Lisboa ostenta uns doze milhões de turistas por ano enquanto a Bahia se
emociona cada vez que atraca um navio de cruzeiro e bate palmas quando a classe
média baixa mineira invade a passarela do álcool em Porto Seguro. Mas precisamos
realmente do programa português Revive?
O Estado da Bahia que comece pelo dever de casa e conclua as obras
iniciadas em 2007, na primeira gestão de Jaques Wagner! A Vila Nova Esperança.
O Palco móvel do Largo do Pelourinho. A “república” de estudantes andaluzes da
rua do Tesouro. Que restaure o convento de São Francisco de Salvador, flagrante
exemplo da incompetência dos poderes públicos. O histórico Cine-Teatro Jandaia.
O Instituto do Cacau. Que o IPHAN faça sua parte fiscalizando o tsunami de
puxadinhos, garagens e esquadrilhas de alumínio.
É preciso realmente importar conhecimento lusitano para enfrentar o
óbvio? Não, Excelentíssimo Senhor Governador. Temos de sobra arquitetos,
restauradores, historiadores, antropólogos e sociólogos para saber como
resolver os problemas do centro antigo da primeira capital do Brasil. De
fitinhas do Bonfim, baianas de receptivo e hotéis vazios, estamos cheios.
Queremos clínicas, escolas, creches, consultórios dentários, sapatarias, papelarias,
feiras de produtos orgânicos, confecções e farmácias. Queremos moradias para
todas as classes. Queremos passeios confortáveis, com a supressão destes
abomináveis postes, e transporte público de qualidade. Queremos um bairro sem
poluição sonora, visual ou ambiental. Queremos um bairro que viva normalmente
como em Quito, Puebla, Amsterdam ou Arequipa. Nada de fazer do centro antigo
uma Disney, por favor!
Aliás, Lisboa é a primeira vítima do excessivo turismo predador. No
Rossio, a lendária Pastelaria Suíça fechou para transformar o quarteirão em centro
comercial e a Fábrica de Cerâmica Sant´Ana, na rua do Alecrim - que, no século
XVIII, fez grande parte dos azulejos de nosso convento de São Francisco - está
ameaçada de se transformar em mais um hotel. Os lisboetas cansaram de tanta
descaraterização identitária no centro pombalino e em Alfama.
Que me perdoem meus inúmeros amigos “alfacinhas”, mas o exemplo português
não serve para a Bahia. Se, porém, quiserem imitar, que se comece por maneirar
a especulação imobiliária que está acabando com a cidade. Plantem árvores e flores
em vez de toneladas de concreto para mais viadutos e autopistas, mais BRT e
monotrilhos, tudo aquilo que está sendo erradicado nos países do Primeiro
Mundo. Menos carros e mais verde, Seu Rui!
Façam de Salvador inteira uma
cidade prazerosa para seus habitantes e os turistas virão lotar hotéis e
pousadas. Sem concreto, apelação, bajulação ou subserviência.
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