sábado, 26 de agosto de 2023

DE SALVADOR PARA MADRI

 

Soteropolitano de 22 anos integra acervo de museu internacional com obras em jornal baiano reciclado

José Mion é jornalista, assessor de imprensa, apaixonado por Gastronomia e escreve para o Alô Alô Bahia.

Nascido na periferia de Salvador, no bairro do Uruguai, o jovem Guilherme Almeida, de 22 anos, começou a se interessar pela arte ainda cedo, mas como hobby, desenhando ou lendo HQs. Apesar de ser uma realidade comum, infelizmente, para um jovem de origem humilde, não enxergar, desde pequeno, as artes como profissão ou área promissora, ele navegou contra a maré.

Como tantos outros soteropolitanos pretos cheios de talento, chegou onde muitos achavam que seria impossível. Começou por um curso de pintura no Museu de Arte Moderna da Bahia, quando entrou em um museu pela primeira vez, já no Ensino Médio, antes de cursar Artes Plásticas, na Universidade Federal da Bahia.
 
HyKuhgI.md.jpg
Atualmente representado pelas galerias Paulo Darzé, em Salvador; Base, em São Paulo; e RIBOT Gallery, em Milão, foi através delas que ele passou a integrar o acervo de um dos museus mais importantes do mundo, o Museo Reina Sofia, em Madrid, no início do mês, com três obras, primeira aquisição institucional internacional do artista.

Integrantes da série "Destruição de Mercados", as peças "Carolina Maria De Jesus" (2021), "Marielle Franco II" (2023) e "Elza Soares" (2021) são feitas, inclusive, à base de tinta acrílica em cima de páginas do jornal baiano Correio*, parceiro do Alô Alô Bahia. As obras retratam sobre as folhas do jornal "sorrisos" de personalidades negras, que as batizam. 
 
HyKuwJt.md.jpg
Em entrevista, em 2022, ao site da Arapuru, ele conta que começou a usar jornal e outros materiais durante o curso. "A faculdade pedia que usássemos tela, tintura a óleo, acrílica, aquela coisa bem eurocêntrica e eu comecei a me questionar, pois existem diversos outros materiais que podiam ser usados na arte", defendeu. 

"Nós, como estudantes, ainda mais vindos de periferia, não tínhamos dinheiro para ter todos os materiais que os professores pediam e diziam que eram os certos. Eu enxergo a arte de outra forma, não como o padrão de ser apresentada ou só de fazer dinheiro", seguiu o artista, que, desde a infância viu a família reciclar de jornal a garrafa pet para um espaço cultural, materiais que viravam itens dos mais variados, como brincos e móveis.
 
HyKuN5X.md.jpg
"Eu sempre soube que esses materiais serviam para muito mais do que para descarte", relembra.

Fotos: Reprodução/Redes Sociais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário