ORDEP SERRA
Por mais que faça nossa beata mídia, não há como esconder o escandaloso fracasso do atual governo justamente na economia, em que ele se apresentava como salvador. O iluminado doutor Meireles e sua equipe agravaram a crise que prometiam debelar: aumentaram de forma grotesca o deficit fiscal, acresceram os gastos de governo que prometiam conter e sacrificaram recursos críticos, ao tempo em que aumentaram o empobrecimento geral do país. Sua única e parcial defesa eles não podem formular: na gastança, ficaram entre a cruz e a caldeirinha, tendo de ceder a uma derrama de dinheiro para manter um presidente desmoralizado, detestado pela população, desacreditado, com um imenso telhado de vidro.
Este títere vagabundo está saindo bem caro ao país e desagradável até para quem se vale de sua mão de gato. É o caso de perguntar o que tem de tão valioso para os reais donos do poder um arrivista incapaz, insosso, inculto, sem qualquer carisma, mas com uma espantosa vocação para o disparate: um pascácio que humilha a própria mulher tentando elogiá-la, que confunde Carlos Magno com o Rei Artur, que em plena Escandinávia não consegue distinguir a Noruega da Suécia, que é humilhado por uma zombeteira primeira ministra e engole a censura risonha atrapalhando-se com as palavras, que comparece a reuniões de cúpula como Pilatos no Credo e é ignorado por todos, um bufão cujas gafes nem sequer divertem. Não têm seus patrões nada de melhor para servir-lhes de instrumento na presente farsa, ninguém menos tosco para fingir de estadista encobrindo seus planos? É fato que eles aproveitaram a disponibilidade do carona guindado ao posto pela insensatez política dos seus atuais opositores: esta circunstância dá uma sombra de legitimidade ao governo que ele encena. Mas porque não o descartam, não o trocam por outro boneco menos comprometedor, que pelo menos guarde aparência de seriedade? Eu acredito que à parte a conveniência do momento, Michel Temer tem, sim, uma “qualidade” que o torna muito valioso para quem o manipula: sua paralisia moral, sua absoluta serenidade em face da infâmia. É um personagem raro, de todo insensível à vergonha. Vejamos bem: um homem que diante de denúncia gravíssima tudo faz para não ser investigado é um réu manifesto, marcado de forma decisiva pela culpa. Não digo "réu confesso" porque ele não chega a tanto: na confissão, há uma dignidade de que o energúmeno é incapaz. Resta-lhe fugir da investigação que qualquer pessoa honesta exigiria; resta-lhe a desfaçatez de negar a evidência, sabendo que a ninguém convence. Mas aí está: a qualidade que o torna valioso para seus patrões consiste exatamente nisso: em ser inteiramente desqualificado e não ligar a mínima para isso. Michel Temer é imune ao respeito humano. Já tivemos na presidência ditadores, homens truculentos e cruéis, mas nenhum tão indiferente ao juízo moral, tão impassível diante da vergonha. O rosto do atual presidente de fancaria nada revela: ele encarna o típico cara de pau, como diz o povo. Um homem inexpressivo, em suma. Mas até essa ausência de expressão o torna útil a quem se interessa por tirar vantagens à custa do interesse público. Por trás de sua máscara pode ocultar-se toda uma súcia. É um biombo perfeito para a rapina. O Senhor Michel Temer chega a ser um prodígio, triste mas espantoso. Não sei de ninguém na história que tenha tirado tanto proveito da nulidade e usado de modo tão perverso a própria insignificância. À sua volta há gente da pior espécie, mas nenhum tão eficazmente deslavado. O ex-presidente da Câmara de Deputados, o famoso Cunha, não consegue tirar do rosto o deboche. Seus olhos muriáceos o traem. O ministro do Supremo que não hesita em usar o magistério na politicagem mais obscena estampa a sordidez no rosto, quando incha feito um cururu e projeta o beiço de forma insana. A modo que tenta assim escudar as asneiras que profere: a vaidade que o faz imaginar-se um intelectual talvez o leve a essa contorção quando blasfema da justiça. Por certo, não há na camarilha aboletada no governo quem consiga imitar o Gerião de Dante com sua bela face. Temer não chega a tanto, mas é o que melhor se mascara: totalmente descarado.
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