A primeira coisa a ser notada é que a lógica do filme é totalmente corrompida para, propositadamente fugir da nossa, ocidental. Aquela que diz que a Palestina é que é ruim, com perseguições e preconceitos e que o ocidente é bom, desenvolvido e sobretudo seguro? Jura que você também pensa assim?
Jura que você também toma seu cafezinho e diz que o Louvre sim é que é museu, que na Bahia eles podiam até fechar porque quem quer ir ao museu na Bahia? Jura? Então, solte-se da sua lógica e vá ver O PARAISO DEVER SER AQUI. O filme tem inúmeros momentos nonsense, remexe mesmo em muitos conceitos – a começar com o conceito e relação entre tempo/espaço, entre fala e diálogo – e desbanca essa fala vazia/hipócrita, normalmente à beira de barzinhos “in”, onde se ouve como aqui é inseguro e em Nova Iorque e Paris a vida é totalmente diferente, se “respira liberdade” e civilização.
Se há alguma coisa que a globalização nos trouxe e nos mostra a cada dia com mais clareza e objetividade é que a falta de educação prospera no mundo e o filme apenas marca como um relógio como somos tacanhos. “Na Palestina é pior” poderia ser o bordão, a gíria do momento. Não fazemos, não sabemos nem pra esse tipo de comentário. Nossa maior sabedoria começa e acaba nas relações possíveis entre a “Faixa de Gaza” na Linha Vermelha carioca e o Bairro da Paz, aqui em Salvador.
Se é necessário então subverter a lógica, a comunicação, os diálogos, o tempo, o ritmo, o espaço, a repetição de gestos, os olhares e a mise en scène para que o público estranhe e duvide dos próprios conceitos, vale demais.
É um filme estranho, cheio de paradoxos. Mas sabendo que isso tudo tem como objetivo o puxão de orelhas que merecemos, vale.
E, dentro de você, responda, sinceramente: Na Palestina é pior? Ou você é pior que a Palestina?
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Elia Suleiman, realizador, protagonista, envolvente. O filme é inundado pela sua expressividade, pelo seu olhar, pelo seu humor. Recordei demais o nosso realizador português João César Monteiro, por muitos aspetos, principalmente pelo humor. Me fez também recordar Manoel de Oliveira, realizador português conhecido pelos seus planos e pelo ritmo característico. Muito legal sentir isso ao ver um filme de um realizador palestino.
Elia Suleiman, fez um filme com um ritmo difícil, ousado, reflexivo. Uma ironia e humor muito particulares, sempre presentes.
Nos confronta constantemente com a realidade mundial e com aquilo que decidimos ser a realidade. Realmente o mundo está cada vez mais igual, igualmente imprevisível e perigoso. Mas insistimos que a vida na Palestina, por exemplo, é que é perigosa e de risco. E em Paris? E pelo mundo?
A forma como nos tratam sem saber quem somos e a forma como nos tratam quando sabem de onde somos, quem somos, o que acham que somos. Vivemos mergulhados em conceitos e pré-conceitos que “complicam” a vida, as nossas relações, quando afinal tudo é tão simples. Não é?
Elia Suleiman é um “personagem”. Olho vivo, expressões faciais pequenas num corpo que evita tomar decisões corporais, um gênio.
As ironias e as mensagens do filme são universais. Incrível como o mundo é tão parecido, como procuramos as mesmas coisas, rimos das mesmas coisas. Nos preocupamos com o mesmo.
Quantas vezes nos confrontamos com o ridículo da forma como nos protegemos enquanto pessoas e enquanto países, como atuam na segurança de aeroportos, de metrô, nas ruas, etc. Se não fosse uma verdade tão triste, daria direito a uma boa gargalhada. Mas a gargalhada fica engasgada na nossa garganta.
A música, amo. Música árabe sempre surge quente, sinuosa, envolvente. Fabulosa.
Se gosta de cinema, não perca. Quando sair do filme terá muito para pensar, conversar e refletir.
Ana Santos, professora, jornalista
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO.
FILME DE AUTOR, INTERESSANTE, COM CERTA DOSE DE HUMOR. GANHARIA COM ALGUNS CORTES. PELO MENOS 15 MINUTOS.
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