Bilbao, no norte da Espanha, que foi durante longo tempo uma cidade sem cor nem atrativo, no fim do século passado se viu projetada internacionalmente após a criação do Museu Guggenheim.
De gata borralheira,
a cidade, num estalar de dedos, se transformou em princesa encantada, atraindo
anualmente perto de um milhão de visitantes, quase tanto como o primogênito de
Nova-Iorque, e projetando para a estratosfera a autoestima dos moradores.
Sim. Um museu
pode mudar uma cidade, quanto mais um bairro. Se, dentro do perímetro do centro
antigo de Salvador, existe uma Cinderela, essa é com certeza a Ladeira da
Soledade. Que só é lembrada pelos governantes no 2 de julho. Basta uma olhada
rápida para observar, debaixo do esquecimento geral, a riqueza de boa parte de
seu casario, várias fachadas revestidas de azulejos portugueses do século XIX.
Azulejos também,
e magníficos, decoram salas de um dos mais prestigiosos palácios de Salvador
quando capital do Brasil: o Solar Bandeira, cujo esplendor ainda é lembrado no
Inventário do IPAC. O leitor já adivinhou: torno a falar do projeto de um Museu
Nacional do Azulejo, comparável ao de Lisboa, embora com algumas caraterísticas
divergentes, já que, somente a partir da Independência, o Brasil começou a
explorar uma arte antes reservada aos ofícios lusitanos.
Salvador
precisa deste museu, sendo indispensável a realização a nível internacional,
capaz de atrair, além de estudiosos, curiosos e especialistas, um turismo cultural
ávido de excelência, em contraponto aos rebanhos predadores dos cruzeiros
veranistas.
O Brasil é
detentor de riquíssimo patrimônio azulejar, bem maior até que Portugal, nem que
seja pelas suas dimensões continentais. Dos seiscentistas até Athos Bulcão e
Adriana Varejão, a Bahia pode ser pioneira na América Latina na valorização de
uma arte que nos vem das margens do Eufrates e, no novo mundo, está presente
desde os conventos de Puebla até o metrô de Buenos-Aires.
O Brasil
precisa resgatar este patrimônio. Temos joias como a capela de Nossa Senhora da
Pena que domina com muita nobreza o rio Paraguaçu. Seus azulejos seiscentistas
estão se deteriorando de forma assustadora. Assim como o vizinho convento de
São Francisco, cujas sucessivas restaurações são ciclicamente iniciadas e
abandonadas e os azulejos roubados.
Este museu
seria sem dúvida o maior incentivo para políticas regionais de reabilitação de
nossa azulejaria. Não custa um grande esforço de imaginação para prever a
metamorfose da Lapinha e da Ladeira da Soledade, agora parte do centro
histórico de Salvador, contribuindo para aquilo que deveria ser a maior
motivação de nossos políticos: elevar a qualidade de vida e a autoestima de
seus moradores.
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