sábado, 28 de dezembro de 2019

ACORDO LUSO-BAIANO...

...PARA O TURISMO




Lisboa ostenta uns doze milhões de turistas por ano enquanto a Bahia se emociona cada vez que atraca um navio de cruzeiro e bate palmas quando a classe média baixa mineira invade a passarela do álcool em Porto Seguro. Mas precisamos realmente do programa português Revive?
O Estado da Bahia que comece pelo dever de casa e conclua as obras iniciadas em 2007, na primeira gestão de Jaques Wagner! A Vila Nova Esperança. O Palco móvel do Largo do Pelourinho. A “república” de estudantes andaluzes da rua do Tesouro. Que restaure o convento de São Francisco de Salvador, flagrante exemplo da incompetência dos poderes públicos. O histórico Cine-Teatro Jandaia. O Instituto do Cacau. Que o IPHAN faça sua parte fiscalizando o tsunami de puxadinhos, garagens e esquadrilhas de alumínio. 
É preciso realmente importar conhecimento lusitano para enfrentar o óbvio? Não, Excelentíssimo Senhor Governador. Temos de sobra arquitetos, restauradores, historiadores, antropólogos e sociólogos para saber como resolver os problemas do centro antigo da primeira capital do Brasil. De fitinhas do Bonfim, baianas de receptivo e hotéis vazios, estamos cheios. 

   Queremos clínicas, escolas, creches, consultórios dentários, sapatarias, papelarias, feiras de produtos orgânicos, confecções e farmácias. Queremos moradias para todas as classes. Queremos passeios confortáveis, com a supressão destes abomináveis postes, e transporte público de qualidade. Queremos um bairro sem poluição sonora, visual ou ambiental. Queremos um bairro que viva normalmente como em Quito, Puebla, Amsterdam ou Arequipa. Nada de fazer do centro antigo uma Disney, por favor! 
Aliás, Lisboa é a primeira vítima do excessivo turismo predador. No Rossio, a lendária Pastelaria Suíça fechou para transformar o quarteirão em centro comercial e a Fábrica de Cerâmica Sant´Ana, na rua do Alecrim - que, no século XVIII, fez grande parte dos azulejos de nosso convento de São Francisco - está ameaçada de se transformar em mais um hotel. 
Os lisboetas cansaram de tanta descaraterização identitária no centro pombalino e em Alfama. 
Que me perdoem meus inúmeros amigos “alfacinhas”, mas o exemplo português não serve para a Bahia. Se, porém, quiserem imitar, que se comece por maneirar a especulação imobiliária que está acabando com a cidade. Plantem árvores e flores em vez de toneladas de concreto para mais viadutos e autopistas, mais BRT e monotrilhos, tudo aquilo que está sendo erradicado nos países do Primeiro Mundo. Menos carros e mais verde, Seu Rui!
 Façam de Salvador inteira uma cidade prazerosa para seus habitantes e os turistas virão lotar hotéis e pousadas. Sem concreto, apelação, bajulação ou subserviência.

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