sábado, 14 de dezembro de 2019

DESMATAMENTO SEM LIMITE

Área sob alerta de desmatamento na Amazônia em novembro é a maior para o mês desde 2015, apontam dados do Inpe

Foram 563,03 km² sob alerta, recorde para o mês na série histórica, que começa em 2015. Em comparação com novembro de 2018, o aumento foi de 103,7%.


Alertas de desmatamento na Amazônia batem recorde para os meses de novembro, segundo o Inpe. — Foto: Reprodução/JN
Alertas de desmatamento na Amazônia batem recorde para os meses de novembro, segundo o Inpe. — Foto: Reprodução/JN

O mês de novembro de 2019 teve recorde no registro de áreas sob alertas de desmatamento na Amazônia: foram 563,03 km² entre 1° e 30 de novembro, a maior área em toda a série histórica, que começa em 2015. Na comparação com o mesmo mês de 2018, o aumento foi de 103,7%.
De janeiro a novembro de 2019, 8.974,31 km² estiveram sob alerta, quase o dobro do registrado nos mesmos meses em 2018, 4.878,7 km² – aumento de 83,9%.
Os dados são do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência, e fazem parte do sistema de Detecção em Tempo Real (Deter). Este sistema não é usado como a taxa oficial de desmatamento na Amazônia, mas pode indicar a tendência de devastação do bioma. Ele só tem registro a partir de 2015 porque o sistema de detecção passou a usar novos padrões de satélites e a comparação com os dados obtidos desde 2004 não é indicada pelos cientistas.
A taxa oficial de desmatamento é medida pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes). O dado mais recente foi divulgado no mês passado: foram devastados 9.762 km² entre agosto de 2018 e julho de 2019, aumento de 29,5% em relação ao período anterior. O G1 entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente para saber que medidas estavam sendo tomadas para evitar a devastação, mas ainda aguarda retorno.

Infográfico mostra os registros de alertas de desmatamento para o mês de novembro, segundo o Inpe — Foto: Elida Oliveira/G1

Aumento preocupa especialistas

Novembro é uma época chuvosa na maior parte da floresta Amazônica e, por isso, os desmates costumam ter índices menores – com chuva, o deslocamento de equipamentos e o peso do transporte da madeira desencorajam a ação. Entretanto, a devastação continua.
De acordo com o climatologista Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências e do Grupo Estratégico da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, a estação chuvosa está normal na Amazônia. "O leste da Amazônia ainda está no período seco, mas no oeste já está chovendo, então podemos descartar o clima", afirma.
"Este aumento no desmatamento que permanece em novembro só reforça a conclusão que nenhuma medida que o governo tenha tomado está funcionando. Não há medidas tomadas pelo governo federal para reduzir a ilegalidade que estejam funcionando" – Carlos Nobre, climatologista
Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), afirmou em entrevista à TV Globo que os números de alerta seguem aumentando, mesmo com um sistema que tem defasagem na medição de 30% a 40% em relação à taxa oficial de desmatamento.
"Segundo os últimos dados do Deter, de agosto a novembro a gente tem quase 5 mil km² [sob alerta], um dado que é subestimado por 30 a 40%. No mesmo período do ano passado, esse dado foi um pouco menos de 2 mil km² e a gente nem chegou ainda ao período principal do desmatamento, que normalmente acontece no primeiro semestre de cada ano" – Ane Alencar, diretora do Ipam

 Em agosto, o G1 mostrou que os dados do Deter são historicamente confirmados pelo balanço anual. No caso dos números mais recentes do Prodes, a taxa consolidada foi ainda 42% maior do que apontava o sistema de alertas Deter.
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, diz que o dado é preocupante, mas não o surpreende. Ele cita políticas do governo como a redução da execução orçamentária do ministério do Meio Ambiente, a retirada de superintendentes do Ibama "em vários estados da Amazônia" e a proposta de regulamentar a mineração em terras indígenas como fatores que influenciam no aumento do desmatamento.
"O que está destruindo a Amazônia é o incentivo à atividade ilegal", afirma. Ele cita um relatório técnico produzido pelo Instituto Centro de Vida (ICV) que aponta que, entre agosto de 2018 e julho de 2019, 85% dos desmates em Mato Grosso ocorreram de forma ilegal.

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