As redes sociais divulgaram, no fim de março, uma carta aberta do arquiteto Leonardo Castriota, presidente da Icomos-Brasil, pedindo a mobilização de todos aqueles que se preocupam com o dramático estado de degradação do patrimônio nacional. Combatendo a inércia e a omissão dos poderes públicos há mais de 40 anos, eu só podia tomar este apelo como pessoal.
Mas com que armas podemos enfrentar esta luta, se os
cargos do IPHAN, considerados “de confiança”, são atribuídos pelos governadores
a elementos escolhidos pelo apadrinhamento e não pela excelência profissional?
Temos na Bahia os escabrosos exemplos de dois superintendentes cujas raras atuações
foram sempre a favor da politicagem mais rasteira, favorecendo à especulação
imobiliária em detrimento da preservação cada dia mais precária de um
patrimônio essencial a nossa identidade.
Em que estado estão os monumentos considerados pela
UNESCO como bens da humanidade, para não falarmos dos sítios naturais e
conjuntos arquitetônicos tombados como patrimônio nacional?
O acervo cultural e histórico deste país é com certeza o
que menos preocupa os parlamentares, a não ser que haja uma megaoperação de
restauração com custos milionários. Vide a vergonhosa saga das obras do
convento de São Francisco de Cairu. Iniciadas em 2009, até hoje encontram-se inacabadas,
apesar de terem devorado uma polpuda fatia de nossas contribuições. Um político
ligado às falcatruas da Petrobrás varreu uma empresa de restauração competente
para dar espaço à gatunagem.
Passear hoje pelo centro histórico de Salvador lembra
mais Nagasaki que Cartagena de Índias. O IPAC - cuja finalidade é de “...executar a
política de preservação do patrimônio cultural da Bahia”, está sendo afastado não só
das decisões, mas também da execução de obras complexas que exigem bem mais que
engenheiros. Os últimos governadores desviaram as atribuições deste órgão para a
Conder, estatal cuja missão é “a execução de obras de mobilidade, habitação,
equipamentos e requalificação urbanística e destinação de resíduos sólidos, com
responsabilidade socioambiental.” O resultado não podia ser outro senão
pífio. Projetos engavetados, obras inacabadas ou mal feitas, estética abaixo de
qualquer crítica...
Não por acaso o turismo em Salvador
passou em 20 anos de segundo destino, logo após o Rio de Janeiro, para o nono. O
axioma de um então secretário de Turismo e Cultura(!) que declarou “Não quero qualidade, quero quantidade”
muito contribuiu a esta decadência. Ninguém deseja visitar um monte de escombros,
lixo e craqueiros. Resta completar este quadro com o abandono das praias e um
centro de convenções destruído por falta de manutenção. A Bahia de Ary Barroso e
Dorival Caymmi não existe mais.
Nossa!
ResponderExcluirAcredito que você é o único que REALMENTE se incomoda com o nosso patrimônio.
ResponderExcluirEu sinto nojo de viver no Brasil. Ameris
ResponderExcluirMuito triste...trabalhei no IPAC nos anos 80 e a esperança era grande...que pena...
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