sexta-feira, 18 de agosto de 2023

BAHIA É DESTAQUE...

 ... NO NOTICIÁRIO NACIONAL,

MAS NÃO PELA BELEZA.




Nas últimas semanas a Bahia foi destaque nos principais jornais e portais de notícias do país, mas não pelo que se supõe, que são suas belezas, seu povo alegre, trabalhador e festeiro, e sim pela letalidade de sua polícia. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2022 a polícia baiana vitimou 1.464 pessoas, algo que devia fazer corar o governo do estado, o partido à frente do executivo há 16 anos e seus eleitores que, como eu, votaram no PT para derrotar o fascismo.
Há anos que os movimentos sociais vêm denunciando a violência da polícia e a falência da política de segurança pública praticado pelos sucessivos governos, mas em vez de discutir o assunto, ouvindo os especialistas, entidades negras e de defesa dos direitos humanos, a postura dos governantes oscila entre o melindre e o silêncio, quando não, apresentam-se justificativas toscas, remissivas ao bolsonarismo.
Tenho idade e algum estudo para lembrar e saber que as políticas de extermínio praticadas pelos truculentos governos da transição à democracia são um triste legado da Ditadura, perpetuado nos anos seguintes. Contudo, não se pode esquecer que Rui Costa, governador em 2022 e atual ministro da Casa Civil, jamais se desculpou pela execução de 12 homens negros na Vila Moisés, episódio que produziu a infeliz comparação quando o governador citou que a polícia agia como “um artilheiro na frente do gol”.
O resultado desse desastre é que a Bahia tem hoje 11 das 20 cidades com maiores taxas de homicídio do país, com Jequié sendo a cidade brasileira com maior letalidade por 100 mil habitantes (88/100) e Salvador ocupando a triste segunda posição no ranking da violência nas capitais.
Cresci ouvindo falar que Rio e São Paulo eram violentos, mas o que acontece na Bahia é um atentado ao seu povo de maioria negra e larga tradição, alegria e beleza. É também um acinte ao Brasil, haja vista que a polícia baiana matou em 2022 mais do que todas as forças de segurança norte-americanas somadas, que vitimaram 1.201 pessoas.
No início da década de 1990, atuei, como concursado na Polícia Civil da Bahia, como perito técnico de polícia (na época perito auxiliar). Quando cursei a Acadepol, notei que o currículo continha atenção aos direitos humanos, uma necessidade num país que perpetuava um legado de violência política dos tempos da exceção. A formação dos policiais pautada na atenção aos direitos humanos não acontecia pelo fato de que o governo de plantão se preocupasse com o tema, mas porque a sociedade exigia uma polícia distinta daquela da existente na Ditadura.
Três décadas se passaram, não tenho ideia de como se dá a formação de policiais, mas o que quer que tenha acontecido, o resultado é péssimo. Há algo de muito errado na Bahia e o governo baiano precisa vir a púbico dar satisfação, pedir desculpas e se empenhar para mudar esse quadro.


Carlos Zacarias de Sena Júnior (Professor do Departamento de História da UFBA)

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