Inventada
pelos povos da Mesopotâmia 6500 anos atrás, a roda mudou o curso de todas as civilizações.
Infelizmente, o arquiteto egípcio Imhotep nasceu algo como um século antes e
enfrentou a dura tarefa de construir a maior pirâmide – nos subúrbios do Cairo
- sem ajuda da dita. Aliás, pensando bem, não haveria roda nenhuma bastante resistente
para carregar um monólito de dez toneladas. Troncos de árvores e chicote nas
costas dos coitados contribuíram para erguer uma das Sete Maravilhas de Todos
os Tempos como dizem os jornalistas que adoram superlativos superativados.
Esta
invenção tem sido usada para tudo e qualquer coisa. Para as corridas de bigas e
quadrigas, por exemplo, nas arenas romanas, um dos raros jogos que era permitido
às mulheres assistir. Não podiam deliciar-se com outros esportes porque os
atletas concorriam peladinhos da silva, como provam as estátuas do Louvre e do
Vaticano. Como se concentrar no lançamento do disco quando risadinhas e
comentários picantes correm pela plateia?
Na Idade
Média serviu para torturas. Nem detalharei os horrores da chamada Roda de Santa
Catarina usada na Alemanha até o século XIX.
Hoje, além
do carro de boi, do fusquinha e da Lamborghini, existe a Roda Viva, muito mais
divertida quando não informativa, acrescentando que quem está sentado no meio
usufrui de uma cadeira giratória. Até onde vai a sofisticação!
Mas para uma boa fatia dos oito bilhões de habitantes neste planeta o que importa mesmo é a rede. Não, não estou a falar das idiotices que circulam pelos computadores dos pretensamente civilizados alimentados por alienados tipo Eduardo Bananinha Nantes Bolsonaro e outras zambelis.
O objeto de meu permanente desejo é aquela
oriunda dos teares cearenses, de algodão colorido bem popular, bem minha roça,
minha vida, ou branca com elaboradas franjas, prontas para figurar na Casa
Vogue Special Equador. Após demorada pesquisa na Enciclopédia Britânica e na
Universal de Diderot, foi o Google que revelou algo surpreendente: a rede de
dormir já existia na Europa do século XIV! Quem sabe se Luís XV e a Pompadour teriam
usado?
Mas rede
mesmo, que nos permite voltar a infância, ao berço e ao ventre materno na doce
brisa tropical, é essa que nos vem dos índios. É o mesmo cordão umbilical que
une a sofredora família sertaneja de Morte e Vida Severina aos ociosos dos
hotéis de luxo de Trancoso. O único móvel da oca talvez seja o maior símbolo da
identidade nacional.
Se a roda é
sinônimo de dinâmica, trabalho e evolução, a rede representa a imagem mais
perfeita de tempo suspenso, paz, laser e harmonia. Existe na rede uma poesia e
uma sensualidade das quais, definitivamente, carece a roda por muito cromada
que seja. Ô balancê, balancê...
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