segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

UMA HISTÓRIA VIOLENTA

 anais do cangaço contemporâneo

UMA HISTÓRIA VIOLENTA

O ex-senador Eunício Oliveira queria comprar duas fazendas em Goiás. A família não queria vender. No fim, quatro foram presos. Dois morreram


Sob o título Ataque brutal, a edição da piauí de setembro publica uma reportagem de autoria de Allan de Abreu narrando uma saga de violência. A reportagem conta como o ex-senador e ex-ministro Eunício Lopes de Oliveira, cuja carreira parlamentar foi construída no Ceará, usou toda a sua influência e seu poder político e econômico para enfrentar uma família que se recusou a lhe vender duas fazendas, no interior de Goiás.

A história começou em 2009, quando Eunício comunicou a polícia de Corumbá de Goiás que sua fazenda Santa Mônica, um latifúndio na região central de Goiás, fora furtada. Segundo ele, um número indeterminado de cabeças de gado – estimado vagamente em alguns milhares – haviam sido roubados de sua propriedade. Com base na denúncia, a polícia passou a investigar três suspeitos, todos eles ligados a Tito Leite, que meses antes não aceitara a proposta de lhe vender suas duas fazendas que, juntas, somavam 323 hectares. Um suspeito, Álvaro Araújo, era genro de Tito. Os outros dois, os irmãos Adriano e Fernando Leite, eram filhos do fazendeiro.

Eunício acionou seus contatos. Recorreu à ajuda de um amigo e colega do Congresso, o então senador Marconi Perillo, do PSDB, que, por sua vez, acionaria o então governador Alcides Rodrigues, do PP, para que uma equipe especial de policiais fosse designada para o caso. Foi atendido. A disputa chegou às mãos do então juiz de Corumbá de Goiás, Levine Raja Gabaglia Artiaga. Em decisões sucessivas, Artiaga mandou prender os suspeitos, condenou-os pelo furto de 16 303 cabeças de gado (número que mudou diversas vezes durante o processo), sequestrou as duas fazendas, entregou a administração das terras ao ex-senador e ex-ministro e, por fim, decidiu que a família Leite devia pagar uma indenização de 13 milhões de reais ao ex-parlamentar. As milhares de cabeças de gado – supostamente roubadas de Eunício – nunca foram encontradas.

  

Nos treze anos que o caso durou, entre idas e vindas na Justiça, quatro foram presos, três foram condenados. Tito morreu aos 83 anos, vítima de um infarto. Seu filho caçula, Fernando, também morreu com um ataque cardíaco fulminante. Tinha 29 anos. “Perdemos tudo: nossas roupas, nossos imóveis, as fotos de nossa família, incluindo da minha falecida mãe”, diz a única filha de Tito, Marta. “Não pudemos recuperar nada. Nossa memória, nossa história de vida, acabou destruída pelos peões do Eunício.” Há um ano, o juiz Artiaga foi aposentado compulsoriamente por envolvimento com uma quadrilha que fraudava processos de paternidade e desviava milhões de reais em heranças. Os bens da família Leite estão bloqueados judicialmente até hoje. Eunício Oliveira é candidato a deputado federal pelo MDB do Ceará.

 

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