anais do cangaço contemporâneo
UMA HISTÓRIA VIOLENTA
O ex-senador Eunício Oliveira queria comprar duas
fazendas em Goiás. A família não queria vender. No fim, quatro foram presos.
Dois morreram
A história começou
em 2009, quando Eunício comunicou a polícia de Corumbá de Goiás que sua fazenda
Santa Mônica, um latifúndio na região central de Goiás, fora furtada. Segundo
ele, um número indeterminado de cabeças de gado – estimado vagamente em alguns
milhares – haviam sido roubados de sua propriedade. Com base na denúncia, a
polícia passou a investigar três suspeitos, todos eles ligados a Tito Leite,
que meses antes não aceitara a proposta de lhe vender suas duas fazendas que,
juntas, somavam 323 hectares. Um suspeito, Álvaro Araújo, era genro de Tito. Os
outros dois, os irmãos Adriano e Fernando Leite, eram filhos do fazendeiro.
Eunício acionou
seus contatos. Recorreu à ajuda de um amigo e colega do Congresso, o então
senador Marconi Perillo, do PSDB, que, por sua vez, acionaria o então
governador Alcides Rodrigues, do PP, para que uma equipe especial de policiais
fosse designada para o caso. Foi atendido. A disputa chegou às mãos do então
juiz de Corumbá de Goiás, Levine Raja Gabaglia Artiaga. Em decisões sucessivas,
Artiaga mandou prender os suspeitos, condenou-os pelo furto de 16 303 cabeças
de gado (número que mudou diversas vezes durante o processo), sequestrou as
duas fazendas, entregou a administração das terras ao ex-senador e ex-ministro
e, por fim, decidiu que a família Leite devia pagar uma indenização de 13
milhões de reais ao ex-parlamentar. As milhares de cabeças de gado –
supostamente roubadas de Eunício – nunca foram encontradas.
Nos treze anos que
o caso durou, entre idas e vindas na Justiça, quatro foram presos, três foram
condenados. Tito morreu aos 83 anos, vítima de um infarto. Seu filho caçula,
Fernando, também morreu com um ataque cardíaco fulminante. Tinha 29 anos.
“Perdemos tudo: nossas roupas, nossos imóveis, as fotos de nossa família,
incluindo da minha falecida mãe”, diz a única filha de Tito, Marta. “Não
pudemos recuperar nada. Nossa memória, nossa história de vida, acabou destruída
pelos peões do Eunício.” Há um ano, o juiz Artiaga foi aposentado
compulsoriamente por envolvimento com uma quadrilha que fraudava processos de
paternidade e desviava milhões de reais em heranças. Os bens da família Leite
estão bloqueados judicialmente até hoje. Eunício Oliveira é candidato a
deputado federal pelo MDB do Ceará.
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