segunda-feira, 1 de maio de 2023

SOBRE AVIÕES, PASSAGEIROS...

... COMISSÁRIOS DE BORDO, POLÍCIA FEDERAL E OUTRAS INCOMPATIBILIDADES



Samantha Vitena Barbosa, mestranda em Ciências da Saúde pela prestigiada FIOCRUZ, foi dar prosseguimento ao mestrado em São Paulo, capital, voando de Salvador a Congonhas, centro de São Paulo, pela Gol.
O voo estava atrasado em cerca de 2 horas, lotação completa, quando Samantha percebeu que não haviam compartimentos disponíveis para acomodar sua mochila e o seu indispensável note book, instrumento frágil que só permite o transporte em mãos.
Samantha recorreu aos/às comissários/as de bordo para conseguir um espaço para a mochila e note book, tendo como resposta única que ela voltasse ao balcão de embarque e ali despachasse a mochila. Não era uma ironia, e sim a carapaça racista que perdura mais de cem anos após o fim da escravidão em nosso país.
Seria uma excelente solução, se os operosos comissários garantissem que o avião não partiria sem Samantha, mas não havia como garantir, e Samantha precisava estudar.
Alguns passageiros conseguiram abrir um espaço no compartimento de bagagens e Samantha finalmente abrigou sua mochila, mas a sentença já havia sido proferida: Samantha foi considerada pelos comissários como persona non grata, por haver causado bulício e transtorno a bordo e por esse delito, gravíssimo, ela deveria ser expulsa do voo e, quem sabe, conseguir novas passagens, em outra empresa, que ainda não tivesse tomado conhecimento do delito.
Samantha armou-se de coragem com os seus mínimos instrumentos de defesa, o celular e a voz, negando-se a sair, uma vez acomodada a sua mochila e note book.
Passageiros ilustres se uniram ao brado de Samantha pelo seu direito de permanecer a bordo e atender ao seu compromisso, sem êxito: não se sabe se a pedido dos comissários, ou a uma ordem do comandante, um civil fardado com poderes plenipotenciários, até de casar noivos e fazer testamentos quando a bordo de navios, fizeram vir a Polícia Federal, competente para a demanda, que não fez perguntas, não indagou, de queixosos ao comandante, quem estava com a razão, logo executando a sentença.
Samantha é negra e conhece bem o significado de racismo: nada teria acontecido se ela fosse branca, os comissários a teriam acomodado e a sua mochila pressurosamente, mas ela é negra; inteligente, sabe que a escravidão e atitudes escravistas não podem mais ser aceitas nesse século 21, principalmente se seguidas de constrangimento, sectarismo e violência.
Samantha foi a vítima, e seus algozes sim, capazes de brutalidade e estupidez, foram a GOL, por atrasar voos para não deixar assentos vazios diminuindo seus lucros e estabelecer critérios vexatórios contra consumidores do alto do seu poderio econômico; o comandante, tão racista e insensível quanto os comissários e, por fim, a Polícia Federal capitã do mato, sempre à disposição do poder, nunca do consumidor cidadão, embora estivesse ali na refrega um policial também negro, incapaz de levantar a voz para questionar quem estava com a razão, talvez por render-se ao poder.
Samantha vai continuar sua luta por ser humana, não por ser indígena, oriental ou de outra religião, e dou-lhe um argumento irrespondível como jurisprudência para quando for à barra dos tribunais:
Nos EUA, um voo estava com excesso de quatro passageiros; por critérios nunca explicados, quatro deles foram escolhidos para saírem. Um deles, médico, alegou não poder sair do voo por estar com cirurgia marcada com paciente, enquanto 3 aceitaram outro voo.
A empresa aérea, o comandante, os comissários, a polícia, tal como no caso Samantha, tiraram o médico à força; resistindo, apanhou e teve quebrados os dentes, além de perder a cirurgia.
As indenizações pagas pela companhia aérea ao médico-vítima chegam à casa de quase um bilhão de dólares e a lide continua. Assim é, em países civilizados.
Sabe-se desse caso, correu o mundo e virou meme pela pena de um jornalista que, ao final do seu artigo, perguntava ironicamente se, sendo o voo com duração de duas horas, cerca de 1,5 mil km, não teria sido mais inteligente contratar um outro avião, ou helicóptero, ou uma limusine para os 4 passageiros, carregados de flores, champanhe, caviar, belas comissárias servindo, do que cometer violência e brutalidade contra o consumidor?
Às vezes, jornalistas a bordo, ou solidários, tal como advogados, são fundamentais, Samantha.

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