Quando meu filho estava começando a erguer o corpo, a deixar de engatinhar para caminhar (a virar homo erectus), falou-se na família, que era imensa e cheia de mulheres, em levá-lo ao zoológico da cidade. As tias, irmãs da mãe dele (eram três, as tias, e havia ainda a mãe delas, e as filhas das tias etc. Só havia mulher na família; o patriarca havia falecido), decidiram que meu minúsculo filho precisava ver o elefante, famoso naquele zoológico, o zoológico do Distrito Federal. Uma das tias, a mais velha, gostava de contar uma história de elefante para ele, e jurava que seu ouvinte não só entendia como gostava bastante.
E lá estávamos no zoológico: eu, a mãe de meu filho e as três tias. A matriarca, uma senhora já bem velhinha, mas empertigada e vivíssima, não pode ir pois estava com uns achaques da “idade”. Meu filho, com aquela gordura da “idade”, aquela coisa meio baby beef, roliço e cheio de dobrinhas, muito branco e quase inteiramente careca, usava apenas uma camiseta branca de algodão, uma fralda descartável que lhe aumentava a bunda drasticamente, a ponto de dificultar o movimento das pernas gorduchas, e um par de alpercatas de couro, ou algum material imitando o couro.
Subitamente, e não sei com que força espiritual suicida, me impus em meio à cidade das mulheres e peguei em uma das mãos de meu filho, enquanto a mãe dele pegou a outra e, juntos, fomos andando, quase agachados para manter nossas mãos atadas, em direção à jaula do elefante. Estávamos próximos e o bramido era mais que audível: era quente. Era possível ouvir o som até do roçar das pernas grossas, ou das orelhas imensas caminhando de um lado a outro da prisão.
Ensaiamos deixar nosso filho andar sozinho, mais ou menos como se faz com a criança que está aprendendo a andar de bicicleta sem rodinhas: ele andou por dez segundos e de repente perdeu o equilíbrio, e logo tomamos suas mãos novamente.
E eis que o elefante, imenso e pesado, a um só tempo rente ao chão e batendo a cabeça no teto, nos chega pelas pernas vacilantes de nosso filho. Lá estava a fera, inquieta, e ainda maior por isso. E lá estava a criança de um ano e três meses, em pé, diante de um elefante inteiro.
Demorou um pouco até percebermos que nosso filho, em verdade, não estava diante do elefante, mas tão somente em pé, e cismado. Só tivemos certeza mesmo de que ele sequer percebera o animal enorme a sua frente quando se agachou, cambaleante, e pegou uma formiga escura que caminhava elétrica sobre o chão de concreto, cheio de plantinhas nascidas do pouco de areia entre os sedimentos, do zoológico. Ergueu o corpo recente, formiga à mão feito o King Kong com a Jéssica Lange, e deu as costas ao elefante, ainda olhando o inseto, intrigado com o tamanho do bicho.
E lá estávamos no zoológico: eu, a mãe de meu filho e as três tias. A matriarca, uma senhora já bem velhinha, mas empertigada e vivíssima, não pode ir pois estava com uns achaques da “idade”. Meu filho, com aquela gordura da “idade”, aquela coisa meio baby beef, roliço e cheio de dobrinhas, muito branco e quase inteiramente careca, usava apenas uma camiseta branca de algodão, uma fralda descartável que lhe aumentava a bunda drasticamente, a ponto de dificultar o movimento das pernas gorduchas, e um par de alpercatas de couro, ou algum material imitando o couro.
Subitamente, e não sei com que força espiritual suicida, me impus em meio à cidade das mulheres e peguei em uma das mãos de meu filho, enquanto a mãe dele pegou a outra e, juntos, fomos andando, quase agachados para manter nossas mãos atadas, em direção à jaula do elefante. Estávamos próximos e o bramido era mais que audível: era quente. Era possível ouvir o som até do roçar das pernas grossas, ou das orelhas imensas caminhando de um lado a outro da prisão.
Ensaiamos deixar nosso filho andar sozinho, mais ou menos como se faz com a criança que está aprendendo a andar de bicicleta sem rodinhas: ele andou por dez segundos e de repente perdeu o equilíbrio, e logo tomamos suas mãos novamente.
E eis que o elefante, imenso e pesado, a um só tempo rente ao chão e batendo a cabeça no teto, nos chega pelas pernas vacilantes de nosso filho. Lá estava a fera, inquieta, e ainda maior por isso. E lá estava a criança de um ano e três meses, em pé, diante de um elefante inteiro.
Demorou um pouco até percebermos que nosso filho, em verdade, não estava diante do elefante, mas tão somente em pé, e cismado. Só tivemos certeza mesmo de que ele sequer percebera o animal enorme a sua frente quando se agachou, cambaleante, e pegou uma formiga escura que caminhava elétrica sobre o chão de concreto, cheio de plantinhas nascidas do pouco de areia entre os sedimentos, do zoológico. Ergueu o corpo recente, formiga à mão feito o King Kong com a Jéssica Lange, e deu as costas ao elefante, ainda olhando o inseto, intrigado com o tamanho do bicho.
HENRIQUE WAGNER
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