.

A taxa de crescimento anual composta dos investimentos diretos superou 30% em um período de 10 anos, de acordo com o site da empresa. Os ativos imobiliários abrangem mais de 3,7 milhões de metros quadrados e 40 mil apartamentos sob gestão.

No mercado doméstico, os Olayan apoiaram as maiores iniciativas do reino.

Quando a oferta pública inicial de US$ 25 bilhões da Saudi Aramco enfrentou dificuldades para atrair investidores internacionais em 2019, a família Olayan esteve entre os grupos acionados localmente pelo governo de Mohammed bin Salman para sustentar a demanda.

Ao mesmo tempo, as irmãs mantiveram um cuidadoso equilíbrio em suas declarações públicas.

Em 2018, quando grande parte de Wall Street evitou a conferência FII após agentes sauditas assassinarem o colunista Jamal Khashoggi, do Washington Post, Lubna abriu um painel lamentando a morte, afirmando que o ato contrariava os valores sauditas.

“Somos muito gratos por os terríveis atos relatados nas últimas semanas serem estranhos à nossa cultura e ao nosso DNA”, disse Lubna em sua fala.

Atualmente, Lubna é presidente do conselho corporativo do Grupo Olayan, segundo comunicado recente do Conselho Empresarial EUA–Arábia Saudita. Hutham preside o conselho de acionistas, de acordo com o site do grupo.

As operações do dia a dia são conduzidas principalmente por executivos como o CEO Hani Lazkani e o COO Samer Yaghnam, disseram pessoas familiarizadas com o assunto à Bloomberg News, embora as irmãs continuem sendo a face pública do grupo e liderem a estratégia geral ao lado de outros membros da família.

Várias pessoas descrevem Lubna como direta e expansiva, com reputação de envolvimento profundo em seus investimentos. Assim como o pai, ela é cosmopolita e acolhedora, mas também incisiva, disse James Zogby, presidente do Arab American Institute e amigo do falecido Suliman.

“Quando você conversa com ela sobre acontecimentos atuais, não é apenas ‘isso aconteceu’. Ela entende por que as coisas estão se movendo da forma como estão”, disse.

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Hutham, por sua vez, parece falar de maneira suave e ter um ar de avó nas conversas, mas sua linha de questionamentos gentis consegue extrair pequenos detalhes que depois servem de munição na mesa de negociações, segundo um executivo internacional.

As irmãs estão entre as poucas pessoas que compreendem a verdadeira dimensão de todo o negócio em sua totalidade e controlam rigidamente os detalhes financeiros. Em anos anteriores, houve momentos em que a abertura de capital de alguma operação parecia iminente, mas os negócios não se concretizaram.

Enquanto isso, muita coisa mudou para as mulheres sauditas no mercado de trabalho. Nos últimos sete anos, o reino anunciou reformas que permitem às mulheres abrir empresas sem consentimento masculino e viajar de forma independente; muitas hoje administram fundos de private equity, negociam ações e trabalham em fábricas.

“Buscamos oportunidades, mesmo na adversidade”, disse Hutham em seu discurso de 2013 sobre a família. “Sempre vemos o lado positivo.”

-- Com informação adicional da Bloomberg Línea sobre a participação do grupo na Scala Data Centers.