Bar Zepellin
Braz Chediak
Houve um tempo em que o Rio de Janeiro era de lutas, de sonhos, de beleza e prazer.
Todas as noites, de segunda a segunda, frequentávamos os bares da moda e tínhamos como referência o Gôndola, onde se reuniam os atores e atrizes, e a Fiorentina (mais frequentada pelos diretores), Zepellin, Degrau, Álvaro, e tantos outros completavam o circuito.
Como era solteiro, bebia muito, frequentava todos e ainda dava uma esticada no Le Bateau, onde Jorginho Guinle e Ionita tinham suas discussões e Juca Chaves passava a noite em pé, descalço sobre uma mesa, bebendo guaraná.
As mulheres... as mulheres eram um espetáculo à parte: Leila Diniz, Tânia Scher, Ionita, Maria Gladys Mello, Dudu Continentino, Leda Zeppelin, Marília Pera, etc., etc., e põe etc. nisto, davam um toque de magia em tudo...
Sonhávamos com cinema.
Luiz Rosemberg Filho, Luiz Carlos Lacerda (o Bigode), Sindoval Aguiar e tantos outros almoçavam e jantavam filmes. Nelson Pereira, Glauber e Godard se misturavam numa conversa que durava dias e noites.
Fellini, nunca compreendi a causa, era chamado de “reacionário”.
Plínio Marcos, Antonio Bivar, Leilah Assumpção e o eterno Nelson Rodrigues, etc., eram citações constantes em nossa roda.
Éramos felizes do jeito que éramos, mas o tempo passou e...
Hoje constato que a cultura não é mais tema de conversas. Um filme, uma peça, um poema, são coisas de mercado semelhantes a um celular ou a um lanche fast food.
As conversas intelectuais, quando as há, são chamadas de “chatas”.
Os jovens estão malhando em excesso, transformando seu corpos em medidas. Procuram uma perfeição impossível, já que nosso corpo é mutante e envelhecemos. A vaidade se tornou física.
Semana passada li uma crônica do Zuenir onde ele cita o professor Francisco Ortega, estudioso do fenômeno:
“não podendo mudar o mundo, tentamos mudar o corpo, o único espaço que restou à utopia”.
Esta constatação me fez pensar com tristeza: perdemos a utopia de uma cidade melhor, de um país melhor, de um mundo melhor, de sermos melhores e...
Isto está nos afastando de nós mesmo, de nossa ligação com a terra, com o infinito, com Deus.
Está nos tornando solitários, mesmo quando estamos no meio da multidão.
E é uma pena!
Nenhum comentário:
Postar um comentário