sábado, 26 de agosto de 2017

PALHAÇADA INSTITUCIONALIZADA

A FÉ COMO ELA NÃO DEVERIA SER - NO PLENÁRIO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA BAHIA
DA SÉRIE: você sabia disso?
MALU FONTES

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Se você nunca esteve no plenário da Assembleia Legislativa, vou tentar descrever mais ou menos a disposição arquitetônica do espaço. Um salão grande onde ficam as cadeiras giratórias e confutáveis dos 63 deputados estaduais. Diante deles, uma espécie de tablado mais alto onde sentam-se o presidente da casa durante as sessões, ladeado pelos colegas que compõem a mesa. As fotos ilustrarão melhor os detalhes. Na parede atrás da mesa, no alto dela [da parede], fica o painel eletrônico. Em frente a essa parede ficam as portas de entrada/saída do plenário. Na parede acima das portas havia, até essa semana, um grande crucifixo.
Ao lado direito da mesa diretora, ficam, embaixo, um pouquinho só acima do nível do plenário, a tribuna de imprensa, onde ficam os jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas que diariamente fazem a cobertura política do que acontece no plenário e no poder legislativo estadual de modo geral. Acima da tribuna, bem no alto, ficam dois pisos do que se chamamos de galerias, onde a população pode ficar para assistir as sessões, protestar contra algo ou alguém da casa, defender um projeto de lei, criticar outro, participar, enfim. Ao lado esquerdo da Mesa Diretora fica a tribuna onde os deputados discursam, uma espécie de púlpito.

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Ocupando praticamente toda a parede esquerda há um grande painel do artista plástico Carlos Bastos, “A Procissão do Senhor dos Navegantes”, retratando a secular festa realizada no dia 1º de janeiro em Salvador, com a Galeota Gratidão do Povo. No painel, sob o casco da galeota está a imensidão do mar azul e dezenas de imagens, incluindo sereias. O painel, inaugurado em meados dos anos 1970, foi destruído por um incêndio no plenário, em 1978 e reconstruído em 1993.
Pois bem, há algum tempo alguns deputados vinham implicando com o painel de Carlos Bastos, censurando a obra por motivos religiosos, sob a alegação de que as imagens de sereias seriam uma referência explícita a Yemanjá, ao Candomblé, tema que deixa os parlamentares evangélicos ouriçados. Por outro lado, com o debate em torno do Estado Laico cada vez mais intenso, alguns deputados e segmentos da sociedade há muito reivindicavam à retirada do crucifixo.
Não é que esta semana o crucifixo foi retirado? Foi. Mas não em nome do estado laico, mas para que o embate religioso descesse alguns níveis abaixo em pleno coração do Poder Legislativo do Estado da Bahia.

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Por iniciativa do famoso deputado Pastor Sargento Isidoro, autoproclamado "ex-viado" [expressão usada por ele] e evangélico dos mais aguerridos, foi inaugurado nesta quinta-feira (24 de agosto 2017), substituindo o crucifixo e como forma de garantir a representação dos religiosos opositores da sereia da galeota, um painel em "homenagem ao DEUS DE ISRAEL". A inauguração incluiu a comemoração ao Dia dos Pastores e a entrega da Comenda 2 de Julho ao Pastor Valdomiro Pereira.
O painel, segundo o nobre patinaste que o concebeu como iniciativa do seu mandato, é uma referência ao Deus de Israel, alicerçada em três símbolos-chave da fé cristã: a Bíblia Sagrada, livro inspirado por Deus, símbolo de fé e o mais lido do mundo inteiro, em todos os tempos, a Arca da Aliança, que representa a presença de Deus, e a representação do Espírito Santo.
Isidoro se enfurece com quem chama o painel de estátua: "Quem gostava de estátua era Nabucodonosor. O Deus de Israel é a referência máxima para todos os cristãos, sejam eles evangélicos, católicos ou espíritas e está em todos os lugares, de forma onipresente, onisciente e onipotente.
Questão 1 - Como um painel como o de Isidoro foi parar DENTRO de uma casa legislativa em 2017?
Questão 2 - Esteticamente, qual a nota?
Questão 3 - Ao perguntar a uma cabeça coroada da Assembleia se ninguém iria comprar essa briga em defesa do Estado Laico, me responderam. A única pessoa aqui dentro que pode comprar essa briga é Fabíola Mansur. Confere, Fabiola? [não perguntei diretamente a você porque você estava na Mesa, na sessão especial].
PS: eu juro que estou cansadinha de levar surras de foicebuque. Mas, diante dessa cena que vi, prevaleceu a tese da fábula do Escorpião versus a rã: é da minha natureza.

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